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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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CRÍTICA

A "síndrome de Brad Pitt"

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Muitos homens sofrem da "síndrome de Brad Pitt". Essa é aquela que faz com que mesmo os barrigudos se achem irresistivelmente lindos. E, o que é pior, com o direito de chamar qualquer garota bacaninha que não seja uma Gisele Bündchen de feia. Harry Chess, o personagem do inglês Mark Barrowcliffe, é um dos melhores exemplos para essa "síndrome".
"A Namorada Nš 44 de Harry Chess" é tão machista, tão cruel, que chega a ser uma crítica -muito inteligente e sarcástica- aos tipinhos que ainda existem por aí.
A primeira página do livro, uma carta de fim de namoro, é o exemplo máximo e mais radical desse comportamento. "Decidi lhe dizer porque devemos nos separar. Você não é perfeita. Não quero ser indelicado, portanto, deixe-me dizer que os seus defeitos são principalmente físicos... Se você fosse perfeita, deveria medir entre 1,67 m e 1,69 m." E ele continua a enumerar as qualidades da namorada ideal. E acaba por concluir que ser inteligente e sensível não é o suficiente para que alguém seja alvo de uma paixão devotada.
Vale tudo nesse mundo atrás da perfeição. Dane-se que o seu amigo morreu! O que importa é que a sua namorada perfeita agora está livre. Perder um outro amigo para conquistar a garota dos sonhos? Normal! Nada mais importa. Quem precisa ter ética quando o objetivo a ser alcançado é a perfeição suprema?
Harry Chess é um londrino meio "loser", que divide um apartamento com um amigo mais "loser" ainda. São os típicos caras de 30 e poucos, filhos dos anos 70, perdidos e preocupados em parecer cool. Mas com uma fragilidade que chega a ser cativante: "Devo dizer que o homossexualismo é uma idéia interessante, já que entendo mais os homens que as mulheres", diz Chess a certa altura. "Mas seria uma responsabilidade pesada demais", completa.
Assim como os personagens de Nick Hornby (contemporâneo e conterrâneo de Barrowcliffe), eles têm algo de cativante e de irritante ao mesmo tempo. Mas, se você relaxar, conclui que o livro é ótimo. E que, na guerra moderna dos sexos, os homens têm saído ganhando-pelo menos na literatura. Barrowcliffe e Hornby são muito mais sarcásticos do que as Helens Fieldings e Tashas Haris da vida...


A Namorada Nš 44 de Harry Chess   
Autor: Mark Barrowcliffe
Editora: Record
Quanto: R$ 42 (476 págs.)



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