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MÚSICA/LANÇAMENTOS
Selos indies brasileiros apostam em filão ignorado pelas grandes gravadoras
Expansão indie
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
Os primeiros indies brasileiros
chegaram quietos, sem muito
alarde, olhando para o chão da indústria musical. Hoje, já são quase gente grande e tentam expandir os horizontes.
Se pudesse ser resumida, essa
seria a trajetória de três dos mais
ativos/interessantes selos de rock
indie (independente) brasileiros:
os paulistas Bizarre e Slag! e o carioca Midsummer Madness
Esses selos começam a investir
em um novo filão: bandas estrangeiras cultuadas que são ignoradas pelas gravadoras brasileiras.
São eles que estão por trás dos
lançamentos, no Brasil, de bandas
como Godspeed You Black Emperor! (Canadá), Pastels (Escócia)
e Telescopes (Inglaterra).
Se você nunca ouviu falar dessas
bandas, não se preocupe. Em seus
próprios países de origem, esses
grupos são mais objetos de culto
do que necessariamente grandes
vendedores de discos. Entre os
fãs, os mais dedicados são justamente os donos desses selos.
"Parti do princípio: "Se não lançar, nenhuma gravadora grande
vai fazer isso'", diz Rodrigo Lariú,
do carioca Midsummer Madness.
O paulista Bizarre, de Carlos Farinha, beneficiou-se com a internet. Através de troca de e-mails
com bandas das quais é fã, ele
conseguiu o licenciamento para
lançar "Yanqui U.X.O.", do Godspeed. Ele conta que os contratos
não são decididos apenas pelo dinheiro, já que o orçamento dos
selos indies brasileiros é pequeno.
Mesmo os números de vendas
são modestos. Um número ótimo
de vendas para esses CDs é algo
entre mil e 1.500 unidades de cada
disco, números irrisórios para
uma grande gravadora.
"O Godspeed quis ouvir os CDs
de bandas brasileiras do nosso selo. Pediram para que produzíssemos os CDs de forma artesanal,
para dar chances a profissões que
estão se extinguindo", diz Farinha. "O contrato aconteceu devido a uma identificação de ideais."
Rodrigo Lariú, da Midsummer,
diz que quase teve que fazer palestras sobre a situação econômica
do Brasil para negociar o preço de
licenciamento com estrangeiros.
"Os selos indies lá fora não entendem que nossa estrutura é outra", diz. Por questões financeiras,
quase viu enterrado seus planos
de lançar o Telescopes. Por sorte,
acabou falando com o vocalista
da banda, Stephen Lawrie, que
possui os diretos autorais de grande parte das músicas do grupo.
"Ele gostou das bandas do meu
selo e viu que eu realmente era fã
do grupo. Aceitou receber um
quinto do valor que a gravadora
pedia", conta Lariú. O resultado
foi a coletânea exclusiva para o
Brasil "Premonitions 1989-1991".
Mas o que leva uma banda estrangeira a aceitar um baixo pagamento? "Funciona como um esquema de troca. Eles lançam suas
bandas aqui e nós lançamos nossas bandas lá fora", diz Farinha.
"Eles sabem que não terão lucros monstruosos, mas sabem
que não vão perder nada com isso. Sabem que uma gravadora
grande não se interessaria em lançá-los por aqui", explica Lariú. Já
Eduardo Ramos, 26, da Slag, é enfático: "Só lançamos bandas que
realmente acreditamos e gostamos". Entre elas, estão nomes como Clinic, The Pastels, Nice Man
e a inacreditável banda japonesa
neopsicodélica Maher Shalal
Hash Baz. "São discos para poucos, sei que não vão vender muito", diz Ramos.
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