São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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Brasileiros "pagam" para tocar no exterior

Cachês recebidos pelas bandas não cobrem nem o investimento feito com passagens

FELIPE GUTIERREZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A primeira viagem internacional do Garotas Suecas, em julho de 2008, ia ser turística. Um ex-guitarrista morava em Nova York e chamou os amigos para passarem as férias com ele.
Os cinco, que estavam no Brasil, compraram as próprias passagens e se hospedaram no quarto-e-sala do colega, no Brooklyn.
Sem planejamento nenhum, marcaram cinco shows. Os cachês nunca passavam de US$ 100 (cerca de R$ 158). Conseguiram também fazer uma apresentação no programa de TV "Fearless Music". E conheceram uma mulher que acabou virando a agente deles nos EUA.
Três anos, cinco turnês internacionais e um disco depois, o Garotas Suecas conseguiu montar uma estrutura para crescer no mercado estrangeiro. Eles têm um selo, um agente e um assessor de imprensa americanos.
A trajetória deles virou parâmetro para outras bandas alternativas brasileiras.
"Atingir o mercado independente, principalmente o dos EUA, do Canadá e da Europa, é fazer parte de um circuito. O Garotas Suecas conseguiu", diz o empresário e DJ Dago Donato, que agencia a banda Holger.
Grupos independentes como Holger, Some Community, Macaco Bong e Black Drawing Chalks já fizeram turnês internacionais. Mas tiveram que desembolsar dinheiro para isso.
A tentativa de conquistar um público estrangeiro tem um preço. Fabrício Nobre, empresário da banda Black Drawing Chalks, que está na segunda turnê estrangeira, calcula que a banda gastou, do próprio bolso, cerca de R$ 15 mil para se apresentar no Canadá em 2008.
O montante é mais ou menos o equivalente ao que seria gasto gravando um disco. "Eles ficaram endividados o ano inteiro. Parcelaram as passagens, e eu emprestei dinheiro para eles", conta.
O quinteto paulistano Some Community fez sua primeira turnê pelos EUA neste ano. "Gastamos muito dinheiro do nosso bolso com passagens e hospedagem", diz a baixista Verônica Vacaro. Ela conta que o grupo pretende viajar de novo em outubro, para tentar cobrir gastos. E mais uma vez, em 2012, para ganhar dinheiro.
A estratégia das bandas é sempre a mesma: pagar para tocar numa primeira vez, fazer uma segunda turnê na qual receitas e despesas se equilibram e, na terceira vez, lucrar com as apresentações.
Não é só o mercado estrangeiro que as bandas miram quando tocam fora do país. O bochicho gerado nos EUA ou na Europa repercute no Brasil também.
O Garotas Suecas (que só ganhou dinheiro na terceira turnê) apareceu na mídia brasileira como a banda que "caiu no gosto de celebridades como Drew Barrymore e Kirsten Dunst".


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