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Peça "Henrique 5º" chega tardia aos palcos franceses
do enviado a Avignon
A França só agora conheceu sua
versão teatral de "Henrique 5º".
Embora a peça trate da invasão da
França pelo rei inglês no século
15, tanto o diretor quanto o tradutor da peça para o francês creditam a demora ao fato de ser "um
Shakespeare" diferente.
Nesta semana, os dois cumpriram rotinas diferentes em Avignon, o principal festival de teatro
e dança da França. Benoît continua atarefado com as próprias
apresentações, enquanto Déprats,
mais livre, consegue assistir a outras montagens.
Entre elas, cita "Le Colonel-Oiseau" (montagem francesa dirigida por Didier Bezace) como uma
que "devolve o prazer do teatro".
Déprats também viu a "Toda Nudez Será Castigada".
"Vi "Anjo Negro", gostei, mas
acho que dessa vez ele não acertou a mão", afirmou. A Folha
conversou com os dois sobre a
montagem de "Henry 5º".
(HCS)
Folha - "Henrique 5º" nunca
havia sido montada na França,
mas há várias traduções. Por
que fazer uma nova?
Jean-Michel Déprats - Realmente, há várias. Mas elas ou
eram feitas para estudos universitários, e são muito literais, ou
eram feitas para um leitor que não
pretende montá-la. Shakespeare
usa um francês medieval, ironicamente. Esse espírito se perde se
esse francês não for atualizado.
Folha - A crítica francesa não
gostou do espetáculo. "Henrique 5º" ainda fere o orgulho do
público francês?
Jean-Louis Benoît - Não foi o
público que não gostou, foram
um ou dois jornalistas parisienses, em dissonância com o gosto
do público. A anglofobia é um fenômeno do passado, é uma peça
histórica.
Déprats - Sentimos o contrário.
Há uma anglofilia, uma amercianofilia entre os franceses. A França, hoje, celebra tudo que é inglês
e americano. Ainda há uma certa
francofobia entre as classes sociais mais baixas na Inglaterra, o
que acaba sendo explorado por
jornais populares. Mas não há um
sentimento recíproco na França.
Folha - E por que "Henrique
5º" não havia sido montada ainda na França?
Déprats - Não acho que seja pelo fato de ser antifrancesa, mas
por ser uma história épica, triunfal, muito diferente do Shakespeare a que estamos acostumados, mais dramático, profundo.
Acho que a grande questão era
como tratar essa peça histórica.
Henrique 5º marca uma nova
relação entre o soberano e o povo.
O bom soberano, nesse caso, funda uma nova relação com o povo
a partir de uma causa moral, uma
causa justa.
Folha - A peça foi concebida
para Avignon. Como vocês foram trabalhar juntos?
Benoît - Há cerca de um ano,
quando houve a decisão do festival de montá-la, procurei Déprats
e pedi a tradução. Nunca havíamos feito nada juntos antes, mas
já nos conhecíamos.
Déprats - Eu era um espectador
fanático de Benoît e de seu teatro.
Acho que o Teatro de Aquarium,
que Benoît dirige, fez um dos
mais belos trabalhos de criação
coletiva.
Como eu já havia traduzido o
texto para as legendas do filme
"Henrique 5º", de Kenneth Branagh (ele também legendou
"Hamlet"), uma parte da tradução já estava pronta. Tive de fazer
algumas adaptações, claro.
Folha - A peça fará uma temporada fora de Avignon. Em dezembro, chega a Paris. Como é
mudar de um cenário como o do
Palácio dos Papas para um teatro convencional?
Benoît - Claro que não teremos
o fundo (ri). Mas o cenário deve
continuar basicamente o mesmo.
A montagem não depende assim
do Palácio.
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