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LIVROS/LANÇAMENTOS
Obras exumam derrota do Brasil na Copa de 50
JOSÉ GERALDO COUTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O maior estádio do mundo, a
maior derrota do mundo.
Ambos estão completando meio
século -e cada um desses aniversários tem um sentido oposto para a história afetiva do país.
Qualquer brasileiro sabe que estamos falando do Maracanã,
inaugurado há 50 anos e um mês,
e da derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950,
que faz meio século amanhã.
Aproveitando o "gancho" das
efemérides, quatro livros passam
em revista os detalhes, os personagens e o sentido dessa história.
Dois deles referem-se ao estádio: "Maracanã - Meio Século de
Paixão", de João Máximo, e "Maracanã - 50 Anos de Glória", de
Renato Sérgio.
Os outros dois exumam a derrota diante do Uruguai: "Barbosa
- Um Gol Faz 50 Anos", de Roberto Muylaert, e "Dossiê 50", de Geneton Moraes Neto.
"Complexo de vira-lata"
Embora seus enfoques e fontes
variem, os quatro autores concordam numa coisa: no espaço de
um mês, o Brasil passou da euforia de se considerar finalmente
uma potência capaz das maiores
proezas da Terra ao que Nelson
Rodrigues chamou de "complexo
de vira-lata", o sentimento de que
éramos uma nação cronicamente
inviável.
A força conjugada desses dois
trancos funcionou como um rito
de passagem para o país, que intensificava na mesma época seu
processo de urbanização, crescimento industrial e integração no
mercado internacional.
Cada um dos quatro livros tem
seus trunfos específicos.
O mais vistoso e agradável de
ler/ver é o luxuoso "Maracanã -Meio Século de Paixão", de João
Máximo, edição de capa dura, fartamente ilustrado com fotos.
Mas não se trata de um volume
decorativo. Dá-lhe substância
uma rigorosa pesquisa, aliada ao
texto expressivo e enxuto de Máximo, craque do jornalismo.
Lendo o livro, percebemos que
o tom ufanista que marcou a
construção e inauguração do Maracanã desembocou quase naturalmente na derrota de 50, como
um enredo de tragédia (ou farsa)
previamente escrito.
O clima de "já ganhou", o uso
político do estádio e da Copa pelos oportunistas de sempre, tudo
isso se condensou no incrível discurso do prefeito do Distrito Federal, general Mendes de Moraes,
pouco antes do jogo.
Em resumo, disse o prefeito aos
jogadores brasileiros: "Cumpri a
minha obrigação construindo este estádio. Agora cumpram a sua,
ganhando a Copa". Sutil como
um Eurico Miranda.
Depois desse início denso, Máximo entrega-se à festa, rememorando craques, gols e lances que
fizeram a história do estádio.
O livro "Maracanã - 50 Anos de
Glória", de Renato Sérgio, também traz informações exaustivas
sobre os bastidores da construção
do Maracanã e o contexto político-cultural da Copa de 50, e festeja igualmente os personagens e
eventos mais memoráveis.
Nenhum dos dois livros, aliás,
se restringe ao que ocorreu dentro
de campo, mas narra também
histórias saborosas ou trágicas
ocorridas na arquibancada. A diferença entre ambos, além do luxo, é que o texto de Máximo é
mais elaborado e pessoal, enquanto Renato Sérgio praticamente se limitou (o que já é muito) a transcrever reportagens e artigos da imprensa.
Os dois livros que se debruçam
sobre a derrota de 50 centraram
seu foco nos protagonistas da tragédia, os jogadores. Muylaert radicalizou a opção, concentrando-se no goleiro Barbosa, injustamente responsabilizado por muitos pela "débâcle".
Não por acaso, o relato pormenorizado do segundo gol uruguaio (o resultado foi 2 a 1) ocupa
dezenas de páginas do livro, que
narra pela primeira vez o inusitado churrasco em que, em 1963,
Barbosa queimou as traves em
que ocorrera o gol fatídico.
Geneton Moraes Neto, por sua
vez, realizou um "tour de force"
jornalístico: entrevistou todos os
11 jogadores da final e mais o técnico Flávio Costa.
Os depoimentos de alguns deles
(Barbosa, Bigode) são pungentes,
os de outros (Bauer, Zizinho) são
serenos e esclarecedores. Os quatro livros são assombrados por
um fantasma: o do capitão do time uruguaio, Obdulio Varela,
personagem fantástico, que liderou como um leão seus companheiros, silenciou o Maracanã e
depois foi beber e chorar nos bares cariocas com brasileiros que
não conhecia.
Assim como, nesta resenha, a
palavra mágica que não está escrita, mas que todo mundo leu, é,
evidentemente, futebol.
Maracanã - Meio Século de
Paixão
Autor: João Máximo
Editora: DBA
Quanto: R$ 95 (160 páginas)
Maracanã - 50 Anos de Glória
Autor: Renato Sérgio
Editora: Ediouro
Quanto: R$ 39 (240 págs.)
Dossiê 50
Autor: Geneton Moraes Neto
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 16,90 (164 págs.)
Barbosa - Um Gol Faz 50 Anos
Autor: Roberto Muylaert
Editora: RMC
Quanto: R$ 30 (250 págs.)
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