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CARLOS HEITOR CONY
De discos voadores e extraterrestres
Vida em outros planetas,
discos voadores, seres extraterrestres são temas recorrentes
na mídia, em filmes e em congressos metidos a científicos. São temas habituais de conversas para
enxugar gelo, quando se deixa de
falar mal dos outros e cada um
conta um caso de assombração.
Houve época em que a pole position do assunto era ocupada pela
mula-sem-cabeça, pelo saci-pererê e pelos diversos duendes, que,
bons ou maus, mantinham ouriçada a imaginação de crianças e
adultos.
Nenhuma dessas entidades folclóricas tentou se vender cientificamente, filosoficamente ou teologicamente, ao contrário dos extraterrestres, que, segundo alguns
de seus crentes, chegam a ser deuses.
Convocado para um debate por
pessoas bem-intencionadas, fui o
desmancha-prazeres de sempre.
Não cheguei a negar a possibilidade de vida em outros planetas,
desde que fora do nosso sistema
solar. O raciocínio é simples.
A fonte da vida como a nossa,
dependente de carbono, oxigênio,
hidrogênio e outros elementos,
provém do Sol, uma estrela de
quinta grandeza que expeliu a
matéria que formaria os planetas
que conhecemos. Cada um desses
planetas criou um ambiente determinado pela distância de sua
fonte de energia, que é o próprio
Sol. Na Terra, a posição solar determina o verão e o inverno, de
acordo com a rotação do nosso
planeta, onde há regiões geladas e
outras quentes demais, que em alguns casos impedem qualquer
manifestação de vida.
Os planetas mais próximos do
Sol seriam tão quentes que não
poderia haver vida igual à nossa.
Os mais distantes seriam tão gelados que a vida seria igualmente
impossível. Basta comparar uma
floresta tropical, como a da Amazônia, com as estepes russas ou
com o continente gelado da Antártida, que distam uma das outras alguns quilômetros, uma insignificância em comparação
com a distância entre a Terra e
Marte ou Vênus, nossos vizinhos
mais próximos.
Contudo, como o Sol não passa
de uma estrela de quinta grandeza, é quase certo que estrelas
maiores ou menores tenham planetas girando em torno de sua
fonte de energia. É até possível
que, entre os milhões de sóis existentes no espaço, haja alguns que
mantêm uma distância proporcional à da Terra em relação ao
seu sol. Donde uma vida bem parecida com a nossa seria provável.
Admitindo essa remota possibilidade (a da vida fora da Terra),
pergunta-se a razão das visitas
que, desde a remota Antigüidade,
os extraterrestres fazem ao nosso
planeta. Em forma de carro de fogo, como o que transportou o profeta Elias para o céu, até o mais
recente disco voador, que foi visto,
nesta semana, por um porteiro de
prédio aqui na Lagoa, onde moro.
Levanto três hipóteses: 1) os discos voadores são tripulados por
indivíduos pertencentes a uma civilização milhões de anos acima
da nossa; 2) são tripulados por
gente de uma civilização mais
atrasada que a nossa; 3) são tripulados por gente igual à nossa.
Na primeira hipótese, o que viriam fazer aqui, num planeta
atrasado e boçal, representantes
de uma civilização que há milênios já teria atingido o estágio espiritual e material que se atribui
aos extraterrestres? Uma civilização que já teria dominado a comunicação mental, a visão do
presente, do passado e do futuro,
a tecnologia capaz de vencer distâncias galácticas, usando forças
magnéticas que não conhecemos.
Num tempo em que os profetas
bíblicos, como Elias, andavam a
pé ou montados em jumentos, os
extraterrestres já viajavam em
veículos bem mais adiantados do
que as nossas naves espaciais de
hoje.
Qual a finalidade dessas visitas:
aprender o que já sabiam e superaram? Ensinar alguma coisa no
plano moral ou material? Bem,
eles respeitam o nosso livre-arbítrio, como o Deus judaico-cristão.
Sabem que vamos fazer besteira,
matar e ser mortos com nossas
guerras, adoecer e morrer comendo carnes vermelhas. Assistem à
humanidade caminhando para o
mal e para a destruição, mas não
interferem.
Lembremos os espanhóis e portugueses, que, nos séculos 15 e 16,
tripulando os discos voadores daquele tempo, que eram as caravelas, chegaram a um mundo novo
e encontraram uma humanidade
que vivia na Idade da Pedra Lascada. Eles já estavam entrando
na Renascença. Inicialmente, o
contato foi pacífico: trocaram espelhinhos e facas por mulheres e
pau-brasil. Depois trouxeram
Cristo. Trouxeram Caramuru,
que deu um tiro de arcabuz e foi
chamado de "filho do trovão". E
foi aí que nossa história começou.
Na segunda hipótese, os extraterrestres seriam de uma civilização mais atrasada que a nossa.
Como teriam chegado até aqui? E
nada teriam aprendido com a
gente? Bem ou mal, já temos os
ônibus espaciais que vão e voltam
lá de cima. Eles devem estar
voando num troço parecido com
o 14-Bis, do Santos Dumont.
Finalmente, a terceira hipótese:
esses visitantes espaciais estão
num estágio de civilização igual
ao nosso. Nesse caso, já seria tempo de um desses extraterrestres
aparecer no programa do Jô Soares e melhorar o visual de formiga
gigante com uma plástica feita
pelo dr. Ivo Pitanguy.
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