São Paulo, sábado, 15 de julho de 2000


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LIVROS/LANÇAMENTOS
Obras exumam derrota do Brasil na Copa de 50

JOSÉ GERALDO COUTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O maior estádio do mundo, a maior derrota do mundo. Ambos estão completando meio século -e cada um desses aniversários tem um sentido oposto para a história afetiva do país.
Qualquer brasileiro sabe que estamos falando do Maracanã, inaugurado há 50 anos e um mês, e da derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, que faz meio século amanhã.
Aproveitando o "gancho" das efemérides, quatro livros passam em revista os detalhes, os personagens e o sentido dessa história.
Dois deles referem-se ao estádio: "Maracanã - Meio Século de Paixão", de João Máximo, e "Maracanã - 50 Anos de Glória", de Renato Sérgio.
Os outros dois exumam a derrota diante do Uruguai: "Barbosa - Um Gol Faz 50 Anos", de Roberto Muylaert, e "Dossiê 50", de Geneton Moraes Neto.

"Complexo de vira-lata"
Embora seus enfoques e fontes variem, os quatro autores concordam numa coisa: no espaço de um mês, o Brasil passou da euforia de se considerar finalmente uma potência capaz das maiores proezas da Terra ao que Nelson Rodrigues chamou de "complexo de vira-lata", o sentimento de que éramos uma nação cronicamente inviável.
A força conjugada desses dois trancos funcionou como um rito de passagem para o país, que intensificava na mesma época seu processo de urbanização, crescimento industrial e integração no mercado internacional.
Cada um dos quatro livros tem seus trunfos específicos.
O mais vistoso e agradável de ler/ver é o luxuoso "Maracanã -Meio Século de Paixão", de João Máximo, edição de capa dura, fartamente ilustrado com fotos.
Mas não se trata de um volume decorativo. Dá-lhe substância uma rigorosa pesquisa, aliada ao texto expressivo e enxuto de Máximo, craque do jornalismo.
Lendo o livro, percebemos que o tom ufanista que marcou a construção e inauguração do Maracanã desembocou quase naturalmente na derrota de 50, como um enredo de tragédia (ou farsa) previamente escrito.
O clima de "já ganhou", o uso político do estádio e da Copa pelos oportunistas de sempre, tudo isso se condensou no incrível discurso do prefeito do Distrito Federal, general Mendes de Moraes, pouco antes do jogo.
Em resumo, disse o prefeito aos jogadores brasileiros: "Cumpri a minha obrigação construindo este estádio. Agora cumpram a sua, ganhando a Copa". Sutil como um Eurico Miranda.
Depois desse início denso, Máximo entrega-se à festa, rememorando craques, gols e lances que fizeram a história do estádio.
O livro "Maracanã - 50 Anos de Glória", de Renato Sérgio, também traz informações exaustivas sobre os bastidores da construção do Maracanã e o contexto político-cultural da Copa de 50, e festeja igualmente os personagens e eventos mais memoráveis.
Nenhum dos dois livros, aliás, se restringe ao que ocorreu dentro de campo, mas narra também histórias saborosas ou trágicas ocorridas na arquibancada. A diferença entre ambos, além do luxo, é que o texto de Máximo é mais elaborado e pessoal, enquanto Renato Sérgio praticamente se limitou (o que já é muito) a transcrever reportagens e artigos da imprensa.
Os dois livros que se debruçam sobre a derrota de 50 centraram seu foco nos protagonistas da tragédia, os jogadores. Muylaert radicalizou a opção, concentrando-se no goleiro Barbosa, injustamente responsabilizado por muitos pela "débâcle".
Não por acaso, o relato pormenorizado do segundo gol uruguaio (o resultado foi 2 a 1) ocupa dezenas de páginas do livro, que narra pela primeira vez o inusitado churrasco em que, em 1963, Barbosa queimou as traves em que ocorrera o gol fatídico.
Geneton Moraes Neto, por sua vez, realizou um "tour de force" jornalístico: entrevistou todos os 11 jogadores da final e mais o técnico Flávio Costa.
Os depoimentos de alguns deles (Barbosa, Bigode) são pungentes, os de outros (Bauer, Zizinho) são serenos e esclarecedores. Os quatro livros são assombrados por um fantasma: o do capitão do time uruguaio, Obdulio Varela, personagem fantástico, que liderou como um leão seus companheiros, silenciou o Maracanã e depois foi beber e chorar nos bares cariocas com brasileiros que não conhecia.
Assim como, nesta resenha, a palavra mágica que não está escrita, mas que todo mundo leu, é, evidentemente, futebol.


Maracanã - Meio Século de Paixão
    
Autor: João Máximo Editora: DBA Quanto: R$ 95 (160 páginas)




Maracanã - 50 Anos de Glória     
Autor: Renato Sérgio Editora: Ediouro Quanto: R$ 39 (240 págs.)




Dossiê 50     
Autor: Geneton Moraes Neto Editora: Objetiva Quanto: R$ 16,90 (164 págs.)




Barbosa - Um Gol Faz 50 Anos     
Autor: Roberto Muylaert Editora: RMC Quanto: R$ 30 (250 págs.)




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