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Autor americano põe crueldade em primeiro plano
Conhecido por seus personagens vis, Neil LaBute volta a ser encenado em SP, em peça com direção de Guilherme Leme
Em "A Forma das Coisas" autor levanta discussão sobre os caminhos da arte contemporânea por meio da figura de uma estudante
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma pichadora, empunhando uma latinha de spray, dentro
de um museu. Embora fragilizada pela iminência de um lugar comum, a cena inicial de "A
Forma das Coisas", que estreia
hoje no Espaço Parlapatões,
por si só carrega alguma tensão
dramática. Especialmente se o
espectador já conhece a galeria
de personagens vis do autor da
peça, o americano Neil LaBute.
Alguns deles "nem são tão
maus assim", defende o próprio
autor, em entrevista à Folha,
de Los Angeles, por telefone.
"Mas, sim, concordo, eu retrato
no meu trabalho uma espécie
de "dark side" do ser humano."
Em um dos três monólogos
da peça "Baque", por exemplo,
um homem deixa a filha recém-nascida morrer por asfixia, pensando em se livrar de
um pesar financeiro. No texto
de "Na Companhia de Homens", que foi também levado
ao cinema, mais vilania: dois
executivos combinam seduzir
uma deficiente auditiva, num
jogo para arrasar com a autoestima da moça.
"A maior marca de LaBute é
lidar com a crueldade humana.
É a ideia de que existe um limite tênue entre a civilidade e a
barbárie", afirma Monique
Gardenberg, a primeira diretora a encenar o autor no país.
Sua versão para "Baque", que
estreou em 2005, deu a largada
para uma espécie de encantamento.
No ano passado, Marcio Aurélio dirigiu Antonio Fagundes
em "Restos", e agora o argentino Daniel Veronese veio com
"Gorda" -em cartaz no Procópio Ferreira. Também o ator
Marco Antônio Pâmio pretende montar um texto do autor.
Vilões contemporâneos
O próprio LaBute reconhece,
a maldade em cena funciona
também como artifício para pegar o espectador de jeito. "Não
deixo nunca a chance de fazer
entretenimento", diz. Elementos-surpresa também são cartas sempre à mão, como num
jogo tensionado pela possibilidade de um blefe do autor.
Em "A Forma das Coisas", no
entanto, a história corre por
veias menos traiçoeiras. As discussões que o texto traz sobre
os caminhos da arte contemporânea é o que fisgou o diretor da
peça, Guilherme Leme, um entusiasta das artes plásticas, praticante inclusive. A pichadora
da cena inicial é, na verdade,
uma estudante comprometida
com um projeto universitário.
Precisa fazer "algo que mude o
mundo". Nem que para isso
passe por cima de alguém.
O jogo dramático tem mais
três personagens, que são amigos, ao menos até certo ponto
da história. A peça monta suas
cenas por meio de uma estrutura que, para Leme, traz o pensamento de um artista habituado
ao mundo do cinema.
Neil LaBute já dirigiu, na telona, várias peças. "A Forma
das Coisas" é uma delas. Ganhou versão com Gretchen Mol
e Paul Rudd, em 2003. Para Leme, a fragmentação da história
em várias cenas é um dos resultado desse olhar de cineasta. O
texto prevê dez "locações" diferentes, o que no palco exige certa engenhosidade.
A solução foi projetar um cenário abstrato e, portanto, flexível. Totens de madeira, pintados de brancos, são manipulados pelos intérpretes, de forma
a remeter ao ambiente de um
museu ou de uma sala de estar.
A FORMA DAS COISAS
Onde: Espaço Parlapatões (pça. Roosevelt, 158, tel. 0/xx/11/3258-4449)
Quando: quintas, às 21h; sextas, às 21h30; até 21/5
Quanto: R$ 30
Classificação: 14 anos
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