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CRÍTICA
O cronista do cais do porto de Santos
ARTICULISTA DA FOLHA
Apesar de as crônicas serem
o ponto de partida de "Plínio
Marcos - A Crônica dos que Não
Têm Voz", sua história no teatro é
retratada como o achado de Patrícia "Pagu" Galvão, que procurava
um palhaço para um espetáculo a
ser montado em Santos. Foi ela a
primeira a ler um texto teatral de
Plínio, "Barrela". Pagu escreveu
artigos comparando sua nova
descoberta a Nelson Rodrigues.
Já o cronista Plínio Marcos foi
uma "invenção" de Samuel Weiner, diretor do extinto jornal "Última Hora", que o contratou depois dos sucessos de "Dois Perdidos numa Noite Suja" (1966) e
"Navalha na Carne" (1967).
"Para ser honesto, eu entrei pro
jornal porque um amigo meu cismou que eu podia dar o recado
diário. De saída, me acanhei. Nem
de leve pude supor que conhecesse tantas histórias para garantir
uma produção de seis laudas diárias", escreveu Plínio, em 1972.
Considerado maldito, "uma pedra no sapato das elites", escrevia
usando o dialeto de sua gente e
abusando de palavrões. "Eu, como repórter de um tempo mau,
fiz a terra tremer várias vezes."
Foi colaborador da Folha, do
"Diário da Noite", do "Diário Popular", da "Realidade" e da imprensa alternativa. Não parou de
publicar até morrer, há dois anos,
quando escrevia para a revista
"Caros Amigos". Plínio chegou a
ser "empurrado" para a função de
crítico de cinema por pressão da
censura, apesar de confessar que
era "contra as discussões estéticas". Nos anos 80, quando estudava tarô, teve uma coluna sobre
esoterismo no "Diário Popular".
"Eu sei de mim muito pouco.
Mal me vejo e quase nem me reconheço. Em que atalho do caminho me perdi? Por que minha
consciência está entorpecida? Por
que só raras vezes a velha chama
me brota no peito? Eu me abro
com todos. Se eu não for sincero,
estou para sempre perdido", escreveu em "Última Hora".
O livro retrata a vida e a obra de
Plínio por meio de suas crônicas:
seu começo como palhaço de circo, seu encontro com Pagu nos
anos 50 e o ostracismo. Tinha a
injustiça social como tema prioritário. Se Bertolt Brecht dizia "só
um vidro separa o pão da fome",
ele replicava: "Mas existem as metrancas protegendo esse vidro...".
Foi o primeiro a reclamar de racismo em telenovelas, a expor os
abusos da lei do passe "que escraviza o jogador" e a retratar um homossexual sem os estereótipos da
época. Foi o autor mais censurado
de um "tempo mau". Chegou a
vender livros de sua autoria para
sobreviver. "Eu nasci para ser o
cronista do cais do porto de Santos. E juro por essa luz que me ilumina que vou ser", escreveu.
Plínio Marcos - A Crônica dos
que Não Têm Voz
Autores: Javier Contreras, Vinícius
Pinheiro e Fred Maia
Editora: Boitempo
Quanto: a ser definido
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