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FESTIVAL
Filmes do evento trazem a volta em peso do time gaúcho e prestam homenagens a grandes personalidades
Tendências dividem curtas em Gramado
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado
O júri de curtas-metragens
do Festival de
Gramado, no
Rio Grande do
Sul, vai ter um
trabalho difícil.
Até ontem,
quando faltavam ser exibidos quatro concorrentes, o número de filmes premiáveis já era enorme.
Duas tendências chamam a atenção: a volta em peso do time gaúcho (há curtas de Jorge Furtado,
José Pedro Goulart e Carlos Gerbase) e a predominância dos filmes
centrados em "grandes vultos"
(Nelson Sargento, Glauber Rocha,
Carybé, Padre José Mauricio, João
Cabral de Melo Neto).
Os dois curtas gaúchos exibidos
até anteontem dividiram opiniões.
"Angelo Anda Sumido", de Jorge
Furtado, é um retrato ácido -ainda que bem-humorado- do isolamento, do medo e da indiferença
diante do outro nas grandes cidades. Sua ausência de desfecho deixou muita gente perplexa.
"Sexo & Beethoven - O Reencontro", de Carlos Gerbase, começa prometendo ser o filme mais
desbocado e obsceno da história,
mas se revela "apenas" uma comédia de costumes um tanto mais
picante e original que a média.
Dois amigos que dividem apartamento recebem prostitutas para
passar a noite e travam com elas o
que se pode chamar de choque cultural, com direito a alguns diálogos memoráveis que misturam Sófocles e Paulo Coelho.
Grandes personalidades
Entre os filmes-homenagem,"Nelson Sargento", de Estevão Ciavatta Pantoja, arrebatou o
público pela delicadeza com que
expôs a personalidade e o gênio do
sambista, mostrando-o em seu
elemento, o morro da Mangueira.
O formato do filme -mesclando depoimentos de gente famosa e
gente desconhecida e imagens da
vida no bairro- lembra bastante
o programa televisivo "Brasil Legal", no qual o cineasta trabalha.
A mais pessoal das homenagens,
entretanto, é "À Meia-Noite com
Glauber", de Ivan Cardoso.
Em sua fusão de concretismo e
brutalismo, trash e erudição, o filme é muito mais Ivan Cardoso que
Glauber Rocha.
É um clipe frenético de filmes de
Glauber e Zé do Caixão, depoimentos do diretor baiano e de Helio Oiticica, sob a voz cavernosa de
Jorge Ramos lendo texto de Haroldo de Campos.
A melhor definição do filme foi
dada por Lucia Rocha, mãe de
Glauber, presente em Gramado:
"É um filme sobre um louco feito
por outro louco".
"O Capeta Carybé", de Agnaldo
Siri Azevedo, sustenta-se nas cores
e formas sensuais das obras do artista argentino-baiano, contrapostas às imagens de uma Bahia mítica que está sendo devastada.
Outro filme que conquistou público e crítica é "Recife de Dentro
pra Fora", de Kátia Mesel. Sob os
versos do poema "O Cão sem Plumas", de João Cabral de Melo Neto, musicado por Geraldo Azevedo, desfilam imagens contundentes do rio Capibaribe e das populações que vivem nele e dele.
É também um filme-homenagem, já que abre com um depoimento de João Cabral sobre sua relação com o rio.
"Amar", de Carlos Gregório,
também agradou, com sua delicada trama de romances transitórios
e frustrados. É uma espécie de
"Pequeno Dicionário Amoroso"
concentrado e melhorado.
"Remanescências", de Carlos
Adriano, que extrai todas as possibilidades estéticas dos 11 primeiros
fotogramas filmados no Brasil, enfrenta dois problemas: a duração
demasiado longa e a resistência do
espectador (e de parte da crítica)
ao cinema conceitual.
O desenho animado "O Arraial", de Otto Guerra e Adalgisa
Luz, encantou o público com seu
traço rústico, que condiz com seu
tema: a Guerra de Canudos vista
por uma menina do sertão.
Ainda mais surpreendente é a
animação "Recital", de Daniel
Schorr, de apenas três minutos.
Feito basicamente com desenho
sobre película, mostra um boneco
que deseja tocar um instrumento.
É um prodígio de ritmo e vibração.
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