São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 2008

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Som "misterioso" invade palco, mas João finge que não ouve

Folha acompanha dupla de engenheiros importada do Japão para o evento

IVAN FINOTTI
EDITOR DO FOLHATEEN

O show não havia chegado nem ao terceiro minuto quando, de repente, altíssimo, o som de um Windows sendo desligado invade os alto-falantes de todo o Auditório Ibirapuera. João Gilberto finge que não ouve e finaliza "Aos Pés da Cruz".
Na sala de som, entretanto, o japonês Ken Kondo, 54, mal pode acreditar. Engenheiro de som que veio ao Brasil especialmente para cuidar do som da apresentação, ele repetia: "Um Windows, um Windows. De onde veio esse som?".
"Fico sempre muito nervoso na primeira música", contou após o show. "Porque João nunca faz passagem de som. Mas foi tudo bem, acho que ele deve ter gostado. O som daqui é bom. Mas o Windows..."
Kondo chegou do Japão na manhã de quarta com o diretor de palco Toshihiko Usami, 52. Os dois, por incrível que pareça, adoram ouvir rock, mas enfrentaram uma viagem de 26 horas e 18.517 km para ajudar João Gilberto a fazer o oposto disso: uma bossa nova bem tranqüila.
Os japoneses passaram a quarta e a quinta no Auditório Ibirapuera estudando a melhor forma de amplificar um vocal bem baixinho e um violão bem suave para que sejam ouvidos com clareza por 806 pessoas.
Falando um pouco em inglês e muito em japonês, com auxílio de uma intérprete, os dois tentam explicar as dificuldades de trabalhar com João Gilberto. "É uma pessoa simples. E o que temos no palco é simples. São dois microfones", diz o engenheiro de som Ken Kendo.
"É um som de violão bem baixinho [fala baixinho] e o som do vocal é bem baixinho também [começa a sussurrar]. Temos que amplificar isso e há algumas dificuldades quando isso acontece", diz o diretor de palco Toshihiko Usami.
São apenas dois microfones no palco, um para a voz e outro para o violão. Mas a junção desses dois sons vão para diversos tipos de caixas acústicas diferentes. As caixas do sistema P.A. são as que o público ouve. Já João Gilberto, no palco, escuta o som por meio de duas caixas chamadas "monitores".
"Nós mixamos os dois microfones de uma forma para o monitor e de um jeito diferente para o P.A.", explica Usami. "Como eu mencionei, o som não é alto. O monitor não pode estar muito alto ou vai haver feedback. O que temos sempre que pensar é, durante o todo o show, onde está o limite para o monitor e onde está o limite para o P.A. E tudo muda quando as pessoas chegam e lotam o lugar. Nessa hora, todo o som e eco do local ficam diferentes."
Kondo e Usami trabalham com o brasileiro desde 2003, quando participaram da gravação de seu último CD, "João Gilberto in Tokyo". Desde então, a dupla preparou mais de dez shows para ele. E já ouviu as famosas reclamações? "Mas não é sempre", diz Usami. "Na minha experiência com ele, só umas duas vezes..."


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