São Paulo, quinta, 15 de outubro de 1998

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Busca por novo marca carreira

EDSON FRANCO
Editor de Veículos

Com um pendor quase irresponsável -mas nunca inconsequente- pela inovação, Jeff Beck entra para a história da música deste século como aqueles gênios criadores que só são decifrados pelas gerações futuras. Como um trapezista que dispensa a rede, ele tem atração pelo risco. Sua carreira é eterna busca pelo inusitado. Sempre que uma fórmula funciona, Beck procura novos problemas.
Foi assim quando, no final dos anos 60, o guitarrista participou da "redescoberta" britânica do blues e da gestação do heavy metal. Na década seguinte, Beck produziu algumas das poucas idéias interessantes da canoa furada chamada jazz-fusion. Dos anos 80 para cá, ele se ocupa em tornar instigantes as variações do pop.
Acompanhar a trajetória de Beck não é tarefa para ouvinte médio. Embora palatável, sua música atrai mais a admiração e o respeito de seus parceiros guitarristas. Mais do que tocar com correção técnica, Beck se preocupa em esculpir notas. Além das funções harmônicas, elas passam a compor textura coesa. O fraseado do guitarrista transforma ruído e som em sinônimos.
O resultado é uma obra julgada pelos subprodutos. Seus experimentos para transformar o braço da guitarra em terreno inexplorado viraram desculpa para guitarristas que não sabem tocar. Beck tem sua dose de culpa. Seu talento para administrar a carreira é inverso àquele que ele mostra com a guitarra. Jamais conseguiu ficar em um grupo tempo suficiente para que sua obra falasse mais alto que as de seus subprodutos.



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