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Televisão/Crítica
"Deuses e Monstros" liga criador e criatura
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O melhor de "Deuses e
Monstros" (TC Cult, 22h) é a
ilusão que se cria de que realmente estamos vendo os últimos dias de James Whale.
Whale foi o diretor de "Frankenstein" e "A Noiva de Frankenstein", dois dos mais importantes filmes de terror dos anos
1930, entre outros. Era homossexual, também. Essa aproximação entre a homossexualidade e a criação de "Frankenstein" é central para o filme de
Bill Condon, pois a força do filme se origina, em boa parte, do
sentimento de seu autor de ser,
ele próprio, um monstro, alguém sem lugar no mundo.
Essa sensibilidade talvez seja
atribuída a Whale pelo filme de
Condon, mas que importa?
Existe aí, implícita, uma pergunta relevante: como se chega
a "Frankenstein"? Que tipo de
mergulho está implicado nesse
tipo de criação que o leva, afinal, a ser um filme tão bom?
Habitualmente, os diretores
de cinema são conhecidos por
suas casas folgadas e pela grosseria dos modos. O Whale visto
por Condon mora em uma bela
casa, mas é um gentleman.
Inglês como o ator Ian
McKellen, que o encarna (e essa palavra não está aqui só para
constar), é provável que Whale
não se sentisse muito à vontade
no mundo do entretenimento
e, mais ainda, que daí viesse sua
solidão, sentimento que pode
em parte explicar seu suicídio.
Criador de monstros -como
o próprio Victor Frankenstein-, também o Whale de
Condon tem conta a pagar por
fazer cinema, isto é, criar vida.
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