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POLÍTICA CULTURAL
João Batista de Andrade defende projeto que conjugue verba direta do Estado e recursos de isenção
Secretário quer fundo e incentivo fiscal
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
Um mês depois de assumir a Secretaria de Estado da Cultura, o
cineasta João Batista de Andrade,
65, pretende manter o andamento
da gestão anterior e cita a "inclusão cultural" como prioridade.
Mas o que desde já marca sua
administração é a polêmica criação de um mecanismo de fomento à produção cultural no Estado.
Há um projeto em discussão na
Assembléia e outro sendo redigido por Andrade e uma comissão.
Leia a seguir trechos da entrevista
concedida anteontem à Folha, em
seu gabinete, ao lado da Sala São
Paulo, no centro da capital.
Folha - Quais mudanças o senhor
está promovendo na secretaria?
João Batista de Andrade - Estamos completando um mês, é claro que há um choque de administração. A secretaria é muito envolvente, tem uma grande atuação e a estrutura é muito tentacular, para cada problema se cria uma nova estrutura para agir. De um lado, parece um defeito de estrutura, será que não seria possível
criar uma estrutura horizontal?
Depois, verifiquei que não era
possível, há muitas particularidades em cada ação. Acho que é melhor assim. Não se pode pegar
idéias diversas e transformar num
gesto só; quanto mais diversidade
de ações para enfrentar as questões da cultura é melhor. A questão fundamental é a exclusão social, mas o que enfrentamos aqui
é a exclusão cultural, cujo resultado ajuda as outras áreas do governo que trabalham com a questão
social. A secretaria tem que fazer
política pública diversificada e
não ser prisioneira de setores.
Folha - Na gestão anterior, a mudança de vocação da Casa das Rosas causou muita polêmica. O sr.
tem planos de redirecionar o funcionamento de algum lugar?
Andrade - Em termos de mudança, a única coisa é transformar
o teatro São Pedro em um espaço
para ópera. Conversei muito com
pessoas ligadas à ópera, e há vontade de criar na cidade um grande
teatro para esse fim. O São Pedro
cumpriria esse papel, tendo permanentemente espetáculos, mesmo que não tão grandiosos.
Folha - Como isso seria feito?
Andrade - Não quero me antecipar, a questão está colocada a partir da visão da secretaria que o teatro deve ganhar uma cara.
Folha - Há mudanças nas diretorias ligadas à secretaria?
Andrade - Quase todo mundo
está confirmado. Estou tentando
mexer o mínimo possível. Estou
entrando com a coisa em andamento, então, a não ser que haja
um problema grave em algum setor, que não é o caso, estou confirmando todo mundo. A gente tem
muito pouco tempo, estamos no
meio da gestão Alckmin. É importante que as pessoas sintam
que eu quero dar continuidade,
mesmo que permanentemente
rediscutindo a programação.
Folha - E a Sala São Paulo?
Andrade - Ela caminha para a
criação de entidade própria, uma
fundação. Nesse sentido, eu dou
todo meu apoio ao [maestro
John] Neschling. Uma orquestra
tem custo alto e é algo delicado,
uma cultura muito particular.
Folha - O sr. acha que esse é um
caminho para todos os setores?
Andrade - Eu diria que esse é basicamente o caminho. Já entrei na
secretaria com esse processo em
andamento. A administração direta na área da cultura é algo terrível. Se há um vazamento no telhado, por exemplo, tem que se esperar um ano para resolver isso. E,
como outros órgãos no país, a
SEC foi perdendo funcionários e
não houve mais concursos. Para
preencher as vagas, foram credenciando pessoas, mas isso tem
que ser revertido. A saída que encontramos é a OS [organização
social]. Vou citar um exemplo:
quando comecei no cinema, nos
anos 60, fui programador da Sociedade Amigos da Cinemateca.
Na verdade, a sociedade é que
sustentava a Cinemateca, que cobria algumas despesas. Já é uma
coisa antiga, e a prática foi mostrando que esse tipo de administração é a melhor para a área. O
cuidado que se deve ter é o de não
privatizar a ação pública.
Folha - Qual é a sua idéia sobre o
projeto do fundo de cultura?
Andrade - O projeto que está na
Assembléia não cria nada. O artigo primeiro é: "Autorizo o governador a criar". Ora, o governador
já está trabalhando comigo num
projeto, então, não precisa dessa
autorização. Além do mais, o nível de detalhamento daquele projeto chega ao absurdo. O projeto
que eu estou trabalhando conjuga
um fundo com uma ação de incentivo fiscal do Estado. O fundo
serve para projetos até R$ 40 mil
ou R$ 50 mil, ou seja, para viabilizar o que vem de baixo, da periferia, do interior, movimentos que
se iniciam na produção cultural.
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