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CANNES
"Coração Iluminado' é Babenco "radical'
AMIR LABAKI
enviado especial a Cannes
O cineasta Hector Babenco, diretor de "Coração Iluminado",
desembarcou anteontem em Cannes, a tempo de participar da festa
de abertura do
festival.
"Passei cinco dias em Paris, checando
as cópias e as
legendas",
disse à Folha,
no final do jantar, já em plena
madrugada de
ontem.
"Decidi vir
mais cedo para
ver alguns filmes."
Na agenda do diretor de "Pixote" estavam ontem as sessões de
"Lulu on the Bridge", de Paul
Auster, e "Ceux Qui M'Aiment
Prendront le Train", de Patrice
Chéreau.
Seu "Coração Iluminado" encerra no sábado, dia 23, a mostra
competitiva.
Babenco não esconde a felicidade com a escolha do filme. Volta a
Cannes depois de nove anos. Participou em 1989 do júri presidido
por Wim Wenders, que premiou o
filme "sexo, mentiras e videotape".
Em 1985, concorreu com "O
Beijo da Mulher Aranha", levando o prêmio de ator para William
Hurt.
"Não dei um telefonema ao Gilles Jacob", conta Babenco, referindo-se ao diretor-geral do evento. "Eles foram bastante estritos
no processo de seleção. Mandamos o filme numa quinta-feira, logo antes da Páscoa. Ele foi visto na
terça-feira seguinte e selecionado
na quarta. Na quinta cedo, recebíamos um fax em São Paulo
anunciando a escolha".
A Folha adiantou com exclusividade a notícia da seleção de "Coração Iluminado".
"É meu filme mais radical",
sustenta o diretor. "A parte final
traz dois atores jamais vistos antes
no filme", afirma.
Ódio
"Quando o concebi, há três
anos, estava
com ódio do
mundo."
Babenco
submeteu-se,
há cerca de
dois anos, a
um transplante
de medula, superando a longa batalha contra um câncer.
"Coração
Iluminado"
trata da volta
de um homem à sua cidade natal,
depois de duas décadas de ausência.
Babenco assume o tom autobiográfico. "É minha história. Dirigi
os atores como sempre, mas tive
dificuldades com Miguel Angel
Sola. Ele interpretava a mim. Como dizer: "Eu não sou bem assim?'."
"Brasileiro por eleição"
Babenco ri da binacionalidade
do filme em Cannes. "É um filme
brasileiro. A produção é brasileira.
Eu sou brasileiro. Ele apenas é falado em espanhol. Rodei-o na Argentina e logo percebi porque saí
de lá."
"No material de imprensa do
filme, publico uma carta pessoal
que o Waltinho (Salles) me mandou. Nela, ele me define como
"brasileiro por eleição'. Achei
muito bonito. E me reconheci na
fórmula", afirma, enfático, o cineasta.
A equipe de "Coração Iluminado" chega aos poucos. A atriz Xuxa Lopez, mulher do cineasta, junta-se a Babenco no sábado.
O produtor Francisco Ramalho e
os atores Walter Queiroz e Maria
Luiza Mendonça têm chegada prevista para a próxima terça.
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