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Som "misterioso" invade palco, mas João finge que não ouve
Folha acompanha dupla de engenheiros importada do Japão para o evento
IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN
O show não havia chegado
nem ao terceiro minuto quando, de repente, altíssimo, o som
de um Windows sendo desligado invade os alto-falantes de todo o Auditório Ibirapuera. João
Gilberto finge que não ouve e finaliza "Aos Pés da Cruz".
Na sala de som, entretanto, o
japonês Ken Kondo, 54, mal
pode acreditar. Engenheiro de
som que veio ao Brasil especialmente para cuidar do som da
apresentação, ele repetia: "Um
Windows, um Windows. De
onde veio esse som?".
"Fico sempre muito nervoso
na primeira música", contou
após o show. "Porque João
nunca faz passagem de som.
Mas foi tudo bem, acho que ele
deve ter gostado. O som daqui é
bom. Mas o Windows..."
Kondo chegou do Japão na
manhã de quarta com o diretor
de palco Toshihiko Usami, 52.
Os dois, por incrível que pareça,
adoram ouvir rock, mas enfrentaram uma viagem de 26 horas
e 18.517 km para ajudar João
Gilberto a fazer o oposto disso:
uma bossa nova bem tranqüila.
Os japoneses passaram a
quarta e a quinta no Auditório
Ibirapuera estudando a melhor
forma de amplificar um vocal
bem baixinho e um violão bem
suave para que sejam ouvidos
com clareza por 806 pessoas.
Falando um pouco em inglês
e muito em japonês, com auxílio de uma intérprete, os dois
tentam explicar as dificuldades
de trabalhar com João Gilberto. "É uma pessoa simples. E o
que temos no palco é simples.
São dois microfones", diz o engenheiro de som Ken Kendo.
"É um som de violão bem baixinho [fala baixinho] e o som do
vocal é bem baixinho também
[começa a sussurrar]. Temos
que amplificar isso e há algumas dificuldades quando isso
acontece", diz o diretor de palco Toshihiko Usami.
São apenas dois microfones
no palco, um para a voz e outro
para o violão. Mas a junção desses dois sons vão para diversos
tipos de caixas acústicas diferentes. As caixas do sistema
P.A. são as que o público ouve.
Já João Gilberto, no palco, escuta o som por meio de duas
caixas chamadas "monitores".
"Nós mixamos os dois microfones de uma forma para o monitor e de um jeito diferente para o P.A.", explica Usami. "Como eu mencionei, o som não é
alto. O monitor não pode estar
muito alto ou vai haver feedback. O que temos sempre que
pensar é, durante o todo o
show, onde está o limite para o
monitor e onde está o limite para o P.A. E tudo muda quando
as pessoas chegam e lotam o lugar. Nessa hora, todo o som e
eco do local ficam diferentes."
Kondo e Usami trabalham
com o brasileiro desde 2003,
quando participaram da gravação de seu último CD, "João
Gilberto in Tokyo". Desde então, a dupla preparou mais de
dez shows para ele. E já ouviu
as famosas reclamações? "Mas
não é sempre", diz Usami. "Na
minha experiência com ele, só
umas duas vezes..."
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