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São Paulo, domingo, 15 de junho de 2003

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CRÍTICA

Cafetina eletrônica ajuda solitários

DANUZA LEÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Ninguém consegue mais arranjar um namorado sem ajuda. Ajuda de uma agência, da internet ou de um programa de TV. Como a dificuldade parece aumentar e as pessoas fazem qualquer coisa para aparecer, a TV agora auxilia os corações solitários a encontrar sua alma gêmea. Uma cafetinagem eletrônica, digamos assim.
A MTV tem o "Fica Comigo", nas noites de segunda-feira, e o canal Sony estreou na última quinta o "dateXpress". Para assistir a qualquer dos dois é preciso ter a cabeça muito moderna e muito jovem, quase desmiolada, eu diria. E ainda tem o "Faustão".
O "Fica Comigo" não chega a ser juvenil: é infantil. Quatro meninas de 14 a 17 anos, que ainda nem usam maquiagem, foram ao programa para tentar namorar Ricardo, baterista do grupo B5. O galã foi instalado numa cama redonda vermelha cheia de almofadas coloridas; a seu pedido, cada uma das meninas levou para o cobiçado Ricardo um sutiã de seu uso pessoal -ele a-do-ra sutiãs-, mas nem assim pintou um clima erótico. Eram crianças, tão inocentes como se estivessem brincando de roda -mas gostando muito de se exibir, é claro.
Continuando minha pesquisa, tive que ver "Faustão" no domingo passado -é, a vida não é fácil. O casal candidato a namoro foi mostrado em inúmeras situações: ele fazendo a barba, comprando flores, ela no cabeleireiro, no restaurante; aquela produção cara, sem limite de gastos. O olho de Faustão não acompanha o que ele diz. Confesso: não consegui ver o programa até o fim, não aguentei. Que saudade de Faustão em "Perdidos na Noite".
Já o "dateXpress" é mais ousado. Safado, eu diria. Pela idade, os participantes -todos na casa dos 20- poderiam até ser considerados adultos, mas um tipo de adulto que não vai crescer nunca, que só pensa em baladas, brincadeiras e risadas.
O programa é bem animado; são três "meninos" e três "meninas", como são chamados pela animadora Tathiana Mancini - ótima, por sinal-, que fazem perguntas uns aos outros, e o objetivo é que pinte um "relacionamento" entre eles. Pouca chance, viram, meninos e meninas?
Mas o que querem realmente esses candidatos a namoro? Namorar mesmo? É claro que não. Virar modelo, ser convidada para posar nua, quem sabe ter uma carreira em "Malhação"? E o mais vago de tudo, porém o melhor: ficar famoso.
Ficar famoso é bom: eles são convidados para festas, comem de graça, viajam de graça, e às vezes até ganham um cachê para dar o privilégio de sua presença em lugares que depois serão divulgados pela imprensa, exatamente porque lá estão os famosos.
No programa da MTV ouve-se muito "legal, legal, legal"; no do canal Sony, "galera, galera, galera". Legal, não é, galera?


A colunista Bia Abramo está em licença


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