São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2000

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Artistas criticam o preconceito contra a música brega e falam sobre jabá nas rádios e pirataria
Filósofos do brega

Patrícia Santos/Folha Imagem
Os cantores Falcão (à esq.) e Wando, que lançam, respectivamente, "Do Penico à Bomba Atômica" e "Picada de Amor"



Os cantores Wando e Falcão lançam novos discos e discutem a indústria da cultura popular


MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Especialistas debatem diariamente os novos papéis do homem e da mulher. A essência do amor, a traição e o sexo são elementos explorados por dois femeeiros (chegados em mulher) brasileiros, sempre em evidência na mídia, Wando e Falcão.
Wando está lançando "Picada de Amor" e estréia hoje, no Rio, um show em que vai distribuir champanhe e camisolas e serão sorteados ingressos para uma noite num motel. Falcão lança "Do Penico à Bomba Atômica".
Em encontro promovido pela Folha, os dois cantores falaram de amor, brega, jabá (dinheiro pago por gravadoras para que rádios toquem músicas de seus artistas), pirataria de discos e MPB.

Folha - Vocês são bregas?
Falcão -
Eu sou brega. Canto o que o povo está querendo ouvir.

Wando - Eu acho que o Brasil é brega. Se você vende mais de 500 mil discos, está atingindo um público que gosta do brega. Quer um exemplo recente? Uma mulher inteligente, que eu admiro...

Folha - Marisa Monte.
Wando -
Exato. Você imagina se eu ou o Falcão estivéssemos cantando "Amor I Love You"?

Falcão - Tem uma música minha chamada "I Love You Tonight", que tem a mesma temática. Mas a minha é tida como brega.

Wando - As pessoas rotulam quem é brega. O Caetano Veloso amou vender 1 milhão de discos e só vendeu isso porque gravou uma música do Peninha.

Falcão - Que seria rotulada de brega se fosse gravada pelo Wando. Nós temos um discurso mais direto para as nossas emoções. O Caetano amou vender 1 milhão de cópias.

Wando - E com certeza ele vai tentar novamente. O Caetano sabe fazer música popular quando quer. Mas existe uma cobrança da imprensa em cima dele, para que o trabalho seja mais sofisticado.

Folha - Qual é o segredo do sucesso popular?
Falcão -
A simplicidade melódica e o discurso direto.

Folha - Em qual rádio vocês tocam?
Falcão -
Eu sou um cara deserdado das rádios. Sou mais televisivo do que radiofônico, o que é ruim, pois o rádio é o que faz sucesso. É uma questão de preconceito.

Wando - Toco em boas rádios.

Folha - Não investe em clipe?
Wando -
Não, eu dirijo a verba para o setor do rádio. O clipe é muito caro.

Falcão - Eu estou tentando inventar um clipe que passe nas rádios (risos).

Folha - O que vocês acham do baixo nível das letras, especialmente das de pagode?
Wando -
O excesso faz a vítima. As gravadoras cobram muito desse movimento, e poucos compõem.

Falcão - O compositor deveria fazer algo que tenha "sustância", já que sabe que vai tocar, que a gravadora vai pagar jabá. Tem música do Zé Ramalho que o povo adora e tem mensagem política e social.

Wando - Agora não existe mais jabá. Hoje, a música, no Brasil, é um negócio em que as pessoas envolvidas precisam dirigir verbas.

Folha - O jabá oficializou-se?
Falcão -
No custo de um disco já tem a parte do jabá.

Wando - Não se chama mais jabá. É marketing. Existem diversas formas e veículos, como a Internet e a TV. Tem um disco do Jorge Aragão que ficou um ano parado e explodiu apenas depois de ele estourar um show.

Falcão - Um sucesso sem jabá é na sorte.

Wando - A novela também é uma grande força.

Falcão - Onde também deve rolar algum jabá.

Wando - Acho difícil. Os diretores das novelas mandam muito.

Folha - Mais do que o Mariozinho Rocha (diretor musical da Rede Globo)?
Wando -
Mais.

Folha - Mais do que o João Araújo (diretor artístico da Som Livre)?
Wando -
Mais.

Falcão - Discordo. É o mesmo que dizer que o Wanderley Luxemburgo manda mais do que o Ricardo Teixeira.

Wando - Os diretores, hoje, têm muita força.

Falcão - Eu questiono muito essa ânsia de querer fazer sucesso a cada preço, especialmente entrar no esquema do jabá ou fazer um sucesso efêmero. Prefiro um público cativado pelo trabalho. Prefiro ser um porta-voz, um guru.

Folha - Vocês são reconhecidos como grandes pensadores?
Falcão -
Nós somos filósofos populares, que somos reconhecidos, pois o nível está muito baixo (risos).

Folha - A pirataria prejudica?
Falcão -
Eu acho isso uma coisa linda, acho a melhor coisa do mundo ser pirateado. Fico feliz quando vejo um camelô vendendo o meu disco. Está me divulgando. Isso força a gravadora a diminuir o preço no final. As gravadoras deveriam colocar camelôs vendendo discos. Não sou contra a pirataria. Vou fazer como o Frank Zappa, vou me piratear.


Show: Picada de Amor, de Wando Onde: Olimpo (av. Vicente de Carvalho, 1450, Vila Penha, Rio de Janeiro, tel. 0/ xx/21/495-9797) Quando: hoje e amanhã, às 23h Quanto: de R$ 15 a R$ 25

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