São Paulo, Segunda-feira, 15 de Novembro de 1999
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TEATRO
Atriz volta a atuar em "A Honra", montagem que opõe pós-feminismo à personagem do seriado de TV
Regina reinventa "Malu Mulher" no palco

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha

Sai Malu, entra Nora. Duas décadas depois de propagar um feminismo de contestação em "Malu Mulher" (1979), aquele que arregaçava as mangas e ia à luta ainda que amainado pelo padrão Globo, Regina Duarte, 52, está descobrindo os prazeres do pós-feminismo na montagem de "A Honra", texto inédito da dramaturga australiana Joana Murrey-Smith, que estréia dia 23 em São Paulo, no Cultura Artística.
A personagem da peça é uma mulher de meia-idade, casada há 30 anos com um jornalista. Ela abdica da carreira de escritora para se dedicar exclusivamente ao marido e à filha. Até que um belo dia... A traição, a "concorrência" com uma mulher mais jovem e a inevitável crise da separação.
"Comparando com o movimento feminista, do qual Malu foi um símbolo no Brasil daquela época, Nora faz um movimento completamente oposto", compara Regina.
A atriz define a personagem como "pós-feminista evoluída", a quem não mais interessa a contestação pela contestação. "Suas palavras de ordem são verdade e bondade", diz. Como se a vida ensinasse mais do que os dogmas.
É sob essa perspectiva revisionista que Regina retorna ao teatro, sete anos depois de interpretar o príncipe de Calderón de la Barca em "A Vida É Sonho", dirigida por Gabriel Villela. Nem ela sabe explicar muito bem o porque da sua relação bissexta com os palcos.
Confessa que gostaria de contar mais do que as sete, oito peças montadas ao longo de 35 anos de carreira. Mas a concorrência com as novelas não deixa.
Há tempos que Regina buscava um texto que lhe dissesse respeito. Leu novos nomes da dramaturgia inglesa e americana, pensou em "A Rainha da Beleza de Leenane", do britânico Martin Mcdonagh, mas Xuxa Lopes chegou primeiro. Até que deu com "A Honra" numa livraria especializada da Broadway.
Nora espelha, de alguma forma, o momento pessoal da atriz. Ela já viveu a dor da separação em quatro casamentos.
É um texto de frases curtas, pontuais. Seus personagens lidam cotidianamente com o exercício de encontrar palavras certas nos seus discursos.
A escritora (Nora), o jornalista (Guilherme), a amante também jornalista (Cláudia) e a filha universitária (Sofia) não usam o verbo como arma. Antes, vêem na palavra uma possibilidade mútua compreensão e autoconhecimento.
"O texto é bastante poético. Os personagens têm grande necessidade de precisar o que realmente estão sentindo ou querendo expressar", explica.
Para a montagem, a atriz e produtora convidou o diretor Celso Nunes. No elenco, Gabriela Duarte faz o papel da filha, enquanto Carolina Ferraz e Marcos Caruso atuam como amantes.
A montagem marca a estréia profissional de Carolina, 30, no teatro. "Estou excitada, porque todos os meus contatos com o palco, até aqui, foram como bailarina e atriz amadora", diz


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