São Paulo, sábado, 15 de julho de 2000


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Estrela precoce teima em ter a simplicidade de uma vida normal

ESPECIAL PARA A FOLHA

O combinado era que Sandy me ligasse para ser montado um perfil, o porto em que atraca a maioria das entrevistas. Tudo o que eu queria saber era sobre o dia-a-dia de uma estrela precoce. Conseguia ela, com 17 anos, morando em Campinas (SP), ter a vida de uma garota de 17 anos?
Sandy ligou de um celular, enquanto esperava o começo do show "Quatro Estações", no Olympia. Perguntei onde estava Junior. Ele passava o som.
O combinado era que eu também entrevistasse Junior, condição estipulada pela mãe Noely (empresária da dupla), para dirimir dúvidas sobre a saúde da união da dupla. Mas Junior passava o som.
Perguntei em que ano ela estava. "Termino o colegial. Vou prestar vestibular neste ano, para psicologia. Gosto de tentar entender a cabeça das pessoas. É uma realização pessoal, fazer faculdade, apesar de eu estar consciente de que preciso, agora, me dedicar à carreira. Se eu entrar na faculdade, pretendo trancar a matrícula e só frequentar daqui a uns anos...", ela vai dizendo, apesar de eu ter apenas perguntado em que ano ela estava.
Perguntei o nome de sua escola. Ela disse que não podia revelar, por questões de segurança. Medo de sequestro, pensei. Imaginei o quanto deve ser tensa a vida dessa garota. Logo depois, ela acabou revelando sem querer o nome da escola, entre risos. Não parece tensa a vida dessa garota.
A ligação caía. Era ela quem ligava de novo. Ligava e perguntava: "Onde paramos?". Caía a ligação, e ela ligava de novo e perguntava: "Onde paramos?".
Se meus sobrinhos vissem aquilo, a garota do momento ligando insistentemente para o velho lobo tio Marcelo, eles ficariam com orgulho de mim e teriam muito o que contar na escola.
Falamos de sua rotina. "Gosto muito de ir ao cinema, ao shopping, com as amigas. Adorei "Cidade dos Anjos". Vi cinco vezes. Em todas, chorei. Tenho um cineminha em casa, mas prefiro sair. Não ando disfarçada, mas evito os horários de pico. Uma vez, um shopping parou por minha causa. Fiquei assustada", ela riu.
Falamos de poesia. Ela escreve. "As Quatro Estações" e "Olha o Que o Amor Me Fez" são letras suas, extraídas de um caderno de poesia. "São poesias muito pessoais", ela disse. "Sobre o que você escreve?", perguntei. "Sobre o que o amor me faz", ela respondeu. "O que o amor te faz?", perguntei. "Ver estrelas", respondeu.
Falamos de namoro. "Eu tenho um namorado. Paulinho Vilhena. Ele é ator e faz o programa comigo". "Seu primeiro namorado?", perguntei. "Segundo. Eu já tinha namorado o Lucas, da família Lima. Você não sabia?" "Não", eu disse. "Que bom. Eu estava morrendo de medo que você me perguntasse coisas íntimas", ela disse.
Pensei: como jornalista, eu deveria perguntar se ela era virgem, se tinha experimentado drogas, se era a favor do aborto e o que achou das fotos que rodam a Internet em que ela aparece nua. São as perguntas costumeiramente presentes. Será que alguém ainda aguenta ler a resposta à pergunta "você já experimentou drogas"?
Não perguntei nada disso. Não dignifico a profissão. Falei apenas: "Dois namorados?! Como você é namoradeira...". Ela riu. "Só dois namorados. Você acha muito?"
É, não é muito. Ela parece teimar em ter uma vida normal. Parece querer a simplicidade dos 17 anos. Então ela voltou a ser Sandy, e eu, um jornalista displicente. (MRP)


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