São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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Livro revê trajetória de galerista

TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao lado do prédio do Centro Universitário Maria Antonia, na rua Maria Antonia, na Vila Buarque, tapumes escondem a reconstrução de parte da histórica ex-sede da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
É em meio às vigas de aço que reforçam a estrutura do edifício em reforma que será lançado hoje o livro "Raquel Arnaud e o Olhar Contemporâneo" (Cosacnaify, R$ 44, 192 págs.), cujo principal texto é uma longa entrevista concedida a Rodrigo Naves.
Não é à toa que o evento acontece ali. Construído na década de 1920 e tombado pelo Condephaat, o prédio Joaquim Nabuco sediará o Instituto de Arte Contemporânea (IAC). Projeto idealizado por Arnaud, o IAC será a primeira instituição do país dedicada aos artistas brasileiros geométricos e construtivistas.
O acervo é preciosíssimo: Sergio Camargo, Mira Schendel, Willys de Castro e Amilcar de Castro. As obras foram emprestadas pelas famílias em comodato.
"Eles eram amigos entre si, e há uma conversa também entre seus trabalhos", diz Arnaud, que trabalhou com cada um deles.
A expectativa é que o prédio esteja pronto no começo do próximo ano. E o livro vai ajudar o projeto: o dinheiro arrecadado com as vendas será repassado integralmente ao instituto.
O novo espaço é fruto de um convênio do IAC com o Centro Maria Antonia, que também ocupará o prédio. Segundo Arnaud, a museografia e as exposições serão definidas de acordo com um conselho curatorial. "É preciso profissionalizar os museus. Vou deixar para quem entende definir isso", ensina Arnaud.
Ela adianta apenas que haverá palestras sobre os artistas e estrutura de pesquisa de documentos e projetos, em fase de digitalização.
Dona do Gabinete de Arte que leva seu nome, hoje na rua Artur de Azevedo, em Pinheiros, Arnaud dedica-se ao ofício da arte desde a década de 60, quando trabalhou com Piero Maria Bardi no Masp. O contato dela com artistas começou na adolescência, no círculo modernista -Di Cavalcanti e Portinari eram amigos de um tio de Raquel. Depois, ela se casou com Oscar Segall, filho de Lasar, e conviveu com o artista e com o arquiteto modernista Warchavchik.
Ela passou por outras instituições até abrir sua própria galeria, primeiro em parceria com Mônica Filgueiras, depois sozinha.
Sua função, no entanto, nunca se limitou ao comércio de obras. Arnaud foi incentivadora de nomes que estruturaram a arte brasileira recente. Tunga e Waltércio Caldas são dois exemplos de artistas que Arnaud "patrocinou" no início de suas carreiras.
"Comprava o material para eles trabalharem e às vezes bancava até a exposição inteira", lembra. Para financiá-los, Arnaud revendia obras de artistas estrangeiros.

Ponto de encontro
A galeria que abriu no começo dos anos 80 na avenida Nove de Julho, onde funciona hoje a Marília Razuk, se tornou ponto de encontro de críticos e artistas.
A primeira exposição nesse espaço reuniu Amilcar de Castro, Lygia Clark, Franz Weissmann e Sergio Camargo.
A paixão pelas obras dos artistas que compõem a coleção do IAC determinaram uma virada na vida de Raquel. A instituição foi constituída em 1997, e parte do acervo está na Casa Hum (al. Gabriel Monteiro da Silva, 2.700, tel. 0/ xx/11/3031-1571), que guarda o espólio de Sergio Camargo.


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