São Paulo, sábado, 15 de maio de 2004

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ENTRELINHAS

A psicanálise do PNBE

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos maiores programas do mundo de compra de livros não didáticos, o brasileiro PNBE vai ao divã na próxima sexta. O presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Henrique Paim Fernandes, diz que vinha ouvindo críticas constantes a esse programa, iniciado em 1998, na gestão FHC. "Diante da divergência a respeito da sistemática de compras, o fundo resolveu rever essa sistemática."
Na sexta ele se reúne com Gabriel Chalita, representando os secretários estaduais de educação, e com Adeum Hilário Sauer, da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação. Mais adiante virão representantes de autores e editores.
Daniel Silva Balaban, um dos diretores do FNDE, diz que o fulcro da questão é complementar a distribuição de livros com a "implementação de políticas de estímulo à leitura". Os editores acompanham de olhos abertos. As compras do governo representam 60% do mercado.

QUEM (SE) IMPORTA
Prepare o bolso, nobre comprador de livros importados. Agindo contra os tratados internacionais de Nairóbi e Florença e a própria Lei do Livro brasileira, promulgada no final do ano passado, o governo acabou, por medida provisória, com a isenção de cobrança dos impostos PIS e Cofins para importação de livros. Com isso, as livrarias terão de pagar cerca de 10% a mais. "É uma pancada na cabeça das livrarias nacionais", diz Rui Campos, da carioca Travessa, "e uma festa para as virtuais americanas, que não pagam chongas para o governo brasileiro e não empregam ninguém".

APARECEU A MARGARIDA
A editora Objetiva fez um "golpe de mestre" nesta semana. Comprou os direitos de um dos romances mais interessantes do século 20, o russo "O Mestre e Margarida" (1940), de Mikhail Bulgákov, sátira corajosa e enlouquecida da sociedade russa dos anos 20.

TUPI OR NOT TUPI
Ferreira Gullar será a capa da primeira edição da nova encarnação da "Poesia Sempre", revista da Biblioteca Nacional, que será relançada em breve. Antes voltada em cada número para a poesia de um país, agora a publicação será só verde-amarela. O editor, Luciano Trigo, abre seu e-mail corajosamente para receber poemas e ensaios inéditos: lucianotrigo@bn.br.

AUMENTA UM PONTO
Contista da melhor cepa, o calejado mineiro Wander Piroli finalmente terá alguém olhando sua obra. A valente editora Papagaio reeditará toda sua produção adulta, a começar por "Minha Bela Putana" já neste semestre. O pacote inclui inéditos, dois em 2004.

OSSOS DE BORBOLETA
O único filho de Vladimir Nabokov, Dmitri, leiloou a papelada do autor de "Lolita". Os itens mais caros do lote, que arrecadou R$ 2,7 milhões, foram desenhos de borboletas, paixão do escritor.

@ - elek@folhasp.com.br

FORA DA ESTANTE

Seja lá qual for a média de biritas ingeridas por presidentes ou correspondentes estrangeiros, eles sairiam ganhando com a leitura (ou releitura) de "John Barleycorn - Memórias Alcoólicas", de Jack London. Um dos trabalhos magistrais do escritor americano, o livro de 1913 era descrito por London como o "de "a" a "z" da arte de beber". Era bem mais que isso. Ao passo que narra suas "20 mil léguas submarinas" ao universo etílico, viagem que começou na infância e terminou com a morte aos 40 anos (1876-1916), London faz seu livro mais autobiográfico, dos mais de 50 que publicou. Boa parte dos melhores volumes do autor estão de pé nas prateleiras (dois tiveram edições recentes: "Martin Eden", pela Nova Alexandria, e "Tacão de Ferro", pela editora Boitempo). "Memórias Alcóolicas", porém, só mesmo no exterior -ou mandando um assessor aos sebos. O livro está fora de catálogo no Brasil, "de ressaca".


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