São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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ERIKA PALOMINO

Michel Euler/Associated Press
O estilista alemão Karl Lagerfeld e a atriz Nicole Kidman, no desfile da coleção Chanel, em Paris


MODA DE PARIS SE RENDE AO CULTO ÀS CELEBRIDADES

Quem diria, até a capital da moda se rende à cultura das celebridades e a esse marketing. Sinal de mudança dos tempos, uma era em que a moda precisa das celebrities e vice-versa. E olha que quem sempre gostou de famosos eram Nova York e Milão, com toda a sorte de starlets de TV e gente de Hollywood aqui e ali (em Armani e Versace, principalmente).
Duas grandes ações (como se diz no meio) movimentaram Paris na temporada de lançamentos do prêt-à-porter de verão 2005, que terminou na cidade na última segunda-feira, encerrando um mês de desfiles internacionais (sem falar na presença de Gwyneth Paltrow na Stella McCartney e no perfume Love Bomb, de Viktor & Rolf). A mais grandiosa delas foi o desfile da Chanel. Para começar, a apresentação toda foi montada como um grande red carpet, ou seja: sua ambientação, na enorme sala do Carrousel do Louvre (sede oficial dos desfiles), era como se fosse uma entrada para um prêmio (Oscar, festival de Veneza, Grammy, Cannes...). As modelos caminhavam sobre uma passarela de tapete vermelho e eram seguidas por uma série de fotógrafos falsos, que espocavam flashes gigantes, aumentando a tensão e o glamour inerente às luzes vindas do pit quando vão se aproximando as garotas, algo que faz parte da própria magia da moda. Ah, e também uma breve alusão ao fato de que todos os longos presentes nas coleções de hoje são pensados para essas ocasiões de red carpet mesmo...
A primeira entrada foram as supermodels dos anos 90: Linda, Kristen (a mesma que havia aparecido na Prada, em Milão), Nadja Auermann, Naomi, Amber Valetta, usando vestidos... longos. Faltou Kate Moss, que parece que não aceitou o convite para participar desta homenagem. Elas entraram vindas do lado contrario da passarela. Ao chegar à boca de cena, mais "fotógrafos" e pronto. A mágica estava feita.

VUITTON TEM HOLLYWOOD E HIP HOP
Enquanto isso, outra marca se exercitou no vocabulário do marketing e das celebridades, a Louis Vuitton desenhada por Marc Jacobs. Com 150 anos de vida, a Vuitton já entendeu há um tempinho que precisa sempre dar uma chacoalhada para não ficar na saudade. O primeiro passo deles foi justamente o de chamar Jacobs, em 97. Ele já chamou para colaborar com a grife o artista Takashi Murakami, a ilustradora Julie Verhoeven, o grafiteiro/estilista Stephen Sprouse. Em 2003, convocou a popozuda Jennifer Lopez para ser sua garota-propaganda, numa curiosa subversão de rua/luxo; hi&lo. Em sua publicidade de inverno, acionou as atrizes Scarlett Johansson, Chloé Sevigny e Christina Ricci. E foi Ricci quem abriu o desfile de verão em Paris, atravessando a passarela para se sentar ao lado justamente da editora Anna Wintour -que adora atrizes na capa de sua "Vogue" América.
E não foi só. Jacobs aproveitou para lançar a linha de óculos da LV criada em parceria com o produtor de hip hop Pharrel Williams (Neptunes/ N.E.R.D.), uma das novas estrelas da música, responsável por ter produzido Kelis e Usher, sem falar no hino "Frontin". Ele é superfa- shion e tem uma linha de tênis. Pois os óculos, cheios de cultura de rua, são vermelhos, dourados, azuis, com brilho, de gatinho... Extravagantes. Vai ser uma delícia ver as endinheiradas consumidoras da Vuitton como personagens da real estética de hip hop de NY, um dos estilos mais influentes do momento, de fato. Esperto, Jacobs baseou toda a edição dos looks de seu desfile no jeitão assim meio vintage e descolado da jovem modelo Querelle, 15, em suas roupas da vida real. Tudo ao som do Munk, deste álbum "Aperitivo", de que falei aqui na semana passada, antes do desfile!! Viu? Confirmou.

SUPERMODELS X NICOLE KIDMAN
Aliás, a mágica se instalara antes. Quando da entrada de Nicole Kidman. Sua presença já havia sido antecipada e bem antes do início do desfile os fotógrafos já haviam feito uma parede humana em frente ao seu lugar, na primeira fila. O que se seguiu depois de sua entrada foi pura histeria. Eles perderam o controle e tiveram que reforçar a segurança, enquanto a bela Nicole se mantinha impávida. O nervosismo se justificava: a atriz é hoje a maior estrela de Hollywood. Magra, alta, fa- shion, linda; amada pela "Vogue" América, por homens e mulheres, um ícone dos nossos tempos. Nicole também vem a ser a garota-propaganda do perfume Chanel número 5, símbolo atemporal de luxo e feminilidade. Criado em 1922 pela própria Coco Chanel em si, o número 5 é o primeiro grande momento da perfumaria mundial, que ali instalou o processo das fragrâncias como alavanca das vendas das roupas, complemento do universo dos estilistas. É considerado um clássico. E como tal, nos dias de hoje, carece de uma ajudazinha dos marqueteiros para não se tornar uma velharia; precisa permanecer desejado pelas jovens gerações. Assim, no novo e esperado filme publicitário do produto, Nicole aparece ao lado de Rodrigo Santoro, que poderia ter ido junto ao evento, não? Quem esteve lá com ela foi o diretor Baz Luhrmann, de "Moulin Rouge" e do novo filme.
E, quando entra o estilista Karl Lagerfeld, os fotógrafos (agora os de verdade) vão à loucura: ele pára diante da atriz e a convida para subir à passarela, que segundos depois é completamente invadida. Caos total. Vêm as modelos, até ontem as estrelas de Paris. Ninguém dá atenção para elas, e Naomi Campbell se irrita, puxando a fila de suas colegas super para fora da passarela. Sinal dos tempos mesmo.


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