|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cronometragem responde à pergunta que há mais de uma década intriga telespectadores
Quem fala mais?
IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não. Jô Soares não fala mais que
seus convidados. Ao contrário do
que se costuma dizer desde que
estreou seu "talk show" diário, em
setembro de 1988, ele fala menos
-ainda que só um pouquinho
menos.
O placar indica: Jô discorre por
44,4% do tempo de suas entrevistas. Seu convidados comparecem
com 55,6%. A cronometragem, feita pela Folha entre 2 e 5 de abril, semana de reestréia do "Programa do
Jô" na Globo, não contabilizou a
abertura, as piadas no início de
cada bloco nem os musicais.
Comparado a seus colegas de
"talk shows" diários, Jô fala bem
mais. Marília Gabriela (Rede TV!,
23h) monopoliza 28% das conversas e o norte-americano David
Letterman (GNT, 22h), 28,2%. A
cronometragem dos programas
de Marília e de Letterman foi feita
nos mesmos quatro dias que a de
Jô Soares.
"Acho uma boa média. Nada de
assustador. Mesmo porque, às vezes, tenho coisas a dizer sobre o
assunto", diz Jô. O apresentador
também lembra que seu programa tem um perfil de entretenimento, não sendo propriamente
jornalístico. "Um dos intuitos é
divulgar, outro é entreter", explica o artista, que atuou em humorísticos por 17 anos na Globo, antes de comandar entrevistas no
SBT.
Com todas as críticas que se
possa fazer, o "Programa do Jô" é
um campeão de audiência. Na semana de reestréia, em seu terceiro
ano na Rede Globo, o programa
deu uma média de 11 pontos. No
dia da reestréia, ao vivo, começando após a 1h e se estendendo
até perto das 3h, Jô conseguiu a
média de 12 pontos de audiência
(um ponto de audiência equivale
a cerca de 47 mil domicílios da
Grande SP com a TV ligada).
Quanto ao chamado "share",
um índice que mede a audiência
apenas entre as TVs que estão ligadas naquele momento, Jô conseguiu média semanal de 49%. Na
terça-feira, alcançou 68%.
Reestréia verborrágica
Analisando os tempos das entrevistas de Jô Soares, percebe-se
que há dias em que o anfitrião está
bem mais verborrágico do que
em outros. Isso acontece bem menos tanto com Marília Gabriela
quanto com David Letterman,
que mantêm suas porcentagens
mais uniformes. Pegue-se o
exemplo de terça, por exemplo,
quando o programa reestreava.
Nesse dia, Jô realmente falou
mais que seus entrevistados. Durante os 61 minutos e 53 segundos
que duraram as três entrevistas,
Jô dominou 56,9% do tempo,
contra 43,1% dos convidados.
O etimólogo Gabriel Perissé, 40,
foi quem menos falou no dia -e
na semana. Sua contribuição para
a entrevista de 23 minutos e 25 segundos foi de apenas 35,8%.
"Não fiquei chateado nem nada,
mas deu um gostinho de quero
mais. Jô foi muito elegante. Ele estava preparado para a entrevista e
falou de palavras que eu não conhecia etimologicamente", diz o
estudioso, que lançou um livro no
prazo recorde de uma semana, ao
saber que iria aparecer no programa.
"Me deixa falar"
No extremo oposto da terça-feira está a quinta, quando Jô falou
tão pouco (32,2%) que teve uma
média próxima a de seus colegas
Marília Gabriela e David Letterman. Nesse dia, o mais falador foi
o jornalista Hélio Bloch, 76, que
monopolizou 81,8% do papo.
"Falei bastante mesmo. Senti
um interesse e respeito da parte
dele e tive um ótimo retorno após
a entrevista", diz Bloch.
Outro falador, que dominou
60,3% de sua entrevista, foi o cientista Cleófas Uchoa, 66, na sexta-feira. Uchoa acabou protagonizando um momento curioso. Discorria sobre genética quando Jô o
interrompeu. Uchoa virou-se para a platéia e soltou: "Ele vai falar
dez dias seguidos aqui". "Não, eu
só queria encaixar uma pergunta,
não queria falar nada", respondeu
Jô. O cientista diz que não ficou irritado na hora. "Falei em tom de
brincadeira", diz Uchoa.
Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: "Não falo mais que os entrevistados", diz Jô Soares Índice
|