São Paulo, terça-feira, 15 de maio de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fase espiritual do R.E.M. é bonita e só

Duas canções do novo CD, "Reveal", que está sendo lançado, foram tocadas no Rock in Rio 3, em janeiro

DA REPORTAGEM LOCAL

O R.E.M. é talvez a maior (prestígio, vendas, shows lotados) banda de rock em atividade hoje, daquelas que agradam muito ao público mainstream e ao mesmo tempo conseguem arrancar suspiros (ainda) do consumidor de música independente.
Mas a banda de Michael Stipe, como mostra este bonito "Reveal", já não é mais a mesma que um dia anunciou o final do mundo, dizendo que se sentia bem mesmo assim.
Isso desde "New Adventures in Hi-Fi" (1996) e "Up" (1998), quando a banda parece ter percebido que o mundo não acabou e sua música tinha de continuar, de qualquer forma.
O adjetivo "bonito" para uma banda com os serviços prestados ao rock como tem o R.E.M., neste caso, soa mais incômodo do que elogioso.
"Reveal" é bonito porque tem canções bonitas. O disco começa muito bem, com canções... bonitas. "The Lifting", que abre o CD, é a melhor do álbum, conciliando o inigualável talento de Michael Stipe em cantar músicas que embalam pensamentos.
Mas o clima já é outro desde que a banda soltou o nervoso "Monster", em 1994, voz rasgada, guitarra no talo.
O R.E.M. hoje, pelo que dá para constatar na primeira audição de "Reveal", está cada vez mais sereno, maduro, "espiritual" como declarou Stipe na época do Rock in Rio 3, quando anunciou como soaria o novo disco.
Se o som não está tão despirocado, portanto inovador, como o da banda inglesa Radiohead, pelo menos entrega que Stipe está em um nível parecido de "ascensão".
Nomes como "The Lifting", "I've Been High", "Saturn Return" e o próprio "Reveal" revelam a fase espiritual do grupo, ou de seu vocalista.
Isso tudo (banda madura, canções bonitas, fase espiritual) traduzindo em som faz o álbum acompanhar os dois discos antecessores e ser recheado de baladas formosas.
Mas talvez seja pouco para os apreciadores da banda, que sempre tiveram mais que isso desde o primeiro disco lá de 1982. E que precisam atravessar o mantra de Stipe até a faixa oito para encontrar o velho R.E.M. em "Imitation of Life", não à toa o single escolhido para tocar nas rádios e "vender" o álbum.
"Reveal" é o segundo disco do grupo da Geórgia como um trio, desde a saída de seu baterista original, Bill Berry, que largou o grupo para viver sua própria fase espiritual, criando gado no interior da América.
O CD é algo próximo aos brasileiros, uma vez que no Rock in Rio 3 foi mostrado em première mundial as canções "The Lifting" e "She Just Wants to Be". Até mesmo o nome "Reveal" nasceu de uma inspiração de Stipe pelas "vibrações positivas" que o músico sentiu caminhando pelas ruas do Rio de Janeiro.
Se você anda atrás de um disco "bonito", atmosférico, este "Reveal" é bom para embalar horas de desassossego.
Mas, dentro de um contexto amplo, ele mostra que hoje, para o bem ou para o mal, o R.E.M. é uma banda mais talhada para um Free Jazz do que para um Rock in Rio.
(LÚCIO RIBEIRO)


Avaliação:    



Texto Anterior: Radiohead
Próximo Texto: Exclusivo: R.E.M. comenta o disco
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.