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COMIDA
Ao lado de outros 16 Estados, São Paulo participa da Primeira Semana dos Alimentos Orgânicos e passa a abrigar empório especializado nos Jardins
Terra fresca
LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL
O alimento orgânico, caro de
produzir e de consumir, tornou-se um luxo necessário. Menos pela imagem bucólica do alimento
crescendo no campo sem o arsenal de hormônios e químicos, os
produtos orgânicos se firmam pelo olhar atento do consumidor,
que leva em conta a própria saúde, as circunstâncias ambientais
em que o alimento foi produzido
e, claro, seu sabor.
Nesse espírito de levar ao prato
o que é saudável surgiu a Primeira
Semana dos Alimentos Orgânicos, campanha feita em 17 Estados brasileiros com parceria de
ministérios como o do Meio Ambiente e o do Desenvolvimento
Agrário e de outras organizações
governamentais e não-governamentais.
A semana, que começou no último dia 10, segue oficialmente até
sábado, com programação em diversos pontos da cidade, como na
Casa Santa Luzia.
Reduto dos orgânicos
Mas, hoje, com a inauguração
do Empório Siriúba, surge a impressão que algo de concreto dessa semana permanecerá, ao menos em São Paulo. O empreendimento que promete vender "quase" tudo orgânico é de Sylvia Stickel e Cenia Salles,
duas ex-proprietárias do Cheiro
Verde, um dos
primeiros restaurantes naturais de
São Paulo, que
surgiu nos anos
80. O empório
conta também
com consultoria e
parceria da chef
carioca Flávia
Quaresma, proprietária do restaurante Carême Bistrô, no Rio.
Localizado nos Jardins, o Empório Siriúba é um reduto do orgânico-chique. Politicamente correto, os três andares se elevam
com madeira peroba, vidraçaria e
metais, tudo reciclado, com jardim ao fundo e horta de ervas no
último andar, a céu aberto.
O ambiente é agradável e dinâmico, com café -que passa a funcionar na próxima segunda-feira,
dia 19-, onde serão servidos pratos rápidos criados por Salles e
Quaresma e até caipirinha orgânica. Haverá também uma feirinha
de hortifruti "certificada", às terças e aos sábados.
À entrada, uma galeria de produtos comestíveis à venda e uma
rôtisserie. Além disso, é possível
encontrar cosmética orgânica,
com cremes e sabonetes com extratos orgânicos.
Um dos charmes da casa é o forno indiano, de onde sai o dia todo
o delicioso pão de naan, feito de
farinha de trigo orgânica. O trigo
e a cevada são moídos lá mesmo
no empório.
"Eu amo pão e sempre que faço
o check-in em algum hotel vejo
escrito "nosso café da manhã vai
até as dez da manhã". Que coisa
antipática! Pois aqui vai ter café da
manhã a toda hora. Quem é atleta
vem cedo, e quem acorda tarde
vem tarde", anuncia a proprietária do Carême Bistrô.
Assim como Salles, Quaresma
trouxe para o Siriúba idéias da
maior feira de produtos orgânicos
da Alemanha, a BioFach, que
acontece em Nuremberg em fevereiro. "Nesse ano, o Brasil foi o
país-tema, eu achei um pouco
prematuro porque a gente tem
muito o que aprender. Mas, por
outro lado, é uma oportunidade
para a gente se aprimorar, porque
a feira é uma fonte de conhecimento e de inspiração", diz a chef
carioca que freqüenta e cozinha
na Biofach há quatro anos.
Segundo Quaresma, o que o
empório apresenta é apenas o reflexo da tendência mundial, da
busca por uma alimentação mais
equilibrada, sem excessos.
Quaresma: "Dá para ser bem
menos radical e mais feliz com as
mesmas coisas que se come, pensando na origem do alimento e na
forma como se cozinha. O excesso
de cozimento, por exemplo, prejudica a função nutricional e terapêutica do alimento".
"Estamos fechando parcerias
com diversos produtores orgânicos, com palmito de Parati ou legumes do sul de Minas. É uma integração do empório com o campo. Nessa feira hortifruti, a idéia é contactar produtores locais, assim vendemos produtos fresquíssimos, que forma colhidos no
mesmo dia", completa Salles. "Isso aqui é a cozinha do bem-estar",
pontua Quaresma.
Mas quanto custa a cozinha do
bem-estar? Os preços dos orgânicos, segundo Salles, tendem a subir entre 30% e 50%, dependendo
do item. Por exemplo, um pedaço
de bolo de banana orgânico, de
150 g, custa R$ 6,50. Uma geléia de
melancia sem açúcar é vendida
por R$ 8,60.
"É mais caro mesmo, mas prove
esse suco de maracujá, vê que diferença de sabor. Nesse país faltam muitos grãos e frutas orgânicas. Mas a gente não vai deixar de
fazer um suco terapêutico só porque a fruta Z não é orgânica. O
que a gente não quer é essa rigidez", diz Quaresma.
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