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Estrela precoce teima em ter a simplicidade de uma vida normal
ESPECIAL PARA A FOLHA
O combinado era que Sandy me
ligasse para ser montado um perfil, o porto em que atraca a maioria das entrevistas. Tudo o que eu
queria saber era sobre o dia-a-dia
de uma estrela precoce. Conseguia ela, com 17 anos, morando
em Campinas (SP), ter a vida de
uma garota de 17 anos?
Sandy ligou de um celular, enquanto esperava o começo do
show "Quatro Estações", no
Olympia. Perguntei onde estava
Junior. Ele passava o som.
O combinado era que eu também entrevistasse Junior, condição estipulada pela mãe Noely
(empresária da dupla), para dirimir dúvidas sobre a saúde da
união da dupla. Mas Junior passava o som.
Perguntei em que ano ela estava. "Termino o colegial. Vou
prestar vestibular neste ano, para
psicologia. Gosto de tentar entender a cabeça das pessoas. É uma
realização pessoal, fazer faculdade, apesar de eu estar consciente
de que preciso, agora, me dedicar
à carreira. Se eu entrar na faculdade, pretendo trancar a matrícula e
só frequentar daqui a uns anos...",
ela vai dizendo, apesar de eu ter
apenas perguntado em que ano
ela estava.
Perguntei o nome de sua escola.
Ela disse que não podia revelar,
por questões de segurança. Medo
de sequestro, pensei. Imaginei o
quanto deve ser tensa a vida dessa
garota. Logo depois, ela acabou
revelando sem querer o nome da
escola, entre risos. Não parece
tensa a vida dessa garota.
A ligação caía. Era ela quem ligava de novo. Ligava e perguntava: "Onde paramos?". Caía a ligação, e ela ligava de novo e perguntava: "Onde paramos?".
Se meus sobrinhos vissem aquilo, a garota do momento ligando
insistentemente para o velho lobo
tio Marcelo, eles ficariam com orgulho de mim e teriam muito o
que contar na escola.
Falamos de sua rotina. "Gosto
muito de ir ao cinema, ao shopping, com as amigas. Adorei "Cidade dos Anjos". Vi cinco vezes.
Em todas, chorei. Tenho um cineminha em casa, mas prefiro sair.
Não ando disfarçada, mas evito os
horários de pico. Uma vez, um
shopping parou por minha causa.
Fiquei assustada", ela riu.
Falamos de poesia. Ela escreve.
"As Quatro Estações" e "Olha o
Que o Amor Me Fez" são letras
suas, extraídas de um caderno de
poesia. "São poesias muito pessoais", ela disse. "Sobre o que você escreve?", perguntei. "Sobre o
que o amor me faz", ela respondeu. "O que o amor te faz?", perguntei. "Ver estrelas", respondeu.
Falamos de namoro. "Eu tenho
um namorado. Paulinho Vilhena.
Ele é ator e faz o programa comigo". "Seu primeiro namorado?",
perguntei. "Segundo. Eu já tinha
namorado o Lucas, da família Lima. Você não sabia?" "Não", eu
disse. "Que bom. Eu estava morrendo de medo que você me perguntasse coisas íntimas", ela disse.
Pensei: como jornalista, eu deveria perguntar se ela era virgem,
se tinha experimentado drogas, se
era a favor do aborto e o que
achou das fotos que rodam a Internet em que ela aparece nua.
São as perguntas costumeiramente presentes. Será que alguém ainda aguenta ler a resposta à pergunta "você já experimentou drogas"?
Não perguntei nada disso. Não
dignifico a profissão. Falei apenas: "Dois namorados?! Como
você é namoradeira...". Ela riu.
"Só dois namorados. Você acha
muito?"
É, não é muito. Ela parece teimar em ter uma vida normal. Parece querer a simplicidade dos 17
anos. Então ela voltou a ser
Sandy, e eu, um jornalista displicente.
(MRP)
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