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LIVRO - LANÇAMENTO
Ventura abre coleção de pecados
Patricia Santos/Folha Imagem
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O jornalista Zuenir Ventura, que acaba de lançar o livro "Mal Secreto" pela Objetiva
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MARCELO PEN
especial para a Folha
Depois dos sucessos de "1968, O
Ano Que Não Terminou" e "Cidade Partida", o jornalista Zuenir
Ventura, 67, está lançando "Mal
Secreto". O livro, que levou dois
anos para ser completado, resultou numa obra surpreendente,
que investiga os limites entre realidade e ficção.
É o primeiro lançamento da série sobre os sete pecados capitais,
da editora Objetiva. A coleção trará textos de Luís Fernando Veríssimo (sobre a gula), João Ubaldo
Ribeiro (luxúria), do chileno Ariel
Dorfman (avareza), entre outros.
De sua casa no Rio de Janeiro,
Ventura concedeu a seguinte entrevista à Folha.
Folha - Como a inveja, um sentimento tão pernicioso, não foi parar no Inferno de Dante, e sim no
Purgatório?
Zuenir Ventura - É uma questão
que ficou sem resposta. Nem o Mezan (o psicanalista Ricardo Mezan), especialista no assunto, conseguiu resolver. Mas o castigo que
se destina aos invejosos, de costurar-lhes os olhos, é terrível.
Folha - Quem sabe no Purgatório
os invejosos têm a possibilidade
de redenção?
Ventura - É uma hipótese.
Folha - Definiu-se "1968" como
um "romance sem ficção". "Cidade
Partida" é uma crônica noir e "Mal
Secreto", um making of. O que mudou?
Ventura - Em "1968", tudo foi
apurado com rigor jornalístico.
"Cidade Partida" já incorpora alguns elementos subjetivos. Em
"Mal Secreto", eu manipulo os
fatos e sou manipulado por eles.
Os editores sugeriram que se definisse esta última obra como de ficção. Afinal, estava entrando num
terreno muito complicado, que
envolvia segurança, assassinato.
Poderia ser acusado de não ter revelado um crime à polícia.
Folha - O que partiu da realidade
e o que foi totalmente inventado
em "Mal Secreto"?
Ventura - Quis que "Mal Secreto" se tornasse um jogo lúdico.
Há grande seriedade na apuração
no plano da realidade, como, por
exemplo, na investigação acerca
dos venenos. Mas há elementos
ficcionais se intrometendo na narrativa e eu não gostaria de revelar o
que é fato e o que é inventado.
Folha - Como foi a descoberta de
que o sr. tinha câncer?
Ventura - Descobri que tinha a
doença com o projeto começado.
De início, pensei em desistir dele,
mas o livro acabou funcionando
como uma catarse. O câncer gosta
de produzir depressão, que é uma
forma detestável de narcisismo,
que eu abomino. Lutei contra isso.
Folha - Mais do que a inveja, o
câncer é o grande vilão da história.
Ventura - A Bíblia diz que "a
inveja corrói como o câncer".
Mesmo assim, não quis ser óbvio,
forçar a barra. Até cortei algumas
analogias entre a doença e a inveja.
Folha - O sr. se define como um
romancista escrevendo uma reportagem ou um jornalista escrevendo ficção?
Ventura - Gosto muito da minha profissão. Quando escrevi
"1968", vieram me dizer que parecia um romance. Eu protestei.
Queria que falassem que o meu livro era, na verdade, uma boa reportagem. Considero "Mal Secreto" um livro de reportagem, ainda
que explore os limites do jornalismo.
Folha - No livro, o sr. se pergunta
se há uma inveja boa. Ao mesmo
tempo, admite que ficou "mordido
de inveja" por causa de Rubem
Fonseca, que teria escrito um conto lapidar sobre o assunto. Será
que, em literatura, a inveja não seria algo bom, pois instiga o escritor a superar seus modelos?
Ventura - Acho que inveja boa é
admiração. Só se inveja quem está
próximo. Na admiração, afastamos o objeto de nós. O fã não inveja o ídolo, ele o admira. É o que
ocorre em minha relação com o
Rubem. Não o invejo, pois o ponho no alto, distante de mim (risos). Vou confessar uma coisa: O
Rubem leu os originais de "Mal
Secreto". Aliás, ele exige ler todos
os meus livros.
Folha - O sr. sabe se ele gostou?
Ventura - O Rubem é um leitor
muito cruel, impiedoso. Gostou
do livro, mas ficou cinco horas comigo, dissecando a obra. Disse que
poderia ter sido dividida em três
partes: a teoria sobre a inveja, a
história da protagonista (Kátia) e a
narrativa da doença. Por ele, cortavam-se as duas primeiras e se desenvolvia a parte da doença. Ele
achou que eu deveria ter escrito
somente sobre ela. Mas eu retruquei: "Rubem, mas o livro é sobre
a inveja!" O Rubem é assim, muito impulsivo.
Folha - No livro, o sr. deixa a
questão do câncer inconclusa.
Ventura - Em junho, fiz novo
exame e não houve recidiva. O médico deu um prazo até o final do
ano. Em setembro, tomo nova carga de BCG e, se tudo correr bem
(bato na madeira ao dizer isso), o
exame do fim do ano vai confirmar
o outro: tudo barra-limpa.
Folha - Recentemente, no caderno "Mais!", da Folha, a crítica Walnice Nogueira Galvão sugeriu que
o livro tende a acabar. O que o sr.
acha disso?
Ventura - Não vejo isso até o
horizonte que alcanço. Sou muito
otimista. Nós dependemos tanto
do suporte físico que a forma se
torna uma espécie de conteúdo.
Não vejo como é possível nos desfazermos dessa espécie de percepção. É um suporte material muito
forte. Já disseram que com as novas tecnologias a palavra escrita
tende a acabar. Mas agora vem outro instrumento tecnológico (a Internet) e a estimula novamente.
Sempre que surge uma nova tecnologia, há um susto, mas ela não
liquida o meio anterior -ela o
obriga a aprimorar-se. Não tenho
uma visão apocalíptica.
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