São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Crítica/"Zohan - O Agente Bom de Corte"

Sermão excessivo estraga comédia

Adam Sandler é o soldado israelense que vira cabeleireiro em filme que aborda o tema da superação das diferenças

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Não é incomum que a gente ria quando se depara com situações fora do lugar. Quando alguém tropeça e cai e quando um homem se veste de mulher, por exemplo. É daí que muitas comédias tiram a sua graça. Mas as melhores são as que oferecem algo mais que esse tipo de piada, o que não é o caso de "Zohan - O Agente Bom de Corte", que estréia hoje. O deslocamento fica por conta do "supersoldado" do Exército israelense que, cansado da beligerância entre seu povo e os vizinhos árabes, decide largar a vida de herói para realizar seu grande sonho: transformar-se em cabeleireiro dos salões de Paul Mitchell em Nova York. Por debaixo da truculência militar, Zohan é adepto da filosofia inversa, a do "faça amor, não faça guerra". E é isso que ele vai oferecer a suas clientes, velhinhas que fazem fila na porta do salão onde Zohan se emprega para receber os serviços do ex-combatente. A dupla formada pelo ator Adam Sandler e pelo diretor Dennis Dugan repete a fórmula de sua comédia anterior, "Eu os Declaro Marido e... Larry!", calcada do mesmo modo em uma combinação de tipos e situações deslocadas e, teoricamente, delicadas. A defesa do "casamento gay" que movia o filme anterior é substituída pela superação dos conflitos entre árabes e israelenses nesse território multicultural e paradisíaco de uma América de ficção. Isso permite ao filme até fazer um arriscado sarcasmo com o terrorismo. Talvez por se tratar de assunto com que não se brinca, Judd Apatow, considerado o atual mago da comédia, integra o time que assina o roteiro. Hábil em explorar a grosseria com certa leveza, Apatow empresta seus talentos para arrancar graça da sucessão de estereótipos sobre judeus e muçulmanos que move "Zohan". O problema, porém, é o mesmo que comprometia "Eu os Declaro Marido e... Larry!". Por mais que as situações esbarrem nos limites do politicamente incorreto, o que move o conjunto é a mentalidade contrária. A necessidade de acomodação dos conflitos tira gradualmente a comédia do terreno da provocação para instalá-la no reino do sermão, com lições finais sobre a paz entre todos os povos, a superação das diferenças e blablablás afins. Diante desse tipo de conversa fiada, vale mais ir em busca das ousadias que o palestino Elia Suleiman promove em suas comédias e que aqui ninguém tem a coragem de exibir em circuito comercial.

ZOHAN - O AGENTE BOM DE CORTE
Produção: EUA, 2008
Direção: Dennis Dugan
Com: Adam Sandler, John Turturro
Onde: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: ruim



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