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Personalidade
Cerca de 300 pessoas
comparecem ao
enterro; Luiz Carlos
Barreto critica a
ausência de
homenagens oficiais
Lucio Costa é enterrado no Rio sem homenagem oficial
ANNA LEE
da Sucursal do Rio
O arquiteto Lucio Costa costumava dizer que, apesar de ter nascido na França, ninguém era mais
brasileiro do que ele.
A frase foi lembrada ontem, durante o enterro do corpo do arquiteto no Rio, pelo cineasta e produtor Luiz Carlos Barreto, que fez
duras críticas à falta de homenagens oficiais a um dos maiores nomes da arquitetura mundial.
"É inaceitável que, quando
morre aquele que representa um
dos pilares da cultura brasileira, a
única manifestação do governo federal seja uma nota oficial do presidente", disse Barreto.
Filho de brasileiros, Lucio Costa
nasceu em Toulon, França, em
1902, viveu em outros países da
Europa, retornou em 1916 ao Brasil, onde viveu até morrer em seu
apartamento do Leblon (zona sul
do Rio), na manhã de sábado, de
causas naturais.
Ao seu sepultamento, ontem no
cemitério do Caju (zona norte do
Rio), compareceram cerca de 300
amigos e admiradores.
Segundo Luiz Carlos Barreto,
amigo de Costa desde os anos 60 e
um dos presentes ao enterro,
quando falava do Brasil, o arquiteto abandonava a discrição -uma
de suas principais características- para ser ufanista.
"O Brasil não tem vocação para
a mediocridade", gostava de repetir Lucio Costa. Segundo Barreto,
a frase "foi desmentida pelo Brasil
institucional no momento de sua
morte".
Nota oficial
A Presidência da República divulgou anteontem uma declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a morte do
arquiteto, na qual afirma que "o
Brasil perde uma de suas maiores
personalidades, que soube unir
competência e arte, elevando o
nome do nosso país..."
Segundo Barreto, "o mínimo
que o governo poderia fazer seria
oferecer o Palácio Gustavo Capanema para ser realizado o velório", referindo-se à ex-sede do Ministério da Educação no Rio.
Em 1936, Lucio Costa foi convidado para criar o projeto da sede
do MEC, no centro da cidade, pelo
ministro Gustavo Capanema.
O projeto do prédio -atual Palácio da Cultura Gustavo Capanema- realizado com a colaboração do já consagrado arquiteto
francês Le Corbusier (1887-1965),
um dos mestres da arquitetura
mundial, é considerado um marco
na arquitetura moderna brasileira.
A filha mais velha de Lucio Costa,
Maria Elisa, afirmou que não foi
procurada para qualquer homenagem oficial a seu pai.
O ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, compareceu ao enterro como representante de Fernando Henrique.
"É uma perda inestimável. Não
fizemos homenagem maior porque a própria família pediu uma
cerimônia discreta", disse Vargas.
O governador do Rio, Marcello
Alencar, enviou mensagem de pêsames à família, mas não compareceu ao enterro.
Allencar afirmou que decretará
luto oficial no Rio por três dias.
"Lucio Costa não foi só um urbanista. Foi uma das pessoas mais
importantes do nosso tempo",
disse o governador.
Com relação à falta de homenagens oficiais, a filha de Lucio Costa
declarou: "Não estou preocupada
com isso, até porque não é meu
problema e sim da cultura brasileira".
O governador do Distrito Federal, Cristóvam Buarque -depois
de anunciar anteontem que pretendia dar o nome de Lucio Costa
ao Eixo Monumental, a principal
avenida de Brasília- teve de restringir sua homenagem ao arquiteto decretando luto oficial por
três dias na capital do país.
Por desejo de Costa, nenhuma
rua ou avenida de Brasília deve ter
nome de pessoas, informou a família do arquiteto.
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