São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2005

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Campo de Theresienstadt abrigou artistas

DA REPORTAGEM LOCAL

Theresienstadt é o nome de uma grande e triste farsa criada pelo nazismo. O campo de concentração foi visitado em 1944 pela Cruz Vermelha Internacional, que encontrou uma paisagem verdejante e cheia de flores, cenário também de um filme de propaganda que chegou a ser produzido naquele ano por Berlim.
O campo foi instalado em 1941, dentro e ao redor de uma fortaleza construída pelos austríacos no século 18.
Os nazistas contavam de início confinar apenas judeus tchecos. Mas vieram em seguida também alemães, austríacos, holandeses e dinamarqueses.
Duas particularidades o diferenciavam. Considerado um "gueto" para a população judaica, Theresienstadt não tinha comunistas, homossexuais ou dissidentes políticos, que, em outros campos, também constituíam a mão-de-obra escrava de fábricas, em que os confinados substituíam os operários alistados pelo Exército.
E havia também o padrão cultural elevado da população de internos, com muitos professores universitários, escritores ou músicos.
Uma biblioteca circulante, com acervo confiscado dos próprios judeus, tinha 60 mil volumes.
Em nenhum outro campo de concentração as crianças dispunham de tão bons professores -também prisioneiros judeus- e de educação artística.
Havia, no entanto, um terrível outro lado da moeda. Dos 144 mil judeus que por lá passaram, 33 mil morreram de fome e de doenças como o tifo. Outros 88 mil foram deportados para campos de extermínio (Auschwitz, Majdanek ou Treblinka), e só 19 mil permaneciam vivos no fim da guerra.

Arte no inferno
O campo era um depósito de gente. Chegou a abrigar 60 mil internos numa área concebida para apenas 7.000. E, se alguma forma de cultura floresceu, é porque os nazistas entregavam a organização interna de atividades ao conselho de anciãos (Judenälteste), que se esforçou para preservar um mínimo de saber e dignidade.
Foi assim que sobreviveram nomes como Martin Roman, band leader de jazz, o pianista Sergei Dreznin, Gerhard Bronner, um veterano artista do cabaré vienense, ou os compositores de música erudita Pavel Haas, Gideon Klein e Hans Krása, ou mesmo Peter Deutsch, maestro da Orquestra Real de Copenhague.
Viktor Ullmann, o autor de "O Imperador de Atlântida" fazia parte do grupo. Escreveu também em seu confinamento três sonatas para piano, um quarteto de cordas, um poema sinfônico e um longo ciclo de canções. Estava trabalhando no libreto de uma nova ópera quando foi transladado e morto em Auschwitz.
(JBN)


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