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BIENAL DO RIO
Variedade é uma das principais características da "exposição" que está até o próximo dia 24 no Riocentro
Feira tem de Freud on-line a bolo sem ovos
LUIZ CAVERSAN
Diretor da Sucursal do Rio
A melhor e a
pior coisa de
uma feira de livro são os próprios, os livros.
Não há nada
mais sufocante
do que a sensação -ou a certeza- de que, por
mais tempo que se tenha na vida,
nunca haverá o suficiente para ler
o que se quer ou, ao menos, o que
se deve. Uma bienal do livro serve,
prioritariamente, para exacerbar
essa angústia.
Mas claro que tem outras muitas
utilidades para quem consegue superar o trauma da ignorância consolidada -sempre haverá milhares de coisas sobre as quais você
não saberá nada, até morrer.
Até o próximo dia 24, os 44 mil
metros quadrados do Pavilhão do
Riocentro abrigarão 125 mil títulos, sendo 1.500 deles lançamentos
fresquinhos. Os homens que fazem dos livros o seu negócio esperam ver R$ 45 milhões passarem
por ali nesses dias.
A Bienal do Livro do Rio é formatada como uma grande, espaçosa e variada livraria. Os estandes
das editoras estão ali para eliminar
intermediários, no caso as livrarias
propriamente ditas, que por sua
vez também encontram-se bem
instaladas na área da feira.
Por causa da multiplicidade de
pontos-de-venda, há títulos com
os quais o visitante vai se defrontar
várias vezes em lugares diferentes
-no estande da editora e no de
mais de uma livraria. Isso é o que
faz um best-seller...
Cyberpunk
O estande das HQs é um bom começo para o visitante descompromissado. Vilões e heróis se mesclam em ambientes de alta tecnologia, com uma tônica cyberpunk
de causar arrepios.
Quer algo mais ameno? Sem problemas: há um estande em que, a
partir do significado de seu nome,
você saberá qual é o seu anjo da
guarda, a que categoria celeste ele
pertence, o nome original etc. Pode levar para casa até uma espécie
de diploma do seu anjo "oficial".
Mas se você prefere saber sobre o
"outro lado", vá ao estande da
Universidade Estadual do Rio de
Janeiro e dê uma olhada em "O
Mal à Brasileira" (R$ 25). São ensaios reunidos por Patrícia Birman
que perscrutam as origens da ruindade nacional em várias esferas e
suas derivações do famoso caráter
cordial brasileiro.
Para o homem que morre de inveja da mulher, que, além de ter-se
libertado do jugo do machismo,
conquistou o direito ao seu ponto
"G", a vingança pode estar num
livro chamado "O Orgasmo Múltiplo do Homem", de Mantak Chia
e D. Arava. Está no estande da editora Objetiva e custa R$ 22,80.
Guiado por técnicas orientais
milenares -e auxiliado por ilustrações esquemáticas- o leitor
poderá chegar, garantem os autores, a algo parecido com o paraíso.
O teor é de sexo "bom" e "saudável" e há até um capítulo destinado
às especificidades dos gays.
Hare-hare
Ainda no mundo das energizações, eis que se pode visitar o estande dos hare-krishna, repleto de
bons fluídos. Inclusive na forma
de um livro que ensina cem maneiras de se fazer bolos sem usar ovo.
Uma maravilha gastronômico-natureba. Sem colesterol.
Quer saber se você é um leitor estressado? Dê uma parada no estande do Hospital Adventista Silvestre, responda a um questionário de
18 tópicos tipo "você tem se sentido triste" e um computador dirá
qual o seu grau de estresse.
Mas o que uma feira desse tipo
prova, e isso é fácil de ver, é que a
moda das biografias ainda não
acabou (tromba-se com a imagem
ampliada do cantor Cazuza a todo
instante, por conta do livro sobre
sua vida, escrito pela mãe, Lúcia
Araújo) e que os escritos sobre auto-ajuda, estratégias empresariais
e "gestão pessoal" consomem papel equivalente a muitas florestas.
A ala oficial está bem representada na Bienal. De maneira contrastante, aliás. Enquanto o estande do
MEC/Funarte é amplo e atraente,
com muitas novidades, o do Ministério da Educação e do Desporto se resume a meia dúzia de livrinhos e catálogos e um aparelho de
TV. Pobre e triste, porém ostentando uma faixa com a atual propaganda governamental, "Brasil
em Ação". Parece piada.
Mas o que chama a atenção mesmo é o estande do Senado Federal.
Sim, o Senado mantém uma editora e ela está lá, na Bienal, num estande iluminado e supostamente
chique, bem maior que o de muitas editoras comerciais.
À disposição do leitor, títulos
importantes, como a Constituição
Brasileira em inglês, ou emocionantes como "Senadores de
Goiás, 1826-1996"...
Freud explica no CD
É na área da psicologia, no entanto, que se encontra uma das
grandes novidades da Bienal.
A editora Imago está apresentando ao público versão eletrônica
da obra completa de Freud.
Os 24 volumes que constituem o
pensamento do chamado pai da
psicanálise foram inteiramente
enfiados em um CD-ROM.
Assim, basta alguns cliques para
se penetrar no âmago de questões
que levaram séculos para serem
decifradas (se é que o foram), num
instrumento útil e relativamente
barato (R$ 120,00) para quem se
interessa pelos mistérios da mente.
Site oficial da Bienal do Livro-Rio: http://www.bienaldolivro.com.br/
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