São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2000

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Irmãos Mamberti encenam Plínio

DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém passa incólume por Plínio Marcos (1935-1999). Às vezes, o mergulho em seu teatro é literal, como o faz Cláudio Mamberti, 59. O ator adiou por duas semanas a estréia do monólogo "O Homem do Caminho", em SP, após infecção pulmonar que o deixou de molho no hospital.
Além do desafio de penetrar nos labirintos de uma peça de Plínio, Cláudio experimenta o primeiro monólogo em 40 anos de carreira e ainda despende energia na captação de recursos para a produção, ao lado do sobrinho Carlos Mamberti, filho de Sérgio Mamberti, que assina a direção.
O projeto dos irmãos Mamberti sela também a amizade com o conterrâneo santista Plínio Marcos. No final dos anos 50, suas mães eram amigas e professoras. Na época, Sérgio estudava teatro, Cláudio integrava o grupo de Patrícia Galvão, a Pagu, enquanto Plínio deambulava pelos picadeiros da cidade litorânea, invariavelmente como o palhaço Frajola.
Cláudio interpretou sua primeira peça de Plínio em 58, "Reportagem de um Tempo Mau". Sérgio montou "Navalha na Carne" dez anos depois. Cláudio e Plínio atuaram na Companhia Teatral Cacilda Becker.
Escrito em versos, à moda dos trovadores populares, um estilo raro na obra de Plínio, "O Homem do Caminho", sobre a trajetória de um cigano, é o penúltimo texto do autor para teatro. Segundo sua viúva, a jornalista Vera Artaxo, a peça derradeira é "O Bote da Loba", de 97, versão feminina da mesma história.
"O Homem do Caminho" nasceu originalmente como um conto, publicado pela revista "Status" no início dos anos 80. O dramaturgo retrabalhou o texto nos últimos três anos de vida (ele morreu em novembro do ano passado), integrando-o ao livro "O Truque dos Espelhos", lançado dois meses antes de sua morte.
O monólogo traz o personagem Iur, que constrói parábolas para refletir sobre a sociedade contemporânea, dividida entre "homens-prego", imóveis em seu materialismo, e os homens do caminho, "saltimbancos como Cristo e os ciganos".
"O texto é um legado poético de Plínio, no qual ele se coloca na primeira pessoa", afirma Cláudio, 59. "Há momentos de comédia popular, de tensão, de sensualidade, de poesia e de magia."
Cláudio crê que, em "O Homem do Caminho", o autor já acenava com sua despedida. "O personagem fala de como driblar a morte, de como enganar Deus." (VS)



Peça: O Homem do Caminho Autor: Plínio Marcos Direção: Sérgio Mamberti Com: Cláudio Mamberti Quando: estréia hoje, às 21h; qui. a sáb., às 20h; dom., às 18h. Até 28/10 Onde: TBC - sala Assobradado (r. Major Diogo, 315, tel. 0/xx/11/3115-4622) Quanto: R$ 20

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