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CINEMA - FESTIVAL
Gramado anuncia seus vencedores hoje
INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Gramado
A exibição de "Reunião dos Demônios", filme de estréia de A.S.
Cecilio Neto, encerrou a sessão latino-americana do 26º Festival de
Gramado anteontem com uma
nota positiva, arrancando aplausos entusiasmados da platéia.
Nessa altura, já se espera com
certa ansiedade a divulgação dos
ganhadores dos kikitos -o que
acontece hoje à noite, na sessão de
encerramento.
Para um festival que começou lá
em baixo, até que se pode chamar
o final de feliz.
A aposta latina de Gramado não
chegou a se impor (o interesse pelos filmes brasileiros é bem
maior), mas alguns deles chamaram a atenção e mereceriam estar
na premiação (o argentino "Pizza, Birra, Faso", em particular).
Na representação brasileira, o
filme mais apontado como favorito é "Amores", de Domingos de
Oliveira e Priscilla Rozenbaum,
que retoma a saga de relações familiares da série de TV "Confissões de Adolescente".
Filme modesto, rodado em três
semanas, "Amores" conseguiu,
ao menos aqui (um ambiente
meio viciado, é bom lembrar),
forte empatia com o público, apesar da postura não raro teatral dos
diálogos.
Os dois primeiros filmes brasileiros exibidos foram massacrados. "O Toque do Oboé", de
Claudio Mac Dowell, foi visto
num dia tumultuado, o da abertura, com os espectadores esgotados
devido à viagem.
É possível, evidentemente,
apontar uma pilha de defeitos em
"Um Sonho no Caroço do Abacate", de Lucas Amberg. Trata-se de
uma estréia um tanto prematura.
Mas seria justo lembrar que Amberg tocou em um aspecto tão rico
quanto virginal no cinema brasileiro (a imigração judaica) e em
um tema ainda muito atual, o do
racismo.
A exibição de "Reunião dos Demônios" começou com o diretor
colocando seu trabalho sob o signo de dois vultos de primeira linha: Humberto Mauro e Monteiro
Lobato.
No escritor, o filme parece ter
buscado um espaço de liberdade,
em que as fantasias realizam-se
plenamente, permitindo a circulação do imaginário infantil. A história pode ser resumida como a de
três meninos que, de tanto serem
chamados de demônios, acabam
acreditando que são mesmo e passam a agir em função disso.
De Humberto Mauro, o maior
cineasta clássico brasileiro, vem a
leveza gaiata do estilo, a filmagem
franca, sem exibicionismos, a simplicidade ostensiva.
Trata-se de um filme realizado
com recursos limitados, o que talvez explique parte de seus desequilíbrios, como a direção muito
fraca dos adultos, em oposição aos
três garotos -primorosos.
Também se pode dizer que o filme é maior do que a história contada, o que produz certos vazios
dramáticos do meio para o fim. De
todo modo, o balanço da passagem ao longa de Cecilio Neto é
mais que animador.
Ontem, restava saber que impressão deixariam o espanhol
"Perdita Durango", de Alex de la
Iglesia, e o português "Rio do Ouro", de Paulo Rocha (nome capital
do cinema de seu país), que seriam
exibidos na sessão noturna, para
ter um quadro completo do que
foi Gramado 98.
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