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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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"Problema é o repasse de recursos", diz Cunha Lima

DA REPORTAGEM LOCAL

Jorge da Cunha Lima, que administra a TV Cultura, reuniu sua diretoria para falar à Folha sobre a situação da emissora.
Leia a seguir trechos da entrevista que ele concedeu, ao lado de Manoel Luiz Luciano Vieira (diretor-superintendente), Carlos Novaes (cientista político, consultor da instituição), Marco Antônio Coelho (jornalismo) e Walter Silveira (programação). (FV, FF e LM)
 

Folha - A TV Cultura gasta mal o dinheiro que recebe do Estado?
Jorge da Cunha Lima -
A gente gasta muito bem o pouco dinheiro público que recebe. Quando o dinheiro é pouco, a gente sempre gasta menos do que precisa. O problema da TV Cultura não é de gestão. É de modelo de repasse de recursos da sociedade.

Folha - Qual é o centro da crise?
Cunha Lima -
É necessário encontrar um modelo de repasse mais estável. A receita própria está no limite. Devemos buscar recursos na sociedade, como apoios culturais, prestação de serviços e parcerias. Uma hipótese seria pedir ao cidadão autorização para debitar na sua conta telefônica, por exemplo, recursos para a TV Cultura [a proposta será apresentada ao conselho amanhã].

Folha - Quando começaram os problemas financeiros?
Manoel Luciano Vieira -
Em 94, a situação era grave. Não haviam sido recolhidos INSS e FGTS. Ficamos reféns dessa dívida.

Carlos Novaes - Essa gestão descobriu uma dívida de R$ 26,2 milhões, em dezembro de 95, e já pagou R$ 60,4 mi [dívida corrigida]. Estão sendo negociados para os próximos 12 anos mais R$ 23 mi.

Cunha Lima - A privatização de serviços públicos obrigou a fundação a arcar com custos antes escamoteados. No Brasil, instituições, até privadas, não pagavam contas de luz, telefone e água.

Folha - Como foram os investimentos nos últimos anos?
Cunha Lima -
Houve vontade do governo de nos dar recursos para investimentos em 2000, 2001 e 2002. Só que o volume previsto foi contingenciado. A exceção foi em 1999, quando os R$ 4 milhões programados foram dados.

Folha - E para este ano?
Cunha Lima -
Em dezembro de 2002, havia uma dotação orçamentária de R$ 89,9 mi. Em janeiro, houve queda de arrecadação no Estado e um contingenciamento do investimento. Os recursos foram reduzidos a R$ 80,3 mi. Fizemos as demissões [250] previstas no plano estratégico. Pretendíamos que a economia com o corte revertesse para nós e que o custo fosse pago pelo governo [o que não ocorreu, segundo ele].

Folha - Como enfrentarão isso?
Cunha Lima -
Temos que recuperar esse dinheiro. Senti no governador compreensão e boa vontade para resolver a questão conjuntural. Mas ele disse que investimento só sairá na medida em que a economia se recuperar.

Folha - Como o sr. avalia as críticas da secretária da Cultura, Cláudia Costin, sobre a sua gestão?
Cunha Lima -
A secretária tem formação forte de administração pública e uma crença na idéia de organizações sociais inspirada no Bresser [Luiz Carlos Bresser Pereira]. Respeito isso. Só acho que é preciso garantir a independência da instituição e recursos.

Folha - Está em jogo o seu cargo?
Cunha Lima -
Está se dando mais valor aos não-problemas. O problema real são os investimentos.


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