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Crítica
"Simonal" refaz saga de cantor
Documentário empolgante busca entender o porquê da ascensão e queda meteóricas de Wilson Simonal
MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Onde você estava quando Wilson Simonal
morreu [25 de junho
de 2000]? É quase impossível
encontrar alguém que localize
na memória um rastro daquele
dia -ao contrário de quando
falamos nas mortes de Elis Regina, Renato Russo, Cássia
Eller ou outros ídolos. A razão é
simples: Simonal estava morto
havia quase duas décadas e
meia quando foi enterrado.
É nesse vácuo histórico que
mora parte da força de "Simonal - Ninguém Sabe o Duro que
Dei", documentário do trio
Claudio Manoel, Micael Langer
e Calvito Leal. O filme apresenta ao espectador com menos de,
vá lá, 50 anos um artista que ele
desconhece. Mais que isso: dois
artistas em um só.
De um lado, imagens de arquivo e depoimentos de amigos
constroem o Simonal pop da
década de 60. Talentoso e carismático, tinha seu próprio programa na TV e domínio absoluto sobre quem parasse para ouvi-lo cantar. Sua voz exuberante dava conta de lotar 300
shows por ano. Fazia tanto sucesso que quase emparelhou
com Roberto Carlos como o artista mais popular do Brasil.
Do outro, nos é montado o Simonal pós-1975. Apagado da
história. Magoado, deprimido,
alcoólatra, quase sem voz. Que,
já nos anos 80, assistia aos
shows dos filhos Wilson Simoninha e Max de Castro escondido atrás de pilastras para que
sua presença ali não maculasse
também o destino dos meninos. Um morto-vivo alimentando a cirrose que, enfim, acabaria de vez com sua vida.
É buscando as obscuras ligações entre essas duas metades
de um mesmo personagem que
o filme se constrói. Não por
acaso, muitos de seus cerca de
85 minutos enfocam esse ponto de virada, quando o primeiro
Simonal comete o erro fatal
que o transforma no segundo.
Aconteceu no final de 1971.
Por suspeitar que estivesse
sendo roubado, o cantor teria
mandado bater no contador de
sua empresa. Só que o homem
vai parar no Dops (Departamento de Ordem Política e Social, hoje extinto), onde é torturado. Não demora até que os
jornais liguem as pontas -não
necessariamente cobertos de
verdade- e publiquem a manchete: "O cantor Wilson Simonal é informante dos órgãos de
segurança do Estado".
Princípio jornalístico
Parte considerável da repercussão que o filme alcançou nos
festivais em que já foi apresentado se deve ao fato de seus
criadores terem seguido um
princípio básico do jornalismo.
Pela primeira vez foram checar
"o outro lado" e deram voz ao
ex-contador. Seu depoimento
não contribui para confirmar a
imagem de dedo-duro que resultaria no sepultamento em
vida de Simonal. Mas traz à tona falhas de caráter que enriquecem ainda mais o personagem. E o filme.
Mais que biografar a ascensão e queda meteóricas de um
ídolo -e isso é feito de maneira
empolgante-, o documentário
reescreve a saga de Simonal para que, conhecendo finalmente
sua história, o Brasil possa absolvê-lo de coisas que talvez ele
nem sequer tenha feito.
SIMONAL - NINGUÉM SABE O
DURO QUE DEI
Direção: Cláudio Manoel, Micael
Langer e Calvito Leal
Produção: Brasil, 2008
Quando: em cartaz no HSBC Belas
Artes, Anália Franco e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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