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Folha identifica oito membros do júri; grupo desrespeita ordem de silêncio de juiz e comenta depoimentos do caso
"MJ deve ter molestado outros", diz jurado
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
"Eu acho que Michael Jackson
provavelmente molestou (sexualmente) outros garotos", disse
Raymond Hultman, 62, até ontem conhecido como "jurado número um" no julgamento.
A Folha conseguiu levantar os
nomes e identificar oito dos
membros do júri que inocentou
Michael Jackson de dez acusações
na tarde de anteontem, a mais
grave delas a de ter molestado um
garoto de 13 anos que se recuperava de um câncer.
Desde o final do julgamento e
da entrevista coletiva oficial, o
grupo vem descumprindo a ordem de silêncio imposta pelo juiz
Rodney Melville, segundo a qual
todos estão proibidos de falar sobre o caso, inclusive com a imprensa, por mais um ano e meio.
A determinação foi relembrada
aos 12 membros pelo juiz Melville
assim que o veredicto foi lido. Em
vão. "Eu não posso crer que este
homem dorme na mesma cama
(com menores de idade) 365 dias
seguidos e não fez nada mais do
que assistir televisão e comer pipoca", disse Hultman ontem.
"Para mim, isso não faz nenhum sentido, mas também não
faz com que ele seja culpado das
acusações que foram apresentadas neste caso, e era baseados nelas que nós tínhamos de tomar
nossa decisão", completou.
Raymond Hultman, cabelos e
bigode brancos, engenheiro civil
casado há 13 anos, com 4 filhos e
morador de Santa Maria, a cidade
californiana que sediou o julgamento, afirmou que, no início das
deliberações -que duraram 33
horas, divididas em sete dias
úteis-, apenas ele e dois outros
jurados achavam que Michael
Jackson era definitivamente culpado, mas que a maioria depois
os convenceria que os indícios de
prova não eram fortes os suficiente para condenar Jackson nas acusações sobre as quais eles tinham
de tomar uma decisão final.
"Isso não quer dizer que ele seja
um homem inocente. Ele só não é
culpado dos crimes dos quais foi
acusado (nesse caso)". As declarações foram dadas durante a noite de segunda para jornalistas credenciados na corte e repetidas ontem, na CNN e em alguns programas de TV noticiosos matinais.
"O que eu não quero é dar a impressão de que foi uma decisão fácil", disse Hultman. "Nós discutimos as questões e chegamos a um
veredicto que aponta para dúvida
razoável [de que o músico seja
culpado]."
Para Hultman, a promotoria
apresentou indícios de prova fortes o suficiente para apontar um
padrão de comportamento inapropriado de Michael Jackson
com outros garotos, mas não com
o então acusador. O que o incomodou particularmente foi saber
que o vídeo em que menino em
questão dá seu primeiro depoimento aos policiais foi feito depois de ele ter falado com dois advogados e um psicólogo.
"As coisas poderiam ser totalmente diferentes se a família não
tivesse procurado os advogados
antes", disse. "Mas não tenho nenhum problema com a decisão
que tomei", resume. "Tenho, sim,
com o comportamento de Michael Jackson, espero que ele reconheça que é um problema sério. Eu aprendi muito com este
caso, espero que ele também."
Com ele concorda o presidente
do júri, Paul Rodriguez, 63, um
conselheiro de escola aposentado
até então identificado como jurado número dois. "Os jurados estavam muito preocupados com o
fato de que Michael Jackson dorme com menores", disse ele. "Esperamos que ele não faça mais isso, que ele aprenda que (os menores) devem ficar com suas famílias
ou nos quartos de hóspedes ou seja lá como isso é chamado lá [em
Neverland] e que ele seja mais
cuidadoso na maneira como se
porta perto de crianças."
Os jurados são unânimes também na estranheza em relação a
Janet Arvizo, a mãe do então acusador, e seus testemunhos.
"Quando ela olhou para nós,
apontou os dedos algumas vezes e
disse "Você sabe como nossa cultura é", piscando para mim, eu
pensei, "Não, nossa cultura não é
assim'", disse Rodriguez, de ascendência latina, como Arvizo. A
mãe do menino deu nos nervos
também de Eleanor Cook, 79, a
jurada número cinco: "Odiei profundamente quando ela fez isso e
pensei, "Não aponte seu dedos para mim, senhorita!'".
Para ela, a mais velha do grupo,
que morou em Santa Maria sua
vida inteira, é avó e teve um membro da família condenado por
ofensas sexuais, foi o clima de
atuação do testemunho da mãe
que a incomodou. "No documentário [feito pelo time de Michael
Jackson para refutar as acusações
e depois exibido no julgamento],
ela aparecia atraente, com maquiagem", lembra. "Quando veio
testemunhar, estava com o cabelo
desgrenhado, como a Madre Teresa depois de uma chuva. Ela estava tentando fazer com que tivéssemos dó."
Tom Sneddon, o promotor do
caso, cujo mandato termina no
ano que vem, disse ontem que
"provavelmente não desistiu" de
provar que Michael Jackson é pedófilo: "Nós vamos examinar
qualquer outro caso que chegue
aqui sobre esse assunto".
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