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Canais e publicitários questionam variações
Metodologia empregada, abrangência da lei e percepção auditiva são usadas por emissoras para justificar resultados
Volume alto serve
para persuadir e fixar a informação na memória do telespectador, afirma psiquiatra
Daniel Marenco/Folhapress
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Ale Rocha, 33, passou a assistir a TV com fones de ouvido para que o filho não acordasse durante os intervalos comerciais
DE SÃO PAULO
Apesar dos dados coletados pelo perito judicial José
Gonzalez, emissoras e publicitários negam que haja aumento do volume do intervalo comercial.
A publicitária Paula Moraes, diretora de rádio e TV
da agência WMcCann, nega
que o volume dos comerciais
seja propositadamente mais
alto que o da programação.
Se isso ocorre, afirma, é por
algum erro técnico. Diz ainda
que o correto seria a emissora
padronizar o sinal.
Mas, segundo o psiquiatra
Marcelo Arantes, a publicidade utiliza o volume alto como manobra de imposição e
persuasão e para fixar a informação na memória do
telespectador.
"Os publicitários precisam
de mais aulas de psicologia.
Ao elevar o som, passam a
impressão arrogante de que
o que desejam transmitir é
mais importante que o resto.
Fica a saudade de comerciais
como o do primeiro sutiã,
que começava mudo, aliás."
CANAIS ABERTOS
A TV Globo, por meio de
sua central de comunicação,
diz utilizar equipamentos de
equalização que mantêm as
variações dentro da mesma
frequência.
"Existe uma questão relacionada à percepção auditiva
que deve ser levada em conta: a dinâmica dos gêneros.
Em novelas e filmes, por
exemplo, os diálogos são espaçados, em comerciais são
mais acelerados".
Por meio da assessoria, a
Record afirmou que "desconhece os métodos de aferição
usados (...) e que cumpre rigorosamente a lei". Após a
resposta, a Folha repassou a
metodologia à emissora.
A Band afirma que usa um
equipamento para nivelar o
áudio e afirma que "o processamento dos sinais segue um
padrão técnico de acordo
com as normas (...) É evidente que o áudio é dinâmico e
sofre pequenas variações".
O SBT diz seguir as recomendações do Grupo de Trabalho de Loudness da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão, composto
por membros da Anatel, Ministério das Comunicações e
outras emissoras. O canal argumenta que "as variações
de volume a que se refere a lei
são variações referente à percepção auditiva (loudness) e
não apenas níveis de áudio".
CANAIS PAGOS
De acordo com a TV Rá
Tim Bum, "possivelmente,
houve uma variação de volume nas fitas ou no servidor"
durante a exibição medida,
mas que a emissora não usa
esse recurso. "Não são veiculados anúncios publicitários
durante a programação infantil", ressalta a assessoria.
A Turner (canais Cartoon
Network, Boomerang, TNT e
TCM) diz que que identificou,
recentemente, diferenças de
áudio e já começou a resolver
a situação.
A Discovery Networks diz
que, "mesmo que a lei nº
10.222 não se aplique à TV
por assinatura", padroniza o
volume. A assessoria afirma
que a empresa irá apurar as
variações e, caso confirmadas, avaliar as providências.
Para o Ministério Público,
a lei se aplica mesmo aos canais pagos.
Já a Nickelodeon afirma
padronizar os comerciais antes da exibição. "Sendo assim, o canal não apresenta
elevação sonora maior que
5% em seus intervalos comerciais, embora acreditamos que uma variação de pico de áudio de até 5% poderia ser aceitável, desde que
não seja constante".
Porém, o perito que fez a
medição e o engenheiro Mitsuo Yoshimoto do IPT afirmam que apenas 3dB já equivalem ao dobro do volume.
Isso porque a unidade de medida de som decibel não segue uma escala linear, mas
sim logarítmica.
(GUSTAVO VILLAS BOAS e JAMES CIMINO)
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