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CRÍTICA
CD é diário de viagem do rock
especial para a Folha
Com "Citizen Wayne", seu
terceiro álbum lançado pelo
selo Epitaph Records, o guitarrista e vocalista de Detroit,
Wayne Kramer, coroa uma fase de glorioso e suado ressurgimento das cinzas.
A idéia é revisitar o passado,
expiar os pecados com raça e
bom humor, contar a versão
da (sua) história e se atirar de
cabeça no futuro.
O rock salvou Wayne Kramer, o herói de guerra caído. E
ele voltou para agradecer. E
pagar a dívida.
Fechando uma espécie de trilogia da volta por cima, que terá como apêndice um disco ao
vivo, "Citizen Wayne" é um
diário de viagem que revela um
cronista impagável e um guitarrista poderoso e versátil.
Trabalhando com uma formação extremamente enxuta,
que conta com a participação
do co-produtor David Was,
Kramer emoldura episódios
selecionados de sua vida nos
grooves mais escorregadios,
disparando sua Fender branca
para todos os lados.
"Stranger in the House" e
"Back When Dogs Could
Talk" abrem o disco em clima
tenso, com saraivadas de guitarra protometálica e a voz
atormentada, que discute
(com) os dias de consumo de
LSD, John Coltrane, o partido
"White Panthers" e os fuzis.
"Revolution in Apt. 29" o
próprio Kramer explica: "Você sabe, não devemos nos levar
tão a sério, a idéia é manter o
senso de humor. Quando você
está destruindo o sistema, você
tem que manter o sorriso nos
lábios e a canção no coração
(risos)".
Falácia
Em "Down on the Ground"
somos atirados violentamente
na batalha do MC5 contra o
"sistema" americano, testemunhamos Allen Ginsberg armando um mantra, o crânio
explodindo com o cacetete, os
helicópteros ameaçando com
rasantes e Kramer "tocando
minha guitarra, com a batida
entrando sobre a maravilhosa
sirene cósmica... estou disparando o "feedback' pra galera".
"No Easy Way Out" é o canto de redenção de Kramer, sua
balada da salvação do pecado
apelo amor.
"You Don't Know My Name" é funk da pesada; "Count
Time" é pura tiração de onda
com seus horrores carcerários.
"Mas vossa excelência, foi o
seu camarada que apareceu
com a mala cheia de notas de
cem dólares, eu estava sem
emprego..."
"Snatched Defeat" é emoção em estado bruto. "Viver
intensamente e morrer jovem,
uma melodia menor...", desdenha Kramer, ao estampar o
amigo Johnny Thunders como
paradigma involuntário da falaciosa mitificação da decadência no rock'n'roll.
Wayne Kramer fez, com
"Citizen Wayne", um dos
melhores discos de rock da década. Só isso.
(FM)
Disco: Citizen Wayne
Artista: Wayne Kramer
Lançamento: Epitaph Records
Quanto: R$ 18 (em média)
Onde encontrar/encomendar: lojas
London Calling (tel. 011/223-5300);
Sweet Jane (tel. 011/288-4847);
Bizarre (tel. 011/220-7933)
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