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ARTE
Comunidade monta refúgios em cidades vizinhas e mantém contato para saber estado de obras após passagem de furacão
Artistas de Nova Orleans procuram rumo pós-Katrina
CAROL VOGEL
DO "NEW YORK TIMES"
A última imagem sombria que
Jeffrey Cook guardou é a de um
cachorro roendo o dedo de um
morto. "Havia morte por toda
parte", disse o artista multimídia
de Nova Orleans. "Mesmo sendo
um homem de 44 anos, chorei."
Como sua casa fica num dos
pontos altos da cidade, não foi
muito danificada. Assim, enquanto a maioria dos vizinhos fugiu, Cook continuou ali, não querendo abandonar sua vizinha de
83 anos, que se recusou a deixar a
gata para trás. Sobrevivendo da
água da piscina da vizinha, ele
passou dias fazendo arte com o lixo que pegava nas ruas e tirando
fotos da destruição, para que um
dia as pessoas possam sentir o Katrina pelo olhar de um artista.
"Éramos as únicas pessoas que
restaram naquele quarteirão. A
gente se adaptava. Os saqueadores estavam vendendo pilhas por
US$ 10 cada uma. Foi só quando
ouvi tiros disparados no meio da
noite e vi a luz de um helicóptero
iluminando minha janela que
soube que era hora de partir."
Cook viu mais do Katrina do
que a maior parte da pequena comunidade artística de Nova Orleans. A maioria dos artistas foi
morar com amigos ou está hospedada em hotéis. Como não foram
autorizados a voltar para casa, até
agora só ouvem boatos sobre o estado em que se encontram suas
casas, seus ateliês e suas obras.
"Somos uma comunidade forte,
unida", disse o pintor Willie
Birch, 66. "Vamos sobreviver."
Mas muitos trabalhos não.
John T. Scott, um escultor local
que partiu para Houston de carro
às 3h30 do dia em que o Katrina
chegou à cidade, imagina ter perdido sua casa e seu ateliê. Uma
grande retrospectiva sua no Museu de Arte de Nova Orleans terminou em 10 de julho, e pelo menos um terço das 199 peças da exposição estavam em seu ateliê no
momento da passagem do furacão. O resto, diz Scott, estava na
galeria de seu marchand, que não
foi seriamente danificada.
Contudo, suas oito obras públicas, incluindo uma grande peça
de arte cinética feita de aço e erguida às margens do rio, sobreviveram. "Esta peça já sobreviveu a
cinco ou seis furacões", disse o escultor, "e ainda tem a mesma aparência de quando a fiz".
Arthur Roger disse que sua galeria agüentou bem, mas que o
vandalismo o preocupa. Ele se
mudou para Louisiana, onde espera montar uma galeria provisória. "A comunidade artística está
procurando uma direção", disse.
A pintora Lory Lockwood se refugiou em Houston. "O cenário
artístico de Nova Orleans era vibrante. Agora nenhum de nós vai
poder voltar por muito tempo. É
um momento de fragilidade. Sei
que deveria estar trabalhando,
mas não consigo. Gostaria de fazer algo que me levasse para longe
de tudo. Mas não sei o quê."
Tradução Clara Allain
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