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FERNANDO BONASSI
Breve estudo sobre a saúde dos vampiros
Companheiros e companheiras, foram encontrados
vestígios de vampiros tarados
grudados nos seios esplêndidos da
Pátria Amada! Pobre coitada!
Salve, salve!
Conforme informações de inteligência policial, por incrível que
pareça uma coisa dessas, a operação também envolve pernilongos
contaminados, ratos malcheirosos, sanguessugas libidinosos, corvos parasitários e avestruzes tímidas. Se bois gordos havia no pasto, podem ter sido retirados à força e à pressa dessa briga, já que
havia muita rivalidade nas questões de divisões de tais patrimônios semipúblicos.
Um vampiro é um cadáver esquisito que se ergueu da sepultura para sugar a seiva mais pura
de nós outros, os mais vivos do
que eles. São eles, no entanto, os
mais espertos. Podem se dedicar a
qualquer função na burocracia
das causas perdidas. Excelentes
datilógrafos diplomados, revelam
altíssimo desempenho na digitação e manipulação das letras embaralhadas nos teclados piratas
dos PCs arrombados do Tesouro
Nacional.
Como se sentem escolhidos profissionais, nada mais coerente
que se favoreçam em bacanais de
processos fraudulentos. Por essas
e outras menos compreensíveis,
seu salário é tomado pelo mérito.
O mesmo mérito do advogado da
causa própria, é claro. Pois não
há nada mais egoísta do que
vampiro engravatado dando na
vista nas academias de tênis, nos
campos de golfe ou nas marinas
reformadas por operários de
construção, que haverão de se
cansar desses salários piores, sem
as mesmas comissões na extorsão.
Seu apetite pela vida reduz-se à
causa de matar. Como não podem ver sangue, não o fazem com
as próprias mãos, mas pregando
os dentes afiados nos canos fraturados dos orçamentos monetários. Há vampiros internos e vampiros externos. Uns sugam as licitações de remédios, as compras de
vacinas, os recursos logísticos; outros rebaixam as cotações de nossas moedas, estimulam nossos vícios e invejas com emissões de caráter consumista, casamentos
reais e entregas de prêmios sensacionalistas, armados, votados e
comprados nos corredores escuros
dos congressos e ministérios misteriosos.
Lobistas cheios de hobbies, eles
têm jet-skis, carros importados na
garagem, dinheiro estocado para
malandragem e casas grandes de
fazer inveja aos demais senhores
de escravos destas glebas morféticas e indústrias de fachada.
Aos mais medrosos, convém informar que a senzala esgotada
permanece dominada.
São seres concursados e especializados em tirar a substância das
veias das pessoas de bens, cujo
mal foi terem pago em dia os boletos que os impostos impuseram.
Quanto aos que devem ao fisco,
não são menos prejudicados no
risco de serem lesados por tais bichos viciados.
Antigos vampiros licitantes costumam agir num único bando lesivo, tendo relações extraconjugais sem camisinha com morcegos negros falidos, plasmando interesses escusos e doenças venéreas. Há inclusive evidências da
presença de vampiros diabéticos,
vidrados nas ocorrências de concorrências de insulina ou, quem
sabe, em roubar um docinho de
merenda da boca das criancinhas
indefesas.
Nessa situação, certos vampiros
envenenados podem muito bem
entrar em rota de colisão, brigando como abutres enciumados,
derrubando-se nos dólares lavados e nos preços acertados. Uns os
querem baixos. Não por um desejo de gente saudável, mas pela
perversidade de cavoucar cada
dia o seu pouquinho, mantendo-se a ferida aberta e com aspecto
pútrido.
Há vampiros em todos os desníveis e para todos os desgostos!
Há também os meio moralistas,
que evitam mostrar os braços para investigação, temendo serem
colhidos na mesma trama que
ajudaram a revelar, aumentando
os índices de corrupção de seu
próprio desgoverno. Será por isso
que esses empoados empedernidos não gostam de espelhos polidos? Se ficarmos quietinhos, como
querem os que deixam o melhor
de si em contas da Suíça, será que
ainda seremos mordidos pelo leão
ferino das receitas?
O que diriam os que ficaram sozinhos, implorando um doador
compatível nas esquinas dos acidentes anunciados, nos prontos-socorros abandonados, nas filas
intermináveis dos postos de atendimento e nos guichês dos cartórios de protestos inúteis?
Porque seus advogados lhes exigem o direito de defesa, pode ser
que algum juiz bacana e suscetível a essa violência toda conceda
o favor do habeas corpus para refeição dos réus enclausurados. As
sindicâncias costumam inocentá-los de tudo o que forem acusados.
São humanos, são mortais... podem errar, não é mesmo?
É? Sim? Não? Que corporação
médica vai assumir agora a irresponsabilidade por curar a todos
nós dessas sacanagens endêmicas?
Quando um homem aceita sua
condição de mortal, dizem os especialistas, quando percebe que
só a maldade de Deus pode rivalizar com os seus quereres mesquinhos, seu vampirismo desaparece. Assim, conforme ensinam
aqueles eslavos dentre os menos
comunistas, aqueles mesmos que
lutaram as guerras genocidas e
conheceram nas carnes magras o
custo da fome anêmica: "Vampiro bom é vampiro morto/basta
uma boa estaca martelada no coração".
P.S.: É preciso ter muito cuidado
com os hemoderivados que podem ser espirrados nessas ações
terroristas. Onde esses tipos sangram, a terra seca para sempre,
podendo, numa questão de tempo, ser leiloada para a reforma
agrária dos próximos mandatos.
Estejam avisados. Fim da aula de
moral & cívica.
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