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Campo de Theresienstadt abrigou artistas
DA REPORTAGEM LOCAL
Theresienstadt é o nome de
uma grande e triste farsa criada
pelo nazismo. O campo de concentração foi visitado em 1944 pela Cruz Vermelha Internacional,
que encontrou uma paisagem
verdejante e cheia de flores, cenário também de um filme de propaganda que chegou a ser produzido naquele ano por Berlim.
O campo foi instalado em 1941,
dentro e ao redor de uma fortaleza construída pelos austríacos no
século 18.
Os nazistas contavam de início
confinar apenas judeus tchecos.
Mas vieram em seguida também
alemães, austríacos, holandeses e
dinamarqueses.
Duas particularidades o diferenciavam. Considerado um
"gueto" para a população judaica,
Theresienstadt não tinha comunistas, homossexuais ou dissidentes políticos, que, em outros campos, também constituíam a mão-de-obra escrava de fábricas, em
que os confinados substituíam os
operários alistados pelo Exército.
E havia também o padrão cultural elevado da população de internos, com muitos professores universitários, escritores ou músicos.
Uma biblioteca circulante, com
acervo confiscado dos próprios
judeus, tinha 60 mil volumes.
Em nenhum outro campo de
concentração as crianças dispunham de tão bons professores
-também prisioneiros judeus-
e de educação artística.
Havia, no entanto, um terrível
outro lado da moeda. Dos 144 mil
judeus que por lá passaram, 33
mil morreram de fome e de doenças como o tifo. Outros 88 mil foram deportados para campos de
extermínio (Auschwitz, Majdanek ou Treblinka), e só 19 mil permaneciam vivos no fim da guerra.
Arte no inferno
O campo era um depósito de
gente. Chegou a abrigar 60 mil internos numa área concebida para
apenas 7.000. E, se alguma forma
de cultura floresceu, é porque os
nazistas entregavam a organização interna de atividades ao conselho de anciãos (Judenälteste),
que se esforçou para preservar
um mínimo de saber e dignidade.
Foi assim que sobreviveram nomes como Martin Roman, band leader de jazz, o pianista Sergei
Dreznin, Gerhard Bronner, um
veterano artista do cabaré vienense, ou os compositores de música
erudita Pavel Haas, Gideon Klein
e Hans Krása, ou mesmo Peter
Deutsch, maestro da Orquestra
Real de Copenhague.
Viktor Ullmann, o autor de "O
Imperador de Atlântida" fazia
parte do grupo. Escreveu também
em seu confinamento três sonatas
para piano, um quarteto de cordas, um poema sinfônico e um
longo ciclo de canções. Estava trabalhando no libreto de uma nova
ópera quando foi transladado e
morto em Auschwitz.
(JBN)
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