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POLÍTICA CULTURAL
Em discurso realizado ontem, ministro da Cultura defendeu a quintuplicação dos recursos da pasta
Polêmica é "tempestade em copo d'água", diz Gil
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Gilberto Gil (Cultura) fez ontem um discurso na Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados em que defendeu a quintuplicação dos recursos da pasta, a revisão da legislação de incentivos
fiscais para o setor e o controle
por parte do ministério do patrocínio das estatais às atividades
culturais.
Durante 45 minutos de fala, preparada com antecedência, o ministro argumentou que o ministério dispõe de verbas apenas para o
custeio e manutenção, o que teria
levado o Estado a "abdicar", nos
últimos anos, da elaboração da
política cultural do Brasil, que estaria delegada "aos departamentos de comunicação e marketing
das empresas, pela via dos incentivos fiscais".
"O ministério se demitiu de sua
missão", afirmou, argumentando
que é necessário, no mínimo, que
a pasta disponha de pelo menos
1% do orçamento da União, ou
cerca de R$ 1 bilhão. Hoje tem R$
173,4 milhões.
"Com apenas 0,2% do orçamento federal, o ministério praticamente não dispõe de recursos para a implementação de suas políticas, situação agravada, presentemente, com o contingenciamento de mais de 51% dos seus
recursos orçamentários", afirmou no discurso.
Gil citou como consequência da
inoperância do ministério, nos últimos anos, a precariedade do patrimônio histórico nacional, dos
museus e a ausência de uma ação
nacional de "inclusão cultural".
"A cultura se impõe, desde logo,
no âmbito dos deveres estatais. É
um espaço onde o Estado deve intervir, não segundo a velha cartilha estatizante, mas distante do modelo neoliberal, que faliu".
Para tentar implementar esse
modelo, o ministro, além do aumento da verba, quer o controle
pelo ministério da aplicação da
verba de patrocínio cultural das
estatais e a definição de "critérios
e prioridades" na orientação da
aplicação desses recursos.
Há algumas semanas, as verbas
das estatais estão no centro de
uma polêmica sobre a exigência
de "contrapartida social" dos projetos que se beneficiam do dinheiro existente.
Eletrobrás e Furnas anunciaram
novos critérios para incentivos,
entre eles a "contrapartida social", que poderia resultar em ingressos gratuitos, geração de empregos e vinculação a projetos sociais, atitude que foi classificada por setores envolvidos como "dirigismo cultural".
A proposta, que era defendida
pela Secretaria de Comunicação
de Governo, do ministro Luiz
Gushiken, acabou caindo. Gil,
que se posicionou de forma contrária à intenção exposta pelas estatais, disse ontem que a história
não passou de uma "tempestade
em copo d'água".
"Eu e o ministro Gushiken somos aliados, companheiros, militantes de um governo que quer que o Brasil dê certo. Não vamos
deixar nunca de debater, pessoal e
publicamente, eventuais divergências", afirmou.
Como forma de atender também a movimentos que cobram
uma maior repartição dos recursos estatais, o ministro fez várias
referências, em seu discurso, à necessidade de que os investimentos
não fiquem concentrados nas
mãos de poucos.
O ministro pregou ainda, na comissão, a revisão da legislação de
incentivos fiscais para a cultura
-reunidos nas leis Rouanet e do
Audiovisual-, que, segundo ele,
"acumularam distorções de toda
ordem, entre elas a ausência de
contrapartida financeira do parceiro privado, concentração regional de benefícios e aberrações
fiscais".
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