São Paulo, sexta, 15 de maio de 1998

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CANNES
"Coração Iluminado' é Babenco "radical'

AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes

O cineasta Hector Babenco, diretor de "Coração Iluminado", desembarcou anteontem em Cannes, a tempo de participar da festa de abertura do festival.
"Passei cinco dias em Paris, checando as cópias e as legendas", disse à Folha, no final do jantar, já em plena madrugada de ontem.
"Decidi vir mais cedo para ver alguns filmes."
Na agenda do diretor de "Pixote" estavam ontem as sessões de "Lulu on the Bridge", de Paul Auster, e "Ceux Qui M'Aiment Prendront le Train", de Patrice Chéreau.
Seu "Coração Iluminado" encerra no sábado, dia 23, a mostra competitiva.
Babenco não esconde a felicidade com a escolha do filme. Volta a Cannes depois de nove anos. Participou em 1989 do júri presidido por Wim Wenders, que premiou o filme "sexo, mentiras e videotape".
Em 1985, concorreu com "O Beijo da Mulher Aranha", levando o prêmio de ator para William Hurt.
"Não dei um telefonema ao Gilles Jacob", conta Babenco, referindo-se ao diretor-geral do evento. "Eles foram bastante estritos no processo de seleção. Mandamos o filme numa quinta-feira, logo antes da Páscoa. Ele foi visto na terça-feira seguinte e selecionado na quarta. Na quinta cedo, recebíamos um fax em São Paulo anunciando a escolha".
A Folha adiantou com exclusividade a notícia da seleção de "Coração Iluminado".
"É meu filme mais radical", sustenta o diretor. "A parte final traz dois atores jamais vistos antes no filme", afirma.
Ódio
"Quando o concebi, há três anos, estava com ódio do mundo."
Babenco submeteu-se, há cerca de dois anos, a um transplante de medula, superando a longa batalha contra um câncer.
"Coração Iluminado" trata da volta de um homem à sua cidade natal, depois de duas décadas de ausência.
Babenco assume o tom autobiográfico. "É minha história. Dirigi os atores como sempre, mas tive dificuldades com Miguel Angel Sola. Ele interpretava a mim. Como dizer: "Eu não sou bem assim?'."
"Brasileiro por eleição"
Babenco ri da binacionalidade do filme em Cannes. "É um filme brasileiro. A produção é brasileira. Eu sou brasileiro. Ele apenas é falado em espanhol. Rodei-o na Argentina e logo percebi porque saí de lá."
"No material de imprensa do filme, publico uma carta pessoal que o Waltinho (Salles) me mandou. Nela, ele me define como "brasileiro por eleição'. Achei muito bonito. E me reconheci na fórmula", afirma, enfático, o cineasta.
A equipe de "Coração Iluminado" chega aos poucos. A atriz Xuxa Lopez, mulher do cineasta, junta-se a Babenco no sábado.
O produtor Francisco Ramalho e os atores Walter Queiroz e Maria Luiza Mendonça têm chegada prevista para a próxima terça.



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