São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 2011

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CRÍTICA COMÉDIA

Peça de Woody Allen diverte, mas não fica à altura dos filmes

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Uma comédia quase séria. "Adultérios", peça de Woody Allen montada por Alexandre Reinecke, confirma a verve afiada do cineasta para os diálogos e diverte, mas sem maiores compromissos.
Encenada pela primeira vez em 2003, no circuito off-Broadway de Nova York, como a primeira parte de um espetáculo com duas peças em um ato do escritor, marcou sua estreia como diretor teatral e fez sucesso.
A montagem brasileira conta com boa tradução de Raquel Ripani e adaptação correta de Reinecke para uma história curta. O encontro casual de um roteirista de cinema, famoso e bem casado, com um psicopata às margens do rio Hudson, enquanto espera a amante secreta com quem pretende encerrar o relacionamento.
É impossível não reconhecer o diálogo do cineasta com a antológica peça de Edward Albee, "História do Zoológico", que parte de situação semelhante: um pacato cidadão de classe média surpreendido por um morador de rua.
A diferença é que no caso de Allen há sempre uma piada pronta a emergir, mesmo nas situações mais insólitas. Na primeira parte ainda surge um interessante contraste entre os personagens do roteirista, supostamente um bom fabulador, e daquele que o acua, um lunático com muito mais imaginação, ainda que fora dos padrões de normalidade.
Aos poucos, na medida em que o tema da amante incômoda predomina, o registro cômico ligeiro vai se impondo até um fim mais decepcionante do que surpreendente.
O ponto alto do espetáculo é o cenário de André Cortez. Ele captura a imagem padrão dos bancos de praça e a expande por todo o espaço cênico, criando um território contido e ao mesmo tempo alegórico que contribui para os melhores momentos da encenação. As interpretações dos atores acolhem as necessidades do texto, mas não chegam a ser brilhantes. Fábio Assunção mantém uma monótona impostação para alcançar o personagem desajustado.
Norival Rizzo serve-se de sua experiência para sustentar o adúltero arrependido, mas perde o prumo quando a peça se acomoda na comicidade. Carol Mariottini, como a amante rejeitada, faz o que pode.
O texto de Woody Allen pode ser considerado uma peça bem feita, no sentido de ser redonda e bem acabada. Mesmo assim, isso é pouco para fazer do espetáculo algo à altura de seus filmes. Com uma fachada de humor negro, não vai além do superficial.

ADULTÉRIOS
QUANDO sex., às 21h30, sáb, às 21h, dom., às 19h
ONDE Teatro Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 0/xx/11/
QUANTO de R$ 50 a R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom


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