|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Atriz volta a atuar em "A Honra", montagem que opõe pós-feminismo à personagem do seriado de TV
Regina reinventa "Malu Mulher" no palco
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
Sai Malu, entra Nora. Duas décadas depois de propagar um feminismo de contestação em "Malu Mulher" (1979), aquele que arregaçava as mangas e ia à luta ainda que amainado pelo padrão
Globo, Regina Duarte, 52, está
descobrindo os prazeres do pós-feminismo na montagem de "A
Honra", texto inédito da dramaturga australiana Joana Murrey-Smith, que estréia dia 23 em São
Paulo, no Cultura Artística.
A personagem da peça é uma
mulher de meia-idade, casada há
30 anos com um jornalista. Ela
abdica da carreira de escritora para se dedicar exclusivamente ao
marido e à filha. Até que um belo
dia... A traição, a "concorrência"
com uma mulher mais jovem e a
inevitável crise da separação.
"Comparando com o movimento feminista, do qual Malu foi
um símbolo no Brasil daquela
época, Nora faz um movimento
completamente oposto", compara Regina.
A atriz define a personagem como "pós-feminista evoluída", a
quem não mais interessa a contestação pela contestação. "Suas
palavras de ordem são verdade e
bondade", diz. Como se a vida ensinasse mais do que os dogmas.
É sob essa perspectiva revisionista que Regina retorna ao teatro, sete anos depois de interpretar o príncipe de Calderón de la
Barca em "A Vida É Sonho", dirigida por Gabriel Villela. Nem ela
sabe explicar muito bem o porque
da sua relação bissexta com os
palcos.
Confessa que gostaria de contar
mais do que as sete, oito peças
montadas ao longo de 35 anos de
carreira. Mas a concorrência com
as novelas não deixa.
Há tempos que Regina buscava
um texto que lhe dissesse respeito. Leu novos nomes da dramaturgia inglesa e americana, pensou em "A Rainha da Beleza de
Leenane", do britânico Martin
Mcdonagh, mas Xuxa Lopes chegou primeiro. Até que deu com
"A Honra" numa livraria especializada da Broadway.
Nora espelha, de alguma forma,
o momento pessoal da atriz. Ela já
viveu a dor da separação em quatro casamentos.
É um texto de frases curtas,
pontuais. Seus personagens lidam
cotidianamente com o exercício
de encontrar palavras certas nos
seus discursos.
A escritora (Nora), o jornalista
(Guilherme), a amante também
jornalista (Cláudia) e a filha universitária (Sofia) não usam o verbo como arma. Antes, vêem na
palavra uma possibilidade mútua
compreensão e autoconhecimento.
"O texto é bastante poético. Os
personagens têm grande necessidade de precisar o que realmente
estão sentindo ou querendo expressar", explica.
Para a montagem, a atriz e produtora convidou o diretor Celso
Nunes. No elenco, Gabriela Duarte faz o papel da filha, enquanto
Carolina Ferraz e Marcos Caruso
atuam como amantes.
A montagem marca a estréia
profissional de Carolina, 30, no
teatro. "Estou excitada, porque
todos os meus contatos com o
palco, até aqui, foram como bailarina e atriz amadora", diz
Texto Anterior: Evento: "Desmundo" tem leitura na Folha Próximo Texto: Zimbres estréia HQ hoje Índice
|