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Fase espiritual do R.E.M. é bonita e só
Duas canções do novo CD, "Reveal", que está sendo lançado, foram tocadas no Rock in Rio 3, em janeiro
DA REPORTAGEM LOCAL
O R.E.M. é talvez a maior
(prestígio, vendas, shows lotados) banda de rock em atividade hoje, daquelas que agradam
muito ao público mainstream e
ao mesmo tempo conseguem arrancar suspiros (ainda) do consumidor de música independente.
Mas a banda de Michael Stipe,
como mostra este bonito "Reveal", já não é mais a mesma que
um dia anunciou o final do mundo, dizendo que se sentia bem
mesmo assim.
Isso desde "New Adventures in
Hi-Fi" (1996) e "Up" (1998),
quando a banda parece ter percebido que o mundo não acabou e
sua música tinha de continuar, de
qualquer forma.
O adjetivo "bonito" para uma
banda com os serviços prestados
ao rock como tem o R.E.M., neste
caso, soa mais incômodo do que
elogioso.
"Reveal" é bonito porque tem
canções bonitas. O disco começa
muito bem, com canções... bonitas. "The Lifting", que abre o CD,
é a melhor do álbum, conciliando
o inigualável talento de Michael
Stipe em cantar músicas que embalam pensamentos.
Mas o clima já é outro desde que
a banda soltou o nervoso "Monster", em 1994, voz rasgada, guitarra no talo.
O R.E.M. hoje, pelo que dá para
constatar na primeira audição de
"Reveal", está cada vez mais sereno, maduro, "espiritual" como
declarou Stipe na época do Rock
in Rio 3, quando anunciou como
soaria o novo disco.
Se o som não está tão despirocado, portanto inovador, como o da
banda inglesa Radiohead, pelo
menos entrega que Stipe está em
um nível parecido de "ascensão".
Nomes como "The Lifting",
"I've Been High", "Saturn Return" e o próprio "Reveal" revelam a fase espiritual do grupo, ou
de seu vocalista.
Isso tudo (banda madura, canções bonitas, fase espiritual) traduzindo em som faz o álbum
acompanhar os dois discos antecessores e ser recheado de baladas
formosas.
Mas talvez seja pouco para os
apreciadores da banda, que sempre tiveram mais que isso desde o
primeiro disco lá de 1982. E que
precisam atravessar o mantra de
Stipe até a faixa oito para encontrar o velho R.E.M. em "Imitation
of Life", não à toa o single escolhido para tocar nas rádios e "vender" o álbum.
"Reveal" é o segundo disco do
grupo da Geórgia como um trio,
desde a saída de seu baterista original, Bill Berry, que largou o grupo para viver sua própria fase espiritual, criando gado no interior
da América.
O CD é algo próximo aos brasileiros, uma vez que no Rock in
Rio 3 foi mostrado em première
mundial as canções "The Lifting"
e "She Just Wants to Be". Até mesmo o nome "Reveal" nasceu de
uma inspiração de Stipe pelas "vibrações positivas" que o músico
sentiu caminhando pelas ruas do
Rio de Janeiro.
Se você anda atrás de um disco
"bonito", atmosférico, este "Reveal" é bom para embalar horas
de desassossego.
Mas, dentro de um contexto
amplo, ele mostra que hoje, para o
bem ou para o mal, o R.E.M. é
uma banda mais talhada para um
Free Jazz do que para um Rock in
Rio.
(LÚCIO RIBEIRO)
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