São Paulo, segunda, 15 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÍDEO LANÇAMENTOS
Genialidade de Lang chega em seis obras

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Seis filmes fundamentais do cineasta alemão de origem austríaca Fritz Lang (1890-1976) chegam ao vídeo, lançados pela Continental.
Três deles -"A Morte Cansada" (1921), o primeiro "Dr. Mabuse" (1922) e "Os Nibelungos" (1923/24)- fazem parte de um pacote de cinco fitas ("Dr. Mabuse" e "Os Nibelungos" têm duas partes cada), todas do período mudo.
Fora do pacote, estão saindo o também mudo "Os Espiões" (1928) e os dois últimos filmes americanos do diretor, "No Silêncio de uma Cidade" e "Suplício de uma Alma", ambos de 1956.
Para divulgar o lançamento das fitas, a Continental promove a partir do próximo dia 17, no MIS, uma mostra de obras de Fritz Lang (leia programação). Na sessão de abertura, quarta-feira, às 20h30, "A Morte Cansada" terá trilha sonora ao vivo, composta e executada pelo músico Paulo Beto.
Nada mais adequado. "A Morte Cansada" não é apenas o título mais antigo entre os lançamentos. É também, segundo os críticos, o primeiro "autêntico" filme de Fritz Lang, aquele em que pela primeira vez aparece de modo pleno sua capacidade de esculpir com a luz imagens de intensa força estética e dramática.
Se em "A Morte Cansada" (leia sinopses abaixo) vemos em ação a prodigiosa fantasia visual do diretor, nas duas partes do primeiro "Dr. Mabuse" entramos na visão sombria que Lang fazia da Alemanha de seu tempo, mergulhada no caos do período entre-guerras.
Nesse universo noturno e subterrâneo (que reapareceria em "M, o Vampiro de Dusseldorf" e em "O Testamento do Dr. Mabuse"), nublado pela fumaça dos salões de jogo e de dança, o mal surge como uma emanação do espírito humano doentio, encarnado na figura de Mabuse, gênio da hipnose e do disfarce.
A epopéia "Os Nibelungos", por sua vez, dividida nas partes "A Morte de Siegfried" e "A Vingança de Kriemhild", testemunha a exaltação de Lang às heróicas origens do povo germânico.
Do ponto de vista cinematográfico, "Os Nibelungos" mostra um cineasta excepcionalmente criativo no uso da iluminação e da arquitetura (sua profissão de origem) com propósitos dramáticos.
"Os Espiões" é tradicionalmente visto como um filme menor do diretor. É quase uma diluição de "Mabuse", com o mesmo ator, Rudolf Klein-Rogge, no papel de Haighi, um supervilão que controla uma rede de espiões.
Já os dois títulos americanos -os únicos sonoros entre os lançamentos- atestam a capacidade de Fritz Lang de manter um grau razoável de estilo e personalidade no interior do sistema de estúdios de Hollywood.
Tanto "No Silêncio de uma Cidade" como "Suplício de uma Alma" colocam em cena temas caros ao diretor: os crimes sexuais, a pena de morte, o papel da imprensa.
Se não têm a intensidade febril de um "Mabuse" nem a invenção visual de um "Os Nibelungos", compensam isso com a perícia narrativa, o uso da ironia e o controle do andamento dramático.
Enfim, um bom resumo da obra de um cineasta que se pode acusar de tudo -racismo, arrogância, egolatria-, menos de não saber fazer cinema.

Pacote: Fritz Lang (cinco fitas), mais as três outras fitas Lançamento: Continental Vídeo (tel. 011/284-9479) Quanto: R$ 120 (pacote de cinco fitas); R$ 49 cada fita


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.