São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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Cannes estreia "Viagem à Lua" pintado a mão

Obra restaurada de George Méliès foi encontrada há 18 anos entre doação anônima feita à Cinemateca

Até então, havia apenas a versão em preto e branco do filme que foi exibido no Grand Thêatre Lumière

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Um dos segredos da aura de sonho que Cannes mantém está abrigado no Grand Thêatre Lumière, sala reservada às principais sessões.
Dado o ineditismo dos filmes, a tela gigante parece, no instante em que a luz se apaga, ter reservada uma surpresa para quem está ali.
É como se Cannes tentasse, a cada projeção, resgatar um pouquinho do sentimento coletivo e mágico que os primeiros espectadores de cinema experimentaram.
Não poderia haver, portanto, melhor lugar para a estreia da versão colorida de "Viagem à Lua", o primeiro filme popular da história.
Essa versão, pintada à mão, atravessou décadas perdida. Seu reaparecimento se deu há 18 anos, em Barcelona. O rolo estava entre 200 filmes mudos doados por um anônimo à Cinemateca.
"A cópia estava num estado tal que ninguém acreditava na possibilidade de restauro", diz Séverine Wemaere, da Fundação Technicolor.
Graças à tecnologia e ao processo de restauro digital, que pode "ler", "escanear" e "tratar" cada quadro isoladamente, a cópia voltou à vida. Até hoje, existia apenas o filme em preto e branco.
Com a nova versão, ressurge também uma das mais fascinantes figuras da história do cinema: George Méliès (1861-1938).

O MÁGICO
Nascido em Paris, num leito de industriais, Méliès achava de uma chatice tamanha o negócio familiar: a fabricação de sapatos.
Para desagrado de todos, entrou para o mundo "artístico". Começou a estudar pintura e, numa viagem a Londres, descobriu a mágica.
De volta a Paris, virou ilusionista. Era capaz de sentar uma mulher em uma cadeira coberta por um pano e, vupt!, fazer com que ela sumisse.
Esse número, transposto para um filme, tornou-se referência na utilização de "efeitos especiais".
Méliès já era um bem-sucedido homem dos espetáculos quando, ao fim da década de 1880, passou a acompanhar a efervescência em torno da foto e do movimento das imagens (veja quadro).
Como havia vendido sua parte na fábrica de sapatos, ele tinha, além do gosto pela mágica e pelos inventos, considerável dinheiro no bolso.
Foi por isso que, mal viu a projeção dos irmãos Lumière, pôde comprar o equipamento necessário para começar a filmar.
Mas, enquanto todos usavam a câmera apenas para registrar o que viam, Méliès, em "Viagem à Lua", e depois, em outros filmes, transformou o registro em "mágica".
Imagens sobrepostas, lâmpadas que alteravam a luz do sol e trucagens que faziam os olhos ver o que não existia criaram a ilusão. E com ela, o cinema.


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