São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

Selos indies brasileiros apostam em filão ignorado pelas grandes gravadoras

Expansão indie

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Os primeiros indies brasileiros chegaram quietos, sem muito alarde, olhando para o chão da indústria musical. Hoje, já são quase gente grande e tentam expandir os horizontes.
Se pudesse ser resumida, essa seria a trajetória de três dos mais ativos/interessantes selos de rock indie (independente) brasileiros: os paulistas Bizarre e Slag! e o carioca Midsummer Madness
Esses selos começam a investir em um novo filão: bandas estrangeiras cultuadas que são ignoradas pelas gravadoras brasileiras. São eles que estão por trás dos lançamentos, no Brasil, de bandas como Godspeed You Black Emperor! (Canadá), Pastels (Escócia) e Telescopes (Inglaterra).
Se você nunca ouviu falar dessas bandas, não se preocupe. Em seus próprios países de origem, esses grupos são mais objetos de culto do que necessariamente grandes vendedores de discos. Entre os fãs, os mais dedicados são justamente os donos desses selos.
"Parti do princípio: "Se não lançar, nenhuma gravadora grande vai fazer isso'", diz Rodrigo Lariú, do carioca Midsummer Madness.
O paulista Bizarre, de Carlos Farinha, beneficiou-se com a internet. Através de troca de e-mails com bandas das quais é fã, ele conseguiu o licenciamento para lançar "Yanqui U.X.O.", do Godspeed. Ele conta que os contratos não são decididos apenas pelo dinheiro, já que o orçamento dos selos indies brasileiros é pequeno.
Mesmo os números de vendas são modestos. Um número ótimo de vendas para esses CDs é algo entre mil e 1.500 unidades de cada disco, números irrisórios para uma grande gravadora.
"O Godspeed quis ouvir os CDs de bandas brasileiras do nosso selo. Pediram para que produzíssemos os CDs de forma artesanal, para dar chances a profissões que estão se extinguindo", diz Farinha. "O contrato aconteceu devido a uma identificação de ideais."
Rodrigo Lariú, da Midsummer, diz que quase teve que fazer palestras sobre a situação econômica do Brasil para negociar o preço de licenciamento com estrangeiros.
"Os selos indies lá fora não entendem que nossa estrutura é outra", diz. Por questões financeiras, quase viu enterrado seus planos de lançar o Telescopes. Por sorte, acabou falando com o vocalista da banda, Stephen Lawrie, que possui os diretos autorais de grande parte das músicas do grupo.
"Ele gostou das bandas do meu selo e viu que eu realmente era fã do grupo. Aceitou receber um quinto do valor que a gravadora pedia", conta Lariú. O resultado foi a coletânea exclusiva para o Brasil "Premonitions 1989-1991".
Mas o que leva uma banda estrangeira a aceitar um baixo pagamento? "Funciona como um esquema de troca. Eles lançam suas bandas aqui e nós lançamos nossas bandas lá fora", diz Farinha.
"Eles sabem que não terão lucros monstruosos, mas sabem que não vão perder nada com isso. Sabem que uma gravadora grande não se interessaria em lançá-los por aqui", explica Lariú. Já Eduardo Ramos, 26, da Slag, é enfático: "Só lançamos bandas que realmente acreditamos e gostamos". Entre elas, estão nomes como Clinic, The Pastels, Nice Man e a inacreditável banda japonesa neopsicodélica Maher Shalal Hash Baz. "São discos para poucos, sei que não vão vender muito", diz Ramos.

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