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MÚSICA
A cantora norte-americana volta feminista em "Sisters of Avalon"; canção título é "um rito de passagem"
'Quero dar poder às mulheres', diz Lauper
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
Cindy Lauper tem um gato preto.
Sua parceira só usa roupas negras e
colocou no filho o nome Merlin.
Seu último disco, "Sisters of Avalon", foi gravado num bosque,
"sob a energia das árvores". Mas
ela jura que é tudo uma grande
coincidência.
"Eu não pensei em Avalon, em
rei Arthur, não sou inglesa (risos).
Venho de New York, de uma família de italianos", afirmou à Folha,
por telefone, de seu apartamento
em Manhattan.
A cantora, que teve o auge na
new wave dos anos 80 -vide o hit
"Girls Just Want to Have Fun"-,
agora abre os shows de outra veterana, Tina Turner, nos EUA.
Feminista declarada, Lauper se
alterna na convicção de que é herdeira das bruxas medievais, queimadas apenas por exercerem sua
liderança, e na negação a todo custo de fazer música engajada.
"Quero só que as pessoas ouçam
meu disco", diz, enquanto tenta
afastar Nick, o gato preto, de seu
almoço. A seguir, trechos da entrevista.
Folha - Qual a diferença de "Sisters of Avalon" para seus outros
trabalhos?
Cindy Lauper - Esse é meu trabalho mais coeso. Eu compus com
apenas mais uma pessoa da minha
banda ou então sozinha, não soa
como vários pedaços desconectados. O germe da idéia veio do trabalho em "Hat Full of Stars".
Folha - Você traz influências de
várias partes do mundo para esse
trabalho. Como o define?
Lauper - Minha partner é uma
tecladista e nós sempre usamos
elementos eletrônicos, especialmente sons sintetizados. Mas, como trabalhamos como um time,
eu gosto de adicionar coisas acústicas, como violinos, a caixa de
música do Tennessee, acordeão
etc., porque, para mim, isso traz
cor para o trabalho.
Folha - Você é uma feminista?
Lauper - Absolutamente. A
única maneira de mudar as coisas
é mudá-las no seu próprio mundo.
Direitos femininos são muito importantes para mim. Mas são anos
e anos de preconceito.
Folha - Qual é a importância de
colocar essas posições no seu trabalho?
Lauper - O que eu realmente
quero falar é sobre as pessoas e a
vida real que eu vejo. Quero escrever canções que dêem poder para
as mulheres, como "Sisters of
Avalon". É uma canção que é um
rito de passagem para as mulheres.
Folha - Como chegou a esse nome para o disco?
Lauper - Jane tem um filho chamado Merlin, e ela se veste de preto o tempo todo, e o marido dela
comprou este livro "21 Rules of
Merlin" e no livro havia as "Sisters
of Avalon", mulheres que se vestem de preto e eram as curandeiras, líderes naturais. Ela estava me
contando isso e Jane usa preto o
tempo todo e nós começamos a rir
e eu pensei: "Sisters of Avalon",
esse é um grande nome. Meu agente também gostou.
Folha - Mas, pessoalmente, você
é ligada nessa mitologia?
Lauper - Nesse momento, eu
estava lendo "The Mist of Avalon". Mas a canção não tem nada a
ver com o livro.
Folha - Vocês gravaram num bosque, foi intencional?
Lauper - Nós gravamos na floresta, a energia vinha daí, mas não
foi intencional, foi no espírito da
música.
Folha - Foi uma coincidência?
Lauper - Sim, foi uma coincidência. Mas eu gosto do bosque.
Sabe, essas mulheres eram, na Idade Média, quando a Igreja Católica
dominava a Inglaterra muitas mulheres foram queimadas, como se
elas fossem bruxas, mas essas mulheres eram normalmente as que
tinham outra religião lá. Elas eram
as líderes espirituais e as curandeiras.
Folha - Você se considera diretamente ligada a isso?
Lauper - Sim, com certeza. Esse
é o único período em que as mulheres tinham poder na sociedade.
É uma sociedade onde homens e
mulheres viviam juntos. E isso foi
tirado de nós. Não nos conhecemos, não conhecemos nossa herança. Não sabemos quem somos.
Disco: Sisters of Avalon
Artista: Cindy Lauper
Lançamento: Sony
Preço: R$ 18 (o CD, em média)
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