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Música
Diana Krall volta aos standards
Em "From This Moment On", cantora interpreta canções de Cole Porter, Irving Berlin e Tom Jobim
Casada com Elvis Costello, ela diz à Folha que não pensa em comparações com astros do passado e que suas escolhas são intuitivas
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Diana Krall é uma cantora excelente, uma
pianista talentosa e
uma artista de respeito. Mas
sofre de um problema generalizado entre cantores modernos
de músicas antigas: sob a comparação injusta a que é submetida com intérpretes anteriores, sua interpretação padece
de uma certa insipidez, pendendo na balança mais pro lado
de trabalho genérico do que de
grande arte.
Em seu novo álbum, "From
This Moment On", a cantora e
pianista canadense volta a atacar exatamente os standards,
canções de compositores como
Cole Porter, George e Ira
Gershwin, Irving Berlin, Richard Rodgers, Lorenz Hart e
também Tom Jobim ("Insensitive"), todas já gravadas por
gente como Frank Sinatra, Ella
Fitzgerald ou até Rod Stewart.
Neotradicionalismo
Por telefone, com os minutos
contados por um assessor que
entrava na linha sem cerimônia, a lacônica e algo impaciente senhora Elvis Costello conversou com a reportagem, de
cara respondendo: dá medo
gravar essas músicas? É tremendamente necessário que se
procure o novo, aquele detalhe
que ninguém revelou?
"Você tem razão, é difícil interpretar esse tipo de clássico",
comenta. "Mas eu não trabalho
assim, eu tenho um senso intuitivo. Apenas vou lá e faço. Não
posso começar a pensar que tenho que ser melhor que o Sinatra. Eu apenas sei o que aquela
música significa para mim. Eu
me conheço bem e sei porque
escolhi aquelas músicas."
Natural, já que Krall não é
nenhuma novata. Aos 41 anos,
sua carreira já tem mais de 15 e
hoje ela é uma das mais estabelecidas e respeitadas entre as
cantoras modernas de jazz. É
também uma das principais representantes de um neotradicionalismo que se apóia com
força em tudo que foi feito há
mais de 50 anos -do repertório
à sonoridade.
Gosto pelo passado
Krall nasceu na época errada? Será que sentiria mais à
vontade se fosse uma artista vivendo na época que emula?
"Não, acho apenas que sou uma
pessoa que aprecia a história",
justifica-se. "Eu cresci ouvindo
música dos anos 40, então isso
é algo que gosto. Eu gosto muito de coisas antigas, mas também gosto de coisas novas."
Como a música de seu marido, o roqueiro que sempre extrapolou os limites do rock Elvis Costello. Krall é sempre rápida em elogiá-lo, e em seu disco anterior, "The Girl in the
Other Room", chegou até a cantar algumas composições suas
em parceria com ele. Por que,
aliás, desistiu das composições
para voltar aos standards? Convenhamos que gravar standards deve ser uma tentação, já
que as canções são realmente
estupendas.
No disco novo, Krall canta
amparada por uma big band
formada por seus já tradicionais colaboradores da orquestra Clayton-Wilson, de músicos
como o guitarrista Anthony
Wilson e o baixista John Clayton. A linha-fina é que é seu disco mais alegre, esperançoso e
pra cima, conseqüência da felicidade de seu casamento e da
atual gravidez.
Que ninguém diga que o disco não é bom ou que Krall não
tem talento. Reafirmando o
primeiro parágrafo, ela é uma
cantora muito boa e uma pianista incriticável. Mas, com o
risco de soar passadista, é o caso de perguntar: há necessidade de uma cantora refazendo o
que outros já fizeram melhor?
Artisticamente, é claro que
não há problemas em reverenciar o passado e tê-lo como
ponto de partida para criar sua
linguagem própria, mas os riscos são sempre grandes. Krall
pode até agradar interessados
em música, mas seu grande público é sempre aqueles que não
são fãs de jazz, mas gostam do
clima bacana para acompanhar
um jantarzinho.
FROM THIS MOMENT ON
Artista: Diana Krall
Gravadora: Verve/Universal
Quanto: R$ 35, em média
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