São Paulo, segunda, 15 de junho de 1998

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Personalidade
Cerca de 300 pessoas comparecem ao enterro; Luiz Carlos Barreto critica a ausência de homenagens oficiais
Lucio Costa é enterrado no Rio sem homenagem oficial

ANNA LEE
da Sucursal do Rio

O arquiteto Lucio Costa costumava dizer que, apesar de ter nascido na França, ninguém era mais brasileiro do que ele. A frase foi lembrada ontem, durante o enterro do corpo do arquiteto no Rio, pelo cineasta e produtor Luiz Carlos Barreto, que fez duras críticas à falta de homenagens oficiais a um dos maiores nomes da arquitetura mundial. "É inaceitável que, quando morre aquele que representa um dos pilares da cultura brasileira, a única manifestação do governo federal seja uma nota oficial do presidente", disse Barreto. Filho de brasileiros, Lucio Costa nasceu em Toulon, França, em 1902, viveu em outros países da Europa, retornou em 1916 ao Brasil, onde viveu até morrer em seu apartamento do Leblon (zona sul do Rio), na manhã de sábado, de causas naturais. Ao seu sepultamento, ontem no cemitério do Caju (zona norte do Rio), compareceram cerca de 300 amigos e admiradores. Segundo Luiz Carlos Barreto, amigo de Costa desde os anos 60 e um dos presentes ao enterro, quando falava do Brasil, o arquiteto abandonava a discrição -uma de suas principais características- para ser ufanista. "O Brasil não tem vocação para a mediocridade", gostava de repetir Lucio Costa. Segundo Barreto, a frase "foi desmentida pelo Brasil institucional no momento de sua morte".
Nota oficial
A Presidência da República divulgou anteontem uma declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a morte do arquiteto, na qual afirma que "o Brasil perde uma de suas maiores personalidades, que soube unir competência e arte, elevando o nome do nosso país..."
Segundo Barreto, "o mínimo que o governo poderia fazer seria oferecer o Palácio Gustavo Capanema para ser realizado o velório", referindo-se à ex-sede do Ministério da Educação no Rio.
Em 1936, Lucio Costa foi convidado para criar o projeto da sede do MEC, no centro da cidade, pelo ministro Gustavo Capanema.
O projeto do prédio -atual Palácio da Cultura Gustavo Capanema- realizado com a colaboração do já consagrado arquiteto francês Le Corbusier (1887-1965), um dos mestres da arquitetura mundial, é considerado um marco na arquitetura moderna brasileira. A filha mais velha de Lucio Costa, Maria Elisa, afirmou que não foi procurada para qualquer homenagem oficial a seu pai.
O ministro da Ciência e Tecnologia, José Israel Vargas, compareceu ao enterro como representante de Fernando Henrique.
"É uma perda inestimável. Não fizemos homenagem maior porque a própria família pediu uma cerimônia discreta", disse Vargas.
O governador do Rio, Marcello Alencar, enviou mensagem de pêsames à família, mas não compareceu ao enterro.
Allencar afirmou que decretará luto oficial no Rio por três dias. "Lucio Costa não foi só um urbanista. Foi uma das pessoas mais importantes do nosso tempo", disse o governador.
Com relação à falta de homenagens oficiais, a filha de Lucio Costa declarou: "Não estou preocupada com isso, até porque não é meu problema e sim da cultura brasileira".
O governador do Distrito Federal, Cristóvam Buarque -depois de anunciar anteontem que pretendia dar o nome de Lucio Costa ao Eixo Monumental, a principal avenida de Brasília- teve de restringir sua homenagem ao arquiteto decretando luto oficial por três dias na capital do país.
Por desejo de Costa, nenhuma rua ou avenida de Brasília deve ter nome de pessoas, informou a família do arquiteto.



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