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Antunes tem pressa
Inspirado pela videoarte, Antunes Filho apresenta ágil montagem de
"A Falecida", de Nelson Rodrigues
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Prestes a completar 80 anos,
o diretor Antunes Filho está
farto daquilo que sabe sobre
teatro. Para espantar o tédio,
acelerou o tempo. Agora é DJ.
Em "A Falecida Vapt-Vupt",
que faz três apresentações no
Festival Internacional de São
José do Rio Preto (SP) antes de
iniciar temporada em São Paulo, ele sobrepõe camadas, tempos, espaços, como um disc-jóquei saído da pista para o palco.
A intriga da peça de Nelson
Rodrigues é simples: a dona de
casa do subúrbio carioca Zulmira quer se despedir de uma
vida de dissabores num enterro
grã-fino, com crucifixo de cristal, caixão com alças de bronze,
cavalos com penachos e tudo
mais que houver. De tanto criar
expectativa pelo próprio funeral, adoece de fato.
Antunes e seu grupo Macunaíma retomam a história em
alta voltagem. As cenas na casa
da protagonista, no consultório
médico a que ela vai e na funerária em que arquiteta o seu
"grand-finale" se sucedem em
ritmo vertiginoso. Não raro, há
simultaneidade de ações: o fim
de um diálogo acontece em paralelo ao começo de outro, em
tempo-lugar distinto.
A isso, o diretor acrescenta o
ruído incessante de um bar,
único cenário concreto da
montagem (os outros são sugeridos), delimitado ao fundo por
uma parede branca coberta de
"pichações de banheiro", como
ele descreve. A inspiração são
os retratos "secos, enxutos" do
precursor da pop art, Andy
Warhol (1928-1987).
"Quero uma imagem dura,
seca, árida, não mais aquela
clássica, cheia de sombras, de
aura. O barulho de fundo é para
aturdir, tontear, manter uma
atmosfera sufocante, mostrar
como estamos zonzos", diz.
15 minutos de fama
Antunes também recorre a
Warhol para explicar a obsessão de Zulmira. "Quanto mais
você é pisado, mais você sonha.
Ela quer um momento de glória, os seus 15 minutos de fama.
A esperança, a porra da esperança é tudo no homem, mesmo que seja para a morte."
Mais até do que a pop art, Antunes bebe aqui na fonte da videoarte e da radicalização da
ideia de tempo e espaço comprimidos, condensados.
"De repente, percebi que tinha de pegar alguma coisa desse bombardeamento eletrônico
que estava lá fora. Senão, estaria no tempo da vovó. Tenho de
oferecer algo que leve o espectador a outra dimensão do teatro. Não dá mais para ser naturalista nem realista. Tem de fugir do cânone", avalia.
Para quem ficou conhecido
por encenações de marcação rigorosa e formalismo agudo, a
afirmação soa como uma alforria. "Estou cada vez mais aberto, em busca do imprevisível.
Aquilo que sei em termos de
teatro é muito miserável."
Mas devagar com o andor. O
fascínio de Antunes pela videoarte não deve se traduzir
tão cedo no uso de projeções ou
pirotecnias multimídia em cena. "Não é assim! Faça teatro
com as armas dele. É muito
mais ousado e essencial. O negócio é tomar emprestados os
impulsos, os neurônios das outras artes que estão no ar."
Como ele fez em "Foi Carmen" (2005/08), seu espetáculo anterior, um "poema teatral"
construído a partir do imaginário associado a Carmen Miranda -e que também resultava
numa ode ao dançarino japonês Kazuo Ohno.
""A Falecida Vapt-Vupt" é o
antípoda de "Foi Carmen". Ali,
tratava-se de um tempo oriental, estático, cheio de vãos de silêncio. Agora, é um tempo avassalador, do consumismo, da sociedade do espetáculo. Este é
yang, aquele era yin."
DJ Antunes sabe o que quer
com suas picapes.
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