São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2000 |
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Artistas criticam o preconceito contra a música brega e falam sobre jabá nas rádios e pirataria Filósofos do brega
MARCELO RUBENS PAIVA ESPECIAL PARA A FOLHA Especialistas debatem diariamente os novos papéis do homem e da mulher. A essência do amor, a traição e o sexo são elementos explorados por dois femeeiros (chegados em mulher) brasileiros, sempre em evidência na mídia, Wando e Falcão. Wando está lançando "Picada de Amor" e estréia hoje, no Rio, um show em que vai distribuir champanhe e camisolas e serão sorteados ingressos para uma noite num motel. Falcão lança "Do Penico à Bomba Atômica". Em encontro promovido pela Folha, os dois cantores falaram de amor, brega, jabá (dinheiro pago por gravadoras para que rádios toquem músicas de seus artistas), pirataria de discos e MPB. Folha - Vocês são bregas? Wando - Eu acho que o Brasil é
brega. Se você vende mais de 500
mil discos, está atingindo um público que gosta do brega. Quer um
exemplo recente? Uma mulher inteligente, que eu admiro... Folha - Marisa Monte. Falcão - Tem uma música minha
chamada "I Love You Tonight",
que tem a mesma temática. Mas a
minha é tida como brega. Wando - As pessoas rotulam
quem é brega. O Caetano Veloso
amou vender 1 milhão de discos e
só vendeu isso porque gravou
uma música do Peninha. Falcão - Que seria rotulada de
brega se fosse gravada pelo Wando. Nós temos um discurso mais
direto para as nossas emoções. O
Caetano amou vender 1 milhão de
cópias. Wando - E com certeza ele vai
tentar novamente. O Caetano sabe fazer música popular quando
quer. Mas existe uma cobrança da
imprensa em cima dele, para que
o trabalho seja mais sofisticado. Folha - Qual é o segredo do sucesso popular? Folha - Em qual rádio vocês tocam? Wando - Toco em boas rádios. Folha - Não investe em clipe? Falcão - Eu estou tentando inventar um clipe que passe nas rádios (risos). Folha - O que vocês acham do baixo nível das letras, especialmente
das de pagode? Falcão - O compositor deveria
fazer algo que tenha "sustância",
já que sabe que vai tocar, que a
gravadora vai pagar jabá. Tem
música do Zé Ramalho que o povo adora e tem mensagem política
e social. Wando - Agora não existe mais
jabá. Hoje, a música, no Brasil, é
um negócio em que as pessoas envolvidas precisam dirigir verbas. Folha - O jabá oficializou-se? Wando - Não se chama mais jabá. É marketing. Existem diversas
formas e veículos, como a Internet e a TV. Tem um disco do Jorge
Aragão que ficou um ano parado
e explodiu apenas depois de ele
estourar um show. Falcão - Um sucesso sem jabá é
na sorte. Wando - A novela também é
uma grande força. Falcão - Onde também deve rolar algum jabá. Wando - Acho difícil. Os diretores das novelas mandam muito. Folha - Mais do que o Mariozinho
Rocha (diretor musical da Rede
Globo)? Folha - Mais do que o João Araújo
(diretor artístico da Som Livre)? Falcão - Discordo. É o mesmo
que dizer que o Wanderley Luxemburgo manda mais do que o
Ricardo Teixeira. Wando - Os diretores, hoje, têm
muita força. Falcão - Eu questiono muito essa
ânsia de querer fazer sucesso a cada preço, especialmente entrar no
esquema do jabá ou fazer um sucesso efêmero. Prefiro um público cativado pelo trabalho. Prefiro
ser um porta-voz, um guru. Folha - Vocês são reconhecidos
como grandes pensadores? Folha - A pirataria prejudica? |
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