São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2010

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Autor americano põe crueldade em primeiro plano

Conhecido por seus personagens vis, Neil LaBute volta a ser encenado em SP, em peça com direção de Guilherme Leme

Em "A Forma das Coisas" autor levanta discussão sobre os caminhos da arte contemporânea por meio da figura de uma estudante

GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma pichadora, empunhando uma latinha de spray, dentro de um museu. Embora fragilizada pela iminência de um lugar comum, a cena inicial de "A Forma das Coisas", que estreia hoje no Espaço Parlapatões, por si só carrega alguma tensão dramática. Especialmente se o espectador já conhece a galeria de personagens vis do autor da peça, o americano Neil LaBute.
Alguns deles "nem são tão maus assim", defende o próprio autor, em entrevista à Folha, de Los Angeles, por telefone.
"Mas, sim, concordo, eu retrato no meu trabalho uma espécie de "dark side" do ser humano."
Em um dos três monólogos da peça "Baque", por exemplo, um homem deixa a filha recém-nascida morrer por asfixia, pensando em se livrar de um pesar financeiro. No texto de "Na Companhia de Homens", que foi também levado ao cinema, mais vilania: dois executivos combinam seduzir uma deficiente auditiva, num jogo para arrasar com a autoestima da moça.
"A maior marca de LaBute é lidar com a crueldade humana.
É a ideia de que existe um limite tênue entre a civilidade e a barbárie", afirma Monique Gardenberg, a primeira diretora a encenar o autor no país. Sua versão para "Baque", que estreou em 2005, deu a largada para uma espécie de encantamento.
No ano passado, Marcio Aurélio dirigiu Antonio Fagundes em "Restos", e agora o argentino Daniel Veronese veio com "Gorda" -em cartaz no Procópio Ferreira. Também o ator Marco Antônio Pâmio pretende montar um texto do autor.

Vilões contemporâneos
O próprio LaBute reconhece, a maldade em cena funciona também como artifício para pegar o espectador de jeito. "Não deixo nunca a chance de fazer entretenimento", diz. Elementos-surpresa também são cartas sempre à mão, como num jogo tensionado pela possibilidade de um blefe do autor.
Em "A Forma das Coisas", no entanto, a história corre por veias menos traiçoeiras. As discussões que o texto traz sobre os caminhos da arte contemporânea é o que fisgou o diretor da peça, Guilherme Leme, um entusiasta das artes plásticas, praticante inclusive. A pichadora da cena inicial é, na verdade, uma estudante comprometida com um projeto universitário.
Precisa fazer "algo que mude o mundo". Nem que para isso passe por cima de alguém.
O jogo dramático tem mais três personagens, que são amigos, ao menos até certo ponto da história. A peça monta suas cenas por meio de uma estrutura que, para Leme, traz o pensamento de um artista habituado ao mundo do cinema.
Neil LaBute já dirigiu, na telona, várias peças. "A Forma das Coisas" é uma delas. Ganhou versão com Gretchen Mol e Paul Rudd, em 2003. Para Leme, a fragmentação da história em várias cenas é um dos resultado desse olhar de cineasta. O texto prevê dez "locações" diferentes, o que no palco exige certa engenhosidade. A solução foi projetar um cenário abstrato e, portanto, flexível. Totens de madeira, pintados de brancos, são manipulados pelos intérpretes, de forma a remeter ao ambiente de um museu ou de uma sala de estar.


A FORMA DAS COISAS

Onde: Espaço Parlapatões (pça. Roosevelt, 158, tel. 0/xx/11/3258-4449)
Quando: quintas, às 21h; sextas, às 21h30; até 21/5
Quanto: R$ 30
Classificação: 14 anos



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