São Paulo, sexta-feira, 15 de junho de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA/LANÇAMENTOS

Filmes e eletro-Pop

Trilhas de "Moulin Rouge" e "Memento" fazem o instantâneo da música do começo do século

MARCELO NEGROMONTE
DA REDAÇÃO

Hip hop e David Bowie, Beck e Fatboy Slim, Ewan McGregor e Nicole Kidman. Essa é uma pequena amostra do teor pop da trilha de "Moulin Rouge", filme de Baz Luhrmann, que estréia no Brasil no segundo semestre. Outras referências mil passeiam por todo o álbum, como se o pop fosse uma cortesã a seduzir o ouvinte.
David Bowie está por todo o disco, como um fantasma, além de cantar em "Nature Boy" (John Leguizamo o faz no filme, e Massive Attack, o remix no fim do disco). E é Bowie que nos levará à trilha eletrônica de "Memento", filme-sensação deste ano, exibido esta semana em São Paulo. Voltaremos mais adiante; antes, ao cancã.
O carro-chefe de "Moulin Rouge" é uma versão de "Lady Marmalade", produzida pela senhora hip hop, Missy Elliott, e interpretada pelas "cachorras" Christina Aguilera, Mya, Lil" Kim e Pink, bem adequadas ao cantarem "voulez-vous coucher avec moi... ce soir?" com malemolência r&b. A música é um sucesso nos EUA -o clipe é exibido à exaustão-, mas prefira a interpretação dos pervertidos Lords of Acid.
Mais hip hop, ainda no quesito produção, na tranchã versão de Beck para a iconoclasta "Diamond Dogs", de Bowie. O produtor Timbaland é o homem responsável pelo baixo peso-pesado. Beck, Bowie e Timbaland são a ménage à trois que faz de "Moulin Rouge" uma trilha cara.
Fatboy Slim saca sua música mais pesada até agora, "Because You Can", que, apesar de exagerar no trocadilho "everybody can can", joga as pernas das dançarinas para bem alto com tecno do começo deste século.
A ex-Tom Cruise, Nicole Kidman, não faz feio como cantora, soa exatamente como uma atriz que canta. E, em "Sparkling Diamonds" evoca de "Material Girl" (Madonna) a "Diamonds Are a Girl's Best Friend", um primor de sensualidade.
Uma tal de Valeria anima o cabaré com o sucesso dos anos 80 "Rythm of the Night", agora com sabor de salsa. OK. Mas Bono, Gavin Friday e Maurice Seezer revivem o glam rock com a versão de "Children of Revolution", de Marc Bolan, um clássico que, pasme, parece feito para Bono.
Como um musical, o filme traz canções em que o macho declara seu amor à fêmea ("Your Song", por McGregor, que praticamente coveriza o autor, Elton John), que, por sua vez, deseja ser salva pelo macho ("One Day I'll Fly Away", por Kidman). E a produção, com algumas firulas eletrônicas, deixa tudo amarrado.
Em "Elephant Medley", com McGregor e Kidman, uma extravagância pop: de Beatles ("All You Need Is Love") a Phil Collins ("One More Night") e, de novo, Bowie ("Heroes"). Fica bom.

"Memento"
David Bowie, já chamado de camaleão, figura nas boas trilhas deste ano, também em "Memento", de Christopher Nolan, thriller aclamado em Sundance 2001. A escolhida é "Something in the Air", do álbum "Hours" (1999), belamente triste, voz angustiada, a Polaroid que não se revela.
Apesar de 11 das 20 faixas serem incidentais (compostas por David Julian, já parceiro de Nolan), há boas e-musics, todas soturnas, exceto "Snapshot", uma porrada de Roni Size, outrora utilizada pelo DJ Marky em seu set.
A versão extendida de "Threefingers", do Radiohead, e o perturbado remix dos alemães do Funkstörung para "All Is Full of Love", de Björk, deixam "Memento" mais sinistro ainda.
E o DJ Paul Oakenfold, irreconhecível, faz "Amnesia" para o filme. No fim das contas, é um belo disco para esses dias de apagão.


Moulin Rouge
   
Com: David Bowie, Beck, Bono, Ewan McGregor, Nicole Kidman
Lançamento: Interscope (importado)
Memento




   
Com: Roni Size, Radiohead, Björk, Moby, David Bowie
Lançamento: Thrive/Warner (importado)
Onde encomendar: Indie (tel. 0/xx/11/ 3816-1220), London Calling (0/xx/11/ 223-5300), Bizarre (0/xx/11/220-7933)




Texto Anterior: Quem é o Travis
Próximo Texto: Discos são longas "para viagem"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.