São Paulo, Quinta-feira, 15 de Julho de 1999
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Peça "Henrique 5º" chega tardia aos palcos franceses

do enviado a Avignon


A França só agora conheceu sua versão teatral de "Henrique 5º". Embora a peça trate da invasão da França pelo rei inglês no século 15, tanto o diretor quanto o tradutor da peça para o francês creditam a demora ao fato de ser "um Shakespeare" diferente.
Nesta semana, os dois cumpriram rotinas diferentes em Avignon, o principal festival de teatro e dança da França. Benoît continua atarefado com as próprias apresentações, enquanto Déprats, mais livre, consegue assistir a outras montagens.
Entre elas, cita "Le Colonel-Oiseau" (montagem francesa dirigida por Didier Bezace) como uma que "devolve o prazer do teatro". Déprats também viu a "Toda Nudez Será Castigada".
"Vi "Anjo Negro", gostei, mas acho que dessa vez ele não acertou a mão", afirmou. A Folha conversou com os dois sobre a montagem de "Henry 5º". (HCS)


Folha - "Henrique 5º" nunca havia sido montada na França, mas há várias traduções. Por que fazer uma nova?
Jean-Michel Déprats -
Realmente, há várias. Mas elas ou eram feitas para estudos universitários, e são muito literais, ou eram feitas para um leitor que não pretende montá-la. Shakespeare usa um francês medieval, ironicamente. Esse espírito se perde se esse francês não for atualizado.

Folha - A crítica francesa não gostou do espetáculo. "Henrique 5º" ainda fere o orgulho do público francês?
Jean-Louis Benoît -
Não foi o público que não gostou, foram um ou dois jornalistas parisienses, em dissonância com o gosto do público. A anglofobia é um fenômeno do passado, é uma peça histórica.

Déprats - Sentimos o contrário. Há uma anglofilia, uma amercianofilia entre os franceses. A França, hoje, celebra tudo que é inglês e americano. Ainda há uma certa francofobia entre as classes sociais mais baixas na Inglaterra, o que acaba sendo explorado por jornais populares. Mas não há um sentimento recíproco na França.

Folha - E por que "Henrique 5º" não havia sido montada ainda na França?
Déprats -
Não acho que seja pelo fato de ser antifrancesa, mas por ser uma história épica, triunfal, muito diferente do Shakespeare a que estamos acostumados, mais dramático, profundo. Acho que a grande questão era como tratar essa peça histórica.
Henrique 5º marca uma nova relação entre o soberano e o povo. O bom soberano, nesse caso, funda uma nova relação com o povo a partir de uma causa moral, uma causa justa.

Folha - A peça foi concebida para Avignon. Como vocês foram trabalhar juntos?
Benoît -
Há cerca de um ano, quando houve a decisão do festival de montá-la, procurei Déprats e pedi a tradução. Nunca havíamos feito nada juntos antes, mas já nos conhecíamos.

Déprats - Eu era um espectador fanático de Benoît e de seu teatro. Acho que o Teatro de Aquarium, que Benoît dirige, fez um dos mais belos trabalhos de criação coletiva.
Como eu já havia traduzido o texto para as legendas do filme "Henrique 5º", de Kenneth Branagh (ele também legendou "Hamlet"), uma parte da tradução já estava pronta. Tive de fazer algumas adaptações, claro.

Folha - A peça fará uma temporada fora de Avignon. Em dezembro, chega a Paris. Como é mudar de um cenário como o do Palácio dos Papas para um teatro convencional?
Benoît -
Claro que não teremos o fundo (ri). Mas o cenário deve continuar basicamente o mesmo. A montagem não depende assim do Palácio.


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