São Paulo, domingo, 15 de abril de 2007

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"Química" dos casais preocupa autor de novela

Globo não testou sintonia de casal de "Paraíso" antes da estréia; já Record fez a prova com par de "Vidas Opostas"

Gilberto Braga elogia Fábio Assunção e Alessandra Negrini, mas admite que os "ótimos" Marcos Palmeira e Malu Mader não deram liga

DA REPORTAGEM LOCAL

Gilberto Braga, autor de "Paraíso Tropical", acha que os protagonistas da novela, Fábio Assunção e Alessandra Negrini, têm, sim, a tal da "química".
O novelista não vê "como explicar racionalmente" esse fenômeno, que, acredita ele, tem a ver tanto com os atores quanto com os personagens.
Segundo Braga, essa é uma das grandes preocupações dos autores ao pensar nos papéis e escalar o elenco. "Claro que pensamos muito nisso", diz.
O autor conta que nunca fez testes com os atores para avaliar antecipadamente a química. "No meu caso, vamos na intuição". E ela falhou, ele admite, em "Celebridade", sua novela anterior. "Um casal que não tinha química era Maria Clara [Malu Mader] e Fernando [Marcos Palmeira]. Ótimos atores, ótimos personagens, e não houve química. Isso mostra que não há como definir a química", pondera.
Mas há como disfarçar a ausência dela, de acordo com a atriz Bruna Lombardi. "Existem atores que têm o "métier" tão apurado que conseguem driblar a falta de química."
Mas quando a química rola, "ajuda muito", conta Bruna. Aconteceu com ela, na novela "Aritana" (Tupi, 1978). "Quando conheci o Ri [o ator Carlos Alberto Riccelli, seu marido], a química foi muito produtiva."
A atriz diz que "a química altamente produtiva é aquela em que o cara [diretor] fala "corta", e o casal continua se beijando. É até um excesso. Não é necessário, mas pinta uma coisa."
Ricardo Linhares, também autor de "Paraíso Tropical", conta que a pesquisa com os grupos de telespectadores feita pela Globo apontou que não há críticas ao casal principal. "Alessandra e Fábio têm excelente química", afirma.
O espectador mostrou também ter curiosidade para saber como seria a relação entre Daniel e Taís, irmã gêmea de Paula. Será que a química entre Assunção e Negrini-má dá mais faísca do que a entre Assunção e Negrini-boa? O "triângulo de dois" foi antecipado para alavancar a audiência e deve ter início ainda nesta semana.

Prova de química
Linhares diz que autores e diretores pensam nisso antes de escalar elenco, mas "novela não é uma ciência exata". "Um casal pode ter química num trabalho e não ter em outro. Depende dos personagens e da história."
De acordo com Linhares, na TV brasileira não há tradição em testes para avaliar a química dos mocinhos e mocinhas.
"Isso poderia ser visto como prova de talento, tanto por parte dos artistas como da imprensa. Se saísse em uma revista que fulana não teve química com sicrano, eles correriam o risco de ter sua capacidade posta em dúvida. No entanto, esse processo nada tem a ver com carisma ou experiência."
Já Marcílio Moraes, ex-Globo e autor de "Vidas Opostas", novela da Record que tem registrado ibope surpreendente, conta ter realizado "prova de química" para definir os atores que fariam o casal central.
Apesar da presença de veteranos e ex-globais no elenco, os papéis principais ficaram com os iniciantes Léo Rosa e Maytê Piragibe. "No teste, de imediato, eu e os diretores percebemos que eles tinham "química". Estávamos certos", afirma.
Para ele, "é muito difícil, se não impossível, explicar o que é "química'". "Tem a ver com os mistérios do amor. Por que uma pessoa nos atrai e outra não? Está além da nossa vontade e da nossa compreensão."
Manoel Carlos concorda. "Esse negócio de química é complicado porque, na maioria das vezes, só se descobre a ausência dela com a novela no ar. Quem entende disso é o público, e não adianta contrariá-lo, dando a atores e atrizes papéis inadequados a seus perfis."
Apesar das críticas ao casal formado por Sônia Braga e Edson Celulari em "Páginas da Vida", trama de sua autoria que saiu do ar no mês passado, ele disse: "Entre as minhas novelas, não me lembro de nenhum caso notório de rejeição a um casal por falta de química, mas posso estar esquecido".

Vida real
J.B. de Oliveira, o Boninho, também tem de se preocupar com a formação de casais ao escalar um elenco para o "Big Brother Brasil", cuja edição tem um quê de novela. "Não é possível antecipar se haverá casais e quais serão, mas procuramos geralmente por solteiros e aí é questão de tempo. Bonitos, alegres, soltos e carentes. Alguém fica com alguém", disse o diretor do "reality show".
Para ele, "antes de mais nada, química é fundamental, e o telespectador é muito crítico quanto a isso". "Casal sem sal não cola. Na novela, depende fundamentalmente da escalação para parecer real e emocionar. Já no "BBB", tem que ter algo real para não parecer armação entre os participantes."
De todas as sete edições, o casal com mais química, em sua opinião, é Alemão e Siri, do "BBB 7". "Já os que não convenceram: Tarciana e Jeferson pagodeiro ["BBB 2'], Rogério e Solange "Iuarnuou" ["BBB 4']. Esses foram péssimos."
(LAURA MATTOS E SILVANA ARANTES)


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