São Paulo, sexta-feira, 15 de setembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Música

Diana Krall volta aos standards

Em "From This Moment On", cantora interpreta canções de Cole Porter, Irving Berlin e Tom Jobim

Casada com Elvis Costello, ela diz à Folha que não pensa em comparações com astros do passado e que suas escolhas são intuitivas


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Diana Krall é uma cantora excelente, uma pianista talentosa e uma artista de respeito. Mas sofre de um problema generalizado entre cantores modernos de músicas antigas: sob a comparação injusta a que é submetida com intérpretes anteriores, sua interpretação padece de uma certa insipidez, pendendo na balança mais pro lado de trabalho genérico do que de grande arte.
Em seu novo álbum, "From This Moment On", a cantora e pianista canadense volta a atacar exatamente os standards, canções de compositores como Cole Porter, George e Ira Gershwin, Irving Berlin, Richard Rodgers, Lorenz Hart e também Tom Jobim ("Insensitive"), todas já gravadas por gente como Frank Sinatra, Ella Fitzgerald ou até Rod Stewart.

Neotradicionalismo
Por telefone, com os minutos contados por um assessor que entrava na linha sem cerimônia, a lacônica e algo impaciente senhora Elvis Costello conversou com a reportagem, de cara respondendo: dá medo gravar essas músicas? É tremendamente necessário que se procure o novo, aquele detalhe que ninguém revelou?
"Você tem razão, é difícil interpretar esse tipo de clássico", comenta. "Mas eu não trabalho assim, eu tenho um senso intuitivo. Apenas vou lá e faço. Não posso começar a pensar que tenho que ser melhor que o Sinatra. Eu apenas sei o que aquela música significa para mim. Eu me conheço bem e sei porque escolhi aquelas músicas." Natural, já que Krall não é nenhuma novata. Aos 41 anos, sua carreira já tem mais de 15 e hoje ela é uma das mais estabelecidas e respeitadas entre as cantoras modernas de jazz. É também uma das principais representantes de um neotradicionalismo que se apóia com força em tudo que foi feito há mais de 50 anos -do repertório à sonoridade.

Gosto pelo passado
Krall nasceu na época errada? Será que sentiria mais à vontade se fosse uma artista vivendo na época que emula? "Não, acho apenas que sou uma pessoa que aprecia a história", justifica-se. "Eu cresci ouvindo música dos anos 40, então isso é algo que gosto. Eu gosto muito de coisas antigas, mas também gosto de coisas novas."
Como a música de seu marido, o roqueiro que sempre extrapolou os limites do rock Elvis Costello. Krall é sempre rápida em elogiá-lo, e em seu disco anterior, "The Girl in the Other Room", chegou até a cantar algumas composições suas em parceria com ele. Por que, aliás, desistiu das composições para voltar aos standards? Convenhamos que gravar standards deve ser uma tentação, já que as canções são realmente estupendas.
No disco novo, Krall canta amparada por uma big band formada por seus já tradicionais colaboradores da orquestra Clayton-Wilson, de músicos como o guitarrista Anthony Wilson e o baixista John Clayton. A linha-fina é que é seu disco mais alegre, esperançoso e pra cima, conseqüência da felicidade de seu casamento e da atual gravidez. Que ninguém diga que o disco não é bom ou que Krall não tem talento. Reafirmando o primeiro parágrafo, ela é uma cantora muito boa e uma pianista incriticável. Mas, com o risco de soar passadista, é o caso de perguntar: há necessidade de uma cantora refazendo o que outros já fizeram melhor?
Artisticamente, é claro que não há problemas em reverenciar o passado e tê-lo como ponto de partida para criar sua linguagem própria, mas os riscos são sempre grandes. Krall pode até agradar interessados em música, mas seu grande público é sempre aqueles que não são fãs de jazz, mas gostam do clima bacana para acompanhar um jantarzinho.


FROM THIS MOMENT ON    
Artista: Diana Krall
Gravadora: Verve/Universal
Quanto: R$ 35, em média


Texto Anterior: CDs
Próximo Texto: Cordel passa por transformação em terceiro CD
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.