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ANÁLISE
"Celebridade" trafega entre crítica e cinismo
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Quem esperava uma pausa
nos dramas da "vida real" na
novela das oito se enganou.
"Celebridade", a nova novela de
Gilberto Braga, que a Rede Globo
estreou anteontem, confirma a
veia provocativa do autor, hábil
na arte de intervir em temas candentes.
No que tange a violência urbana, a nova novela começou dando
continuidade a sua antecessora.
Maria Clara (Malu Mader), a
heroína de "Celebridade", modelo e empresária musical, reforçou,
no capítulo de estréia, a campanha dos protagonistas de "Mulheres Apaixonadas" pelo desarmamento.
Em uma, como na outra, pacifismo combina com repetidas cenas de sacanagem, com pouca ou
nenhuma sutileza.
Para compensar o desgaste de
"O Dono do Mundo", a personagem de Malu Mader desta vez está
acima de qualquer suspeita. Mulher independente e bem sucedida, ela defende pedagogicamente
a sua liberdade.
O personagem de Alexandre
Borges, jornalista consagrado, bêbado e desempregado, promete
uma mensagem que combina
com a campanha antidrogas de
"O Clone".
O casal negro, ele fotógrafo, ela
modelo de sucesso, segue a linha
de ação afirmativa, também compartilhada.
Estilos
É claro que há diferenças e marcas autorais. Mestre nos meandros do glamour carioca, Braga
promete colocar o dedo em feridas que mobilizam a indústria da
fama, jornalismo, Hollywood e a
própria Globo incluídos.
A novela trata dos paradoxos de
um mundo que acena com a possibilidade generalizada de ascensão via show business. O tema
promete uma profusão de perspectivas.
Celebridade aparece como sinônimo de poder. Não está dada pelo sangue azul, "de berço". Merece ser disputada. Justifica ambição, confundida por vezes com
vulgaridade e caradura.
Celebridades nem sempre são
tão poderosas quanto parecem.
Há poderes concentrados em estruturas que pouco aparecem. A
celebridade é instável. Vaciladas
podem dar em "desvios".
Inveja
Em uma sociedade que insiste
em negar outros tipos de inclusão,
como em um jogo, a celebridade
pode garantir ao menos os 15 minutos.
Mas mais que a celebridade, o
tema da novela é a inveja que ela
desperta nos que não são célebres.
Fãs têm um pouco de rivais.
A boa índole da protagonista a
torna alvo fácil da agressão, fruto
de um misto de fascinação e inveja, que articula o culto às estrelas.
A ação do primeiro capítulo é
exemplar: sequestro, perseguição
policial, tiroteio, festival de fogos
de artifício, incêndio, explosão,
lancha e helicóptero.
Como em outras oportunidades, Gilberto Braga atua no fio da
navalha entre a crítica moral
-que reforça a existência do tapete vermelho, separando o universo dos "astros" do cotidiano
das formiguinhas- e o cinismo
que justifica o "vale tudo".
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
CELEBRIDADE. Quando: seg. a sab., às
20h45, na Globo.
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