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LITERATURA
Consultados pela Folha, escritores e críticos literários avaliam nomes brasileiros para o principal prêmio mundial
Especialistas sugerem Gullar para o Nobel
JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL
"A nossa literatura é galho secundário da portuguesa, por sua
vez arbusto de segunda ordem no
jardim das Musas...", escreveu
Antonio Candido em 1957, no
prefácio para seu clássico "Formação da Literatura Brasileira".
Difícil é compreender se a afirmação encerra um juízo auto-imposto ou se simplesmente reflete a visão que teriam os estrangeiros de
nossa produção.
Lygia Fagundes Telles parece
acreditar na segunda opção. Na
última quinta, poucas horas após
o anúncio do dramaturgo inglês
Harold Pinter como vencedor do
Prêmio Nobel de Literatura de
2005, a escritora, em Portugal, declarou-se insatisfeita com a escolha. "Algum dia, quem sabe, se
lembrarão do Brasil", disse Telles,
amargamente.
Tomando a declaração como
ponto de partida, a Folha realizou
entrevistas com críticos literários
e escritores diversos, indagando
quem seria, atualmente, o nome
mais forte da literatura brasileira
para receber o prestigiado prêmio, levando em conta que só os
vivos podem ser agraciados. O resultado surpreendeu pela supremacia de um candidato: cinco dos
oito entrevistados citaram com
alguma veemência o nome de
Ferreira Gullar, colunista da Folha. Três deles -Milton Hatoum,
Antonio Carlos Secchin e Murilo
Marcondes de Moura- afirmando tratar-se do "maior poeta brasileiro vivo".
Os outros favoráveis são o professor Alcides Villaça e o escritor
Luiz Ruffato, este mencionando
também Telles. Manuel da Costa
Pinto, ainda, chegou a citar Gullar, mas acabou sendo excluído
da contagem pelas sucessivas ressalvas que fez, relativas ao fato de
que os brasileiros que mais mereciam ganhar já estão mortos (sua
lista seria encabeçada por João
Guimarães Rosa e Clarice Lispector). Silviano Santiago, por sua
vez, preferiu não citar nomes. O
oitavo, o próprio Gullar, também
furtou-se da automenção.
Entre os participantes, é preciso
ressaltar, a posição de Secchin era
previsível. Foi ele o responsável
por aportar em Estocolmo, em
2002, com um dossiê contendo
uma biografia de Gullar, uma tradução de seus poemas a diversas
línguas e um abaixo-assinado em
que constavam importantes nomes das letras nacionais e internacionais. A intenção era clara: torná-lo o segundo escritor de língua
portuguesa laureado pelo prêmio,
depois de José Saramago, em 98.
O lobby não vingou. Mas pode
ter deixado a impressão de que,
talvez, em outras circunstâncias, o
poeta pudesse ser agraciado. Se
mereceria mais que Rosa, Carlos
Drummond de Andrade ou João
Cabral de Melo Neto, autores citados por especialistas, parece não
ser a questão principal. O fato é
que faltou pressão.
Para Santiago, em se tratando
de Nobel, a questão nacional vale
pouco: "Falta uma política cultural de peso, semelhante à de Portugal por trás de Saramago ou a
mexicana por trás de Octavio
Paz". O Nobel é um prêmio político, afirma, e nisso tem a concordância dos demais.
Parece unânime a consciência
de que um possível prêmio dado a
um brasileiro não dependerá jamais da boa memória dos suecos.
Para que aconteça, concordam,
será necessária uma ampla manifestação política, institucional e
cultural, o que acreditam jamais
ter havido nestas terras -férteis,
vale lembrar.
Quanto a Gullar, afirma vagamente que alguns escritores brasileiros mereceriam o prêmio, mas
prefere não citar nomes, "para
não discriminar". E diz não pensar na possibilidade de que o seu
venha de fato à tona: "Não faz
parte das minhas preocupações e
não sei se estou no nível de merecer essa distinção".
A esta mesma pergunta, os outros escritores entrevistados deram respostas semelhantes. Luiz
Ruffato inclusive lamentando a
atitude dos que escrevem apenas
para conseguir prêmios. A Hatoum restou a piada final: "Só minha mãe pensa nisso". Para azar
do filho, ela vive nas entranhas da
floresta amazônica, distante até
de nosso arbusto local.
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