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Crítica/"Zohan - O Agente Bom de Corte"
Sermão excessivo estraga comédia
Adam Sandler é o soldado israelense que vira cabeleireiro em filme que aborda o tema da superação das diferenças
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Não é incomum que a
gente ria quando se
depara com situações
fora do lugar. Quando alguém
tropeça e cai e quando um homem se veste de mulher, por
exemplo. É daí que muitas comédias tiram a sua graça. Mas
as melhores são as que oferecem algo mais que esse tipo de
piada, o que não é o caso de "Zohan - O Agente Bom de Corte",
que estréia hoje.
O deslocamento fica por conta do "supersoldado" do Exército israelense que, cansado da
beligerância entre seu povo e os
vizinhos árabes, decide largar a
vida de herói para realizar seu
grande sonho: transformar-se
em cabeleireiro dos salões de
Paul Mitchell em Nova York.
Por debaixo da truculência
militar, Zohan é adepto da filosofia inversa, a do "faça amor,
não faça guerra". E é isso que
ele vai oferecer a suas clientes,
velhinhas que fazem fila na
porta do salão onde Zohan se
emprega para receber os serviços do ex-combatente.
A dupla formada pelo ator
Adam Sandler e pelo diretor
Dennis Dugan repete a fórmula
de sua comédia anterior, "Eu os
Declaro Marido e... Larry!", calcada do mesmo modo em uma
combinação de tipos e situações deslocadas e, teoricamente, delicadas.
A defesa do "casamento gay"
que movia o filme anterior é
substituída pela superação dos
conflitos entre árabes e israelenses nesse território multicultural e paradisíaco de uma
América de ficção. Isso permite
ao filme até fazer um arriscado
sarcasmo com o terrorismo.
Talvez por se tratar de assunto com que não se brinca, Judd
Apatow, considerado o atual
mago da comédia, integra o time que assina o roteiro. Hábil
em explorar a grosseria com
certa leveza, Apatow empresta
seus talentos para arrancar graça da sucessão de estereótipos
sobre judeus e muçulmanos
que move "Zohan".
O problema, porém, é o mesmo que comprometia "Eu os
Declaro Marido e... Larry!". Por
mais que as situações esbarrem
nos limites do politicamente
incorreto, o que move o conjunto é a mentalidade contrária. A necessidade de acomodação dos conflitos tira gradualmente a comédia do terreno da
provocação para instalá-la no
reino do sermão, com lições finais sobre a paz entre todos os
povos, a superação das diferenças e blablablás afins.
Diante desse tipo de conversa fiada, vale mais ir em busca
das ousadias que o palestino
Elia Suleiman promove em
suas comédias e que aqui ninguém tem a coragem de exibir
em circuito comercial.
ZOHAN - O AGENTE
BOM DE CORTE
Produção: EUA, 2008
Direção: Dennis Dugan
Com: Adam Sandler, John Turturro
Onde: a partir de hoje nos cines Anália
Franco, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: ruim
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