São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2005

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COMIDA

Ao lado de outros 16 Estados, São Paulo participa da Primeira Semana dos Alimentos Orgânicos e passa a abrigar empório especializado nos Jardins

Terra fresca

LUCRECIA ZAPPI
DA REPORTAGEM LOCAL

O alimento orgânico, caro de produzir e de consumir, tornou-se um luxo necessário. Menos pela imagem bucólica do alimento crescendo no campo sem o arsenal de hormônios e químicos, os produtos orgânicos se firmam pelo olhar atento do consumidor, que leva em conta a própria saúde, as circunstâncias ambientais em que o alimento foi produzido e, claro, seu sabor.
Nesse espírito de levar ao prato o que é saudável surgiu a Primeira Semana dos Alimentos Orgânicos, campanha feita em 17 Estados brasileiros com parceria de ministérios como o do Meio Ambiente e o do Desenvolvimento Agrário e de outras organizações governamentais e não-governamentais.
A semana, que começou no último dia 10, segue oficialmente até sábado, com programação em diversos pontos da cidade, como na Casa Santa Luzia.

Reduto dos orgânicos
Mas, hoje, com a inauguração do Empório Siriúba, surge a impressão que algo de concreto dessa semana permanecerá, ao menos em São Paulo. O empreendimento que promete vender "quase" tudo orgânico é de Sylvia Stickel e Cenia Salles, duas ex-proprietárias do Cheiro Verde, um dos primeiros restaurantes naturais de São Paulo, que surgiu nos anos 80. O empório conta também com consultoria e parceria da chef carioca Flávia Quaresma, proprietária do restaurante Carême Bistrô, no Rio.
Localizado nos Jardins, o Empório Siriúba é um reduto do orgânico-chique. Politicamente correto, os três andares se elevam com madeira peroba, vidraçaria e metais, tudo reciclado, com jardim ao fundo e horta de ervas no último andar, a céu aberto.
O ambiente é agradável e dinâmico, com café -que passa a funcionar na próxima segunda-feira, dia 19-, onde serão servidos pratos rápidos criados por Salles e Quaresma e até caipirinha orgânica. Haverá também uma feirinha de hortifruti "certificada", às terças e aos sábados.
À entrada, uma galeria de produtos comestíveis à venda e uma rôtisserie. Além disso, é possível encontrar cosmética orgânica, com cremes e sabonetes com extratos orgânicos.
Um dos charmes da casa é o forno indiano, de onde sai o dia todo o delicioso pão de naan, feito de farinha de trigo orgânica. O trigo e a cevada são moídos lá mesmo no empório.
"Eu amo pão e sempre que faço o check-in em algum hotel vejo escrito "nosso café da manhã vai até as dez da manhã". Que coisa antipática! Pois aqui vai ter café da manhã a toda hora. Quem é atleta vem cedo, e quem acorda tarde vem tarde", anuncia a proprietária do Carême Bistrô.
Assim como Salles, Quaresma trouxe para o Siriúba idéias da maior feira de produtos orgânicos da Alemanha, a BioFach, que acontece em Nuremberg em fevereiro. "Nesse ano, o Brasil foi o país-tema, eu achei um pouco prematuro porque a gente tem muito o que aprender. Mas, por outro lado, é uma oportunidade para a gente se aprimorar, porque a feira é uma fonte de conhecimento e de inspiração", diz a chef carioca que freqüenta e cozinha na Biofach há quatro anos.
Segundo Quaresma, o que o empório apresenta é apenas o reflexo da tendência mundial, da busca por uma alimentação mais equilibrada, sem excessos.
Quaresma: "Dá para ser bem menos radical e mais feliz com as mesmas coisas que se come, pensando na origem do alimento e na forma como se cozinha. O excesso de cozimento, por exemplo, prejudica a função nutricional e terapêutica do alimento".
"Estamos fechando parcerias com diversos produtores orgânicos, com palmito de Parati ou legumes do sul de Minas. É uma integração do empório com o campo. Nessa feira hortifruti, a idéia é contactar produtores locais, assim vendemos produtos fresquíssimos, que forma colhidos no mesmo dia", completa Salles. "Isso aqui é a cozinha do bem-estar", pontua Quaresma.
Mas quanto custa a cozinha do bem-estar? Os preços dos orgânicos, segundo Salles, tendem a subir entre 30% e 50%, dependendo do item. Por exemplo, um pedaço de bolo de banana orgânico, de 150 g, custa R$ 6,50. Uma geléia de melancia sem açúcar é vendida por R$ 8,60.
"É mais caro mesmo, mas prove esse suco de maracujá, vê que diferença de sabor. Nesse país faltam muitos grãos e frutas orgânicas. Mas a gente não vai deixar de fazer um suco terapêutico só porque a fruta Z não é orgânica. O que a gente não quer é essa rigidez", diz Quaresma.


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