São Paulo, domingo, 15 de junho de 2008

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Televisão/Crítica

"Deuses e Monstros" liga criador e criatura

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O melhor de "Deuses e Monstros" (TC Cult, 22h) é a ilusão que se cria de que realmente estamos vendo os últimos dias de James Whale.
Whale foi o diretor de "Frankenstein" e "A Noiva de Frankenstein", dois dos mais importantes filmes de terror dos anos 1930, entre outros. Era homossexual, também. Essa aproximação entre a homossexualidade e a criação de "Frankenstein" é central para o filme de Bill Condon, pois a força do filme se origina, em boa parte, do sentimento de seu autor de ser, ele próprio, um monstro, alguém sem lugar no mundo.
Essa sensibilidade talvez seja atribuída a Whale pelo filme de Condon, mas que importa? Existe aí, implícita, uma pergunta relevante: como se chega a "Frankenstein"? Que tipo de mergulho está implicado nesse tipo de criação que o leva, afinal, a ser um filme tão bom?
Habitualmente, os diretores de cinema são conhecidos por suas casas folgadas e pela grosseria dos modos. O Whale visto por Condon mora em uma bela casa, mas é um gentleman.
Inglês como o ator Ian McKellen, que o encarna (e essa palavra não está aqui só para constar), é provável que Whale não se sentisse muito à vontade no mundo do entretenimento e, mais ainda, que daí viesse sua solidão, sentimento que pode em parte explicar seu suicídio.
Criador de monstros -como o próprio Victor Frankenstein-, também o Whale de Condon tem conta a pagar por fazer cinema, isto é, criar vida.


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