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Crítica/"Nossa Vida Não Cabe Num Opala"
Com traços cartunescos, longa é um pacote indigesto
Dirigido por Reinaldo Pinheiro, filme é baseado em história de Mário Bortolotto
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Na primeira cena de
"Nossa Vida Não Cabe
num Opala", depois do
plano fixo inicial e da bela seqüência gráfica dos créditos, a
câmera perscruta um bar-e-sinuca paulistano de terceira categoria. Detém-se no garçom
que limpa o ranho do nariz com
a mesma mão que ajeita salgadinhos numa bandeja. Temendo que não tenhamos reparado
na nojeira, repete seus gestos.
A insistência mostra que o
autor da história, Mário Bortolotto, e o diretor do filme, Reinaldo Pinheiro, não estão para
sutilezas. A trajetória da família
Castilho, de classe média baixa,
é narrada com tintas carregadas e traços cartunescos que remetem ao universo "podreira"
de Robert Crumb.
São quatro irmãos. Dois deles, o primogênito Monk (Leonardo Medeiros) e o mentecapto Lupa (Milhem Cortaz), roubam carros, como o pai, Oswaldão (Paulo César Peréio), que
acaba de morrer.
O caçula, Slide (Gabriel Pinheiro), anda de skate e pratica
pequenos furtos. Assim como
Monk, que poderia ter sido um
campeão (sim, o personagem é
puro clichê), Slide tem talento
para o boxe. A bela Magali (Maria Manuela) é a irmã que toca
teclados numa churrascaria e
se esquiva das investidas de Gomes (Jonas Bloch), dono de um
desmanche, empresário de boxe e gângster local.
Estamos diante de uma espécie de "Rocco e seus Irmãos" da
marginália, sem grandeza e
sem poesia. Às vezes o fantasma do velho Oswaldão aparece
para cada um dos filhos, como
um Hamlet pervertido. E há,
por fim, a enigmática Silvia
(Maria Luisa Mendonça), com
a qual cada um dos irmãos varões passa, ou deveria passar,
uma noite de sexo.
São as mulheres, Magali e Silvia, que refratam e iluminam o
mundo escroto dos homens.
São elas também, em grande
parte graças ao talento das atrizes em cena, que conferem dimensão moral ao filme, impedindo-o de se refestelar na mera exibição do abjeto.
"Opala" traz a última aparição de Dercy Gonçalves nas telas, vociferando palavrões com
uma arma na mão. O filme é um
pouco como Dercy: um pacote
indigesto que se compra ou se
rejeita por inteiro.
NOSSA VIDA NÃO CABE NUM
OPALA
Produção: Brasil, 2008
Direção: Reinaldo Pinheiro
Com: Leonardo Medeiros, Milhem Cortaz, Jonas Bloch, Paulo César Peréio
Onde: em cartaz nos cines Reserva
Cultura, HSBC Belas Artes e circuito
Classificação indicativa: não recomendo para menores de 14 anos
Avaliação: bom
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